Audi A3 1.4 é o sedã de luxo mais barato do Brasil; saiba como anda
Há exatamente um mês, a Audi anunciou uma versão "básica" do três-volumes A3 Sedan com motor 1.4 e preço inicial de R$ 94.800. Pois o carro acaba de ser lançado oficialmente e tem preço ligeiramente menor: R$ 94.700. O objetivo da fabricante é claro: vender mais, ainda que isso quebre alguns paradigmas. Por exemplo, se apresentar como um "sedã de luxo" acessível -- na real, o mais barato do Brasil.
OUTROS TEMPOS
Quem aí se lembra do Brasil dos anos 1990, no período seguinte à liberação de importações? O cenário automotivo nacional era dominado pelo que o ex-presidente Fernando Collor de Mello apelidou de "carroças" -- modelos locais bem equipados, além de caros, eram raros. Cenário perfeito para que marcas como as alemãs BMW, Audi e Mercedes-Benz (esta menos, já que apostou também no acessível Classe A) marcassem presença com modelos que apresentavam um "estranho" diferencial: serem completos.
Na ficha técnica, nada de motor pequeno (potência e 0-100 s raso eram primordiais), nem de "botão cego" -- tanto que o já citado Classe A (mais simples) e o Audi A3 nacional (menos potente) ficaram com má fama. Cada carro destinado ao Brasil tinha de ser topo da gama, noção que perdura até os dias atuais.
Noção que teve efeitos colaterais e ajudou a popularizar marcas como Toyota e Honda, para citar dois casos campeões: bem recheados, mas com pacotes mais acessíveis, Corolla e Civic agradaram ao público mais exigente e que também era mais racional com o talão de cheques. A dupla se deu tão bem durante os anos seguintes, que nunca mais deixou a ponta da tabela de vendas.
Voltando a 2014, temos um Brasil com economia estável e pacote de medidas do governo de Dilma Rousseff que exige planos de produção local de automóveis, aumento de tecnologia nacional e reforço de eficiência e segurança para conceder benefícios às montadoras (o chamado programa Inovar-Auto). Quem oferece carro "completão" agora são as marcas chinesas -- e a preço menor. E quem entrega algum "diferencial" são as coreanas. No cenário global, o período é de competitividade total, mesmo entre marcas de luxo.
Tudo isso e mais a necessidade do grupo Volkswagen -- ao qual a Audi pertence -- de se posicionar como líder mundial até 2018 fez acender a luz de alerta: a marca das quatro argolas precisa vender bem, inclusive no Brasil. Ainda que precise abrir mão de equipamentos (!) e pedir revanche contra Corolla e similares.
A RECEITA
Ninguém na Audi gosta de dizer que o A3 Sedan 1.4 é um carro empobrecido. Sequer admitem que o carro é menos equipado. Executivos e engenheiros afirmam apenas que o carro aposta num motor menor, mas de maior eficiência (a receita típica do downsizing), para conseguir oferecer a mesma "experiência Audi a um preço mais acessível".
"Todo Audi tem esportividade no DNA e reafirma isso com [o tempo de aceleração de] 0 a 100 [km/h] em menos de dez segundos", afirma o gerente de produto Gerold Pillekamp. No caso do A3 Sedan 1.4, este tempo é 9,3 s; a velocidade máxima é de 203 km/h.
Responsável pelos números, o trem-de-força é da mesma família do pequeno Audi A1. Com quatro cilindros e movido a gasolina, gera 122 cv de potência (a 5.000 rpm) e tem torque de 20,39 kgfm (linear entre 1.500 e 4.000 giros). Com correia dentada e correção da fase de admissão no comando de válvulas, tem turbo, injeção direta de combustível e sistema start/stop (desliga o motor em paradas) com regeneração de energia (Kers), que atua em frenagens, por exemplo. O gerenciamento é feito pelo câmbio de dupla embreagem e sete marchas S-tronic.
Na cidade, a configuração dá conta da tarefa de mover os 1.200 kg com folga. O motorista consegue boas saídas de semáforos e condução sem qualquer tranco, vacilo ou barulho. Pesa aí também o ótimo trabalho da suspensão independente (McPherson na dianteira, multibraços atrás), apesar de algumas batidas mais secas em buracos. Se este é seu uso primordial, você terá um Audi em sua melhor forma.
O senão está na estrada, como UOL Carros percebeu durante teste de 140 quilômetros: ainda que acelere de forma linear e até rápida (graças ao torque linear e presente logo cedo e ao turbo), o motor é pouco elástico e passa a sensação de que algo está faltando... na real, faltam cavalos para um sprint maior.
Ainda assim, a promessa de eficiência é cumprida: o computador de bordo apontou consumo médio de 14,5 km/l, com esticadas e tudo.
Curiosidade: na Europa, UOL Carros guiou uma versão do A3 1.4 com 140 cv (potência similar à do Golf 7 1.4) e desligamento de dois cilindros em fase de baixas rotações. Questionada sobre a importação, a Audi deixou claro que "não está nos planos justamente pelo preço".
Mas pode ter certeza de que será este o principal motor do futuro A3 a ser fabricado no Brasil: a Volkswagen já deixou claro que prepara uma versão flex do 1.4 (para Jetta e Golf) e não há como não imaginá-lo sob o capô também do Audi, em 2015,
SE CUIDA, COROLLA
Reduzir o motor não bastava para chegar ao preço sub-100. Foi preciso abrir mão de alguns mimos entregues pela super plataforma MQB (a mesma do Golf 7). Saem comandos autônomos (como o controle de cruzeiro adaptativo) e automáticos (do ar condicionado), bem como o revestimento de couro e ajustes elétricos dos bancos. Mas o carro segue bem recheado, ainda que a lista de opcionais cresça, veja:
- Audi A3 Sedan 1.4, de R$ 94.700: direção eletromecânica; ar condicionado analógico (uma zona); rodas aro 16; faróis bixenônio com LED; lanternas de LED; apliques metálicos no interior; parassóis com espelho e luz de cortesia; e sistema multimídia com tela escamoteável de sete polegadas e oito falantes com 80 W. Na segurança, são sete airbags (frontais, de cabeça, laterais de cortina e de joelho para motorista); ganchos isofix para cadeirinhas; freio de estacionamento eletro-eletrônico; frenagem com ABS (antitravamento), EBD (distribuição de força), hill hold (segura o carro por três segundos em aclives) e sistema autônomo pós-colisão (para o carro em caso de batida com disparo dos airbags, se o motorista não reagir); controles eletrônicos de estabilidade (ESP), de tração (ASR) e de bloqueio de diferencial (EDS).
Como opcional, apenas o catálogo de cores metálicas ou perolizadas, a R$ 1.000.
- Audi A3 Sedan 1.4, de R$ 99.900: acrescenta ao pacote anterior volante multifuncional com borboletas de troca de marcha e revestimento de couro; e reforço da central multimídia com interface musical, subwoofer, falante médio e potência sonora total de 180 W.
Como opcionais, além das pinturas especiais, kit conforto (bancos de couro, teto solar panroâmico e sensor de ré) por pesados R$ 10 mil; e kit MMI Plus (interface visual aprimorada, comandos por voz, DVD, leitura de e-mail e SMS, disco rígido de 10 GB e botão sensível ao toque) com navegador por GPS a salgados R$ 9.900, talvez o pacote de navegação mais caro do mundo.
UOL Carros havia afirmado, no lançamento da atual geração do Corolla, que a cara versão Altis (R$ 92.990) poderia perder vendas até mesmo para o Mercedes-Benz Classe C em fim de carreira (a geração nova do sedã alemão chega em breve), mas aquele alemão era de fato bem mais caro que o japonês. Agora, fica claro que adversário é o Audi A3 Sedan no pacote inicial.
Nem estranhamos a ausência de ar-condicionado automático ou com mais zonas de resfriamento, já que o Corolla também não oferece tanto. Esquisito mesmo foi sentar em um Audi sem bancos de couro ou, pior, com assentos mais curtos, nos quais "sobram" joelhos. De resto, a boa pegada do volante e o visual atualizado do painel -- entre o clean e o esportivo, contra o quadradão estilo "anos 90 do Corolla" -- compensam a mancada anterior. Há ainda o soberbo espaço para as pernas do ocupante no banco traseiro, ainda que todos tenham de recolher a cabeça ao entrar por conta do caimento do teto; e o porta-malas de 425 litros bem colocado na traseira curta inspirada na do A7.
Claro, há ainda o Ford Fusion no horizonte, que é mais recheado que ambos e que começa em R$ 98.700, mas essa é outra história.
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