Carro pode ser amigo das bikes e levar até oito de uma vez; veja histórias
UOL Carros participa do Dia Mundial sem Carro e da Semana da Mobilidade mostrando que veículos automotores e meios de transporte em massa e alternativos podem e devem conviver harmoniosamente e até ser "aliados" na busca por um trânsito melhor. Além de comprovar que dá, sim, para viver em grandes cidades sem depender tanto do automóvel, aproveitamos para ampliar o debate sobre a necessidade de se escolher o meio de transporte adequado a cada pessoa, seja público ou privado. E um dos principais, pelo espaço crescente na discussão social e no ambiente das metrópoles, é a bicicleta.
O problema é quando essa discussão extrapola a reflexão sobre benefícios e ganha traços de fanatismo, com simplória polarização entre "defensores do carro" contra "amantes das bikes". Pois vamos dar exemplos e contar histórias que atestam: um modal funciona muito bem complementado o outro e convivência é a resposta-chave de tudo.
TUDO TEM REGRA
A bike em si é um meio de transporte independente e cada vez mais usado -- redescoberto, até -- em grandes centros. Muitos ciclistas, porém, dependem do carro para carregar suas "magrelas", sobretudo quando procuram locais mais afastados para andar ou querem fazer um passeio diferente com a família. Para estes casos, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece algumas regras específicas para o transporte de bicicletas em automóveis e comerciais leves.
Conforme explica o especialista técnico do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) Emerson Farias, o carregamento pode ser feito no teto, traseira, caçamba ou dentro do compartimento de cargas do veículo, desde que obedeça algumas regras. Confira:
- NO TETO
É liberada a inclusão de dispositivos de fixação para carregar as bicicletas em pé (rack de teto, por exemplo), desde que a altura do conjunto (carro e bikes) não ultrapasse 4,40 metros.
- NA TRASEIRA
Permite-se a instalação de suportes conectados ao porta-malas, estepe (em caso de automóveis com pneus reservas para fora, como Citroën Aircross e Ford EcoSport), ou engate, desde que não se supere a largura do carro (contando os retrovisores).
"Também é proibido tampar as luzes de freio, ré e indicadoras de direção, bem como os refletores e a placa", adverte o especialista. Neste último caso, o proprietário pode solicitar uma placa secundária no Detran de seu estado, fixando-a na extremidade do próprio suporte.
- NO INTERIOR
De acordo com o CTB, nenhum passageiro pode ser transportado no mesmo espaço da carga, pois há risco de ser atingido por ela em caso de acidente e agravar as lesões. Por isso, se for necessário rebater os bancos traseiros para encaixar sua bicicleta, mesmo que parcialmente, a capacidade legal de seu automóvel ficará limitada a dois ocupantes (à frente).
DA NECESSIDADE AO IMPROVISO
É claro que escolher a melhor forma de transportar sua bike no carro vai de acordo com as necessidades. UOL Carros conversou com alguns usuários e mostra histórias e soluções interessantes.
A administradora Débora Chiarreotto Oliveira, por exemplo, não quer saber de nenhum dispositivo externo de encaixe. "Com o de teto, eu não conseguiria entrar na garagem do meu prédio; com o traseiro, eu teria que adquirir a placa secundária, então prefiro não ter", esclareceu a administradora, praticante do ciclismo há dois anos.
Para resolver a questão, Débora comprou um Honda Fit, que permite rebatimento integral dos bancos (formando um assoalho plano), e consegue encaixar sua bicicleta com rodas aro 26 polegadas sem precisar desmontá-la. "O único cuidado é deixar sempre o câmbio voltado para cima, para evitar danos", ponderou.
O funcionário público Julio Cesar Silveira foi além: dono de um Fiat Mille, ele removeu de vez os assentos traseiros e improvisou suportes de madeira para prender duas bicicletas em pé, desmontadas. O compacto veterano chegou a levar bem mais bikes do que isso em alguns momentos.
"Já cheguei a carregar oito de uma vez, usando um suporte de teto para quatro e outro traseiro para duas", relatou Silveira, apaixonado pelas bicicletas "desde que nasceu". Já o comerciante Luiz Salvador Roberto, ciclista por hobby há oito anos -- e que fundou, há quatro, o grupo Pedal Vila Madalena, em São Paulo (SP) --, tem um Chevrolet Vectra, que, por ser um sedã, dificulta a colocação das "magrelinhas" através do porta-malas. Por isso, preferiu fixar dois suportes na parte de cima do carro. O difícil é lembrar que, nessa configuração, é preciso redobrar o cuidado.
"Você fica habituado a passar por determinados locais e esquece que tem uma bicicleta lá em cima. Eu, felizmente, só bati em alguns galhos, e nunca danifiquei nada, mas já ouvi muita história de gente que bateu entrando na garagem, ou locais do tipo, e detonou bicicleta e carro", comentou. OLHO VIVO
Foi um incidente desses que fez Julio Cesar Silveira desistir dos suportes externos. Em 2013, o funcionário público andava com uma bicicleta no teto de seu Mille à 1h30 da madrugada, na região do largo de Pinheiros, na capital paulista, e bateu em um fio de telefonia que estava parcialmente solto entre dois postes. "Chamei a CET (companhia de trânsito da cidade) e dois policiais que passavam por ali, mas ninguém me ajudou. Fiquei quase três horas e meia parado tentando resolver a situação", relembrou.
Para não ficar no prejuízo, Silveira tirou fotos do acidente com o celular e as usou como provas para processar a companhia telefônica e também a Eletropaulo, responsável por alugar e fiscalizar o uso desse tipo de cabeamento. Ganhou R$ 1.700 para ressarcir as perdas e mais R$ 5 mil de indenização.
Além das restrições de locomoção, é preciso também ficar atento a golpes e assaltos. "Bike transportada do lado de fora do carro chama atenção. Conheço gente que já foi roubada em plena Marginal Pinheiros, com o veículo em movimento. O ladrão passa de moto e sinaliza que a bicicleta está caindo; quando o motorista estaciona para verificar, vem a voz de assalto", alertou o organizador do Pedal Vila Madalena. MERCADO PROMISSOR
Apesar dos problemas, a procura por suportes externos vem crescendo nos últimos tempos, atraindo novos investidores. Rodrigo Toffanello, gerente comercial da loja de artigos esportivos Kanui, contou a UOL Carros que sua empresa decidiu trabalhar com bicicletas no início de 2013, ao enxergar bom potencial no segmento. Segundo ele, do ano passado para cá as vendas já subiram 20%.
Toffanello também revelou que, em sua rede, os dispositivos para teto são os mais procurados, algo cada vez mais comum nas cidades em que a estrutura de ciclovias e ciclofaixas é mais precária. "Em São Paulo, que está adquirindo essa cultura só agora, nós vendemos muito mais suportes que no Rio de Janeiro (RJ), onde há uma malha mais desenvolvida", comparou.
"Na medida em que o número de ciclovias aumenta, a tendência é que as vendas de suportes caiam, porque aí o ciclista pode sair de sua casa e chegar ao destino final usando só a bicicleta, sem precisar de um carro para transportá-la", analisou.
De fato, o caminho para tempos melhores, com espaço democrático e seguro para todos, começa a ser pavimentado.
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