Novo Soul vai encalhar a R$ 88.900 e a Kia sabe disso; leia impressões
Os preços já haviam sido antecipados por UOL Carros, mas faltava ver de perto como ficou a nova geração do Kia Soul. O lançamento ocorreu nesta sexta-feira (29), em Guarulhos (SP), e comprovou na prática aquilo que já se imaginava em teoria: o modelo, que parte de R$ 88.900 na versão de entrada, a EX U.257, e chega a R$ 92.900 na EX U.258, a de topo, encareceu demais pelo que oferece.
Há dois motivos centrais para isso. Primeiramente, a tentativa de reposicioná-lo como um crossover premium -- durante a apresentação, os próprios diretores da marca apontaram Mini Cooper One, Audi A1, Peugeot 3008 e Mercedes-Benz Classe A como concorrentes do Soul.
NÃO VAI VENDER. E A KIA SABE
O segundo motivo é a vontade quase nula de se fazer volume de vendas com esse modelo, que chegou a ter 25.837 unidades emplacadas em 2011. O Soul anterior, que pedia entre R$ 67.900 e R$ 69.900, emplacou média de 490 exemplares ao mês em 2014.
Com a nova geração, a fabricante sul-coreana afirmou que espera comercializar só 400 carros nos cinco meses restantes, uma queda de quase 84%. É uma admissão de que o Soul não vai vender e... tudo bem.
O grande ponto aqui está no Inovar-Auto, que permite à Kia trazer 4.800 veículos do exterior sem os 30% de IPI para importação ao ano. Só este ano vieram 13.617. Assim, qualquer outro que entrar em nossas fronteiras até o fim de 2014 terá a aplicação do tributo.
Oficialmente, entretanto, o discurso não é de "aumento" nos preços, e sim de "atualização". "Do ano passado para cá, a cotação do dólar subiu cerca de 12% e o IPI cobrado sobre a venda também aumentou. Nós ainda não havíamos repassado esses valores ao preço da geração antiga. Além disso, incluímos cerca de R$ 10 mil em novos equipamentos de série que o Soul antigo não tinha", defendeu o presidente da Kia no Brasil, José Luiz Gandini.
O QUE MUDOU
Em relação à geração anterior, o Soul feito sobre nova nova plataforma incorpora direção elétrica progressiva com três modos (Comfort, Normal e Sport); volante multifuncional com novas funções; ar-condicionado digital; piloto automático; indicador de condução econômica; chave com controle remoto; porta-luvas climatizado (ele permite baixar a temperatura para armazenar bebidas geladas); rádio MP3 com tela de toque LCD de 4,3 polegadas; Bluetooth; memória de 800 MB para armazenar arquivos; acendimento automático dos faróis; rodas em liga leve aro 18 polegadas; e luzes diurnas em LED.
Com relação à segurança, são dois airbags laterais e dois de cortina (além dos obrigatórios frontais); cintos de segurança de três pontos nos cinco assentos; e engate para cadeirinhas Isofix. Não há controles de estabilidade ou tração.
A versão de topo acrescenta apenas teto solar e luzes interiores em LED. UOL Carros sentiu falta de equipamentos como navegador por GPS, dos já citados controles de estabilidade e tração, e assistente de partida em subida, essenciais num carro de R$ 90 mil. Nesse valor também caberiam mimos como borboletas para troca manuais das marchas (só é possível fazer isso na própria manopla do câmbio) e sensores de luminosidade e chuva.
Também há várias mudanças estéticas no Soul, que não chegam a tirar sua identidade. Os faróis dianteiros ficaram mais finos, enquanto os de neblina passaram a ser interligados ao nicho da entrada de ar do para-choque frontal, por meio de linhas sutis de contorno. Esse duto, aliás, será o único meio de refrigeração dos componentes abaixo do capô na dianteira, já que a grade superior foi substituída por um aplique fechado em preto piano. Como não é um modelo esportivo, tudo parece estar bem.
A traseira é a parte mais harmoniosa do novo Soul: faixas negras margeiam e invadem o espaço de lanternas, vidro traseiro e tampa do porta-malas (que está maior e passou a invadir o para-choque). As luzes de freio agora estão separadas das de direção e de ré, contornando-as na forma de um "C". Já os refletores foram rebaixados e ganharam formato circular.
Por dentro, os revestimentos em couro de bancos, volante e câmbio receberam uma nada discreta dupla costura, e o espaço está maior: 2 centímetros de comprimento e entre-eixos, e 1,5 cm de largura. Só a altura diminuiu 1 cm, o que não não chega a comprometer a vida de uma pessoa alta. A disposição de borracha, cromado, plásticos e preto piano no painel e portas está equilibrada, e as saídas de ar ganharam desenho mais arrojado (e horizontalizado), com direito a modernos alto-falantes metalizados no topo das saídas laterais.
COMO ANDA
Para UOL Carros, o verdadeiro ponto negativo do novo Soul é o trem-de-força. Seguir com o motor Gamma 1.6, de quatro cilindros e 16 válvulas -- o mesmo do HB20 topo de linha -- é comprometer demais o desempenho. Ele gera 122/128 cavalos de potência (a 6.000 rpm) e 16/16,5 kgfm de torque, respectivamente com gasolina e etanol, e tem que carregar pelo menos 1.392 quilos (o peso do veículo em ordem de marcha). A relação peso-potência, portanto, fica na média de 11 kg/cv, índice fraco para o porte do modelo.
Ganhar velocidade durante o breve test-drive por estradas da região foi exercício sofrível. Era preciso levá-lo a giros muito altos, o que gerava ruídos excessivos e levava o câmbio automático a fazer reduções em demasia a cada pisada um pouco mais forte no acelerador. O uso de rodas aro 18 e com 235 mm de largura também pareceu uma escolha exagerada para a proposta do carro, privilegiando meramente o visual.
O novo Soul tem um desenho diferenciado e chamativo, e o recheio não é ruim. Mas deveria entregar mais: especialmente mais desempenho. Tudo bem que o público-alvo (jovens entre 30 e 45 anos, primordialmente feminino) é de perfil urbano e pensa mais no pacote multimídia que na cavalaria do motor. Ainda assim, R$ 90 mil nos parece dinheiro demais. Ou o Soul, carro de menos.
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