Salão de Paris teve recorde modesto de público; interação é lição final
Apesar dos efeitos ainda perceptíveis da crise econômica, que derrubou até o interesse por carros nos últimos anos, a organização do Salão de Paris classificou como "excelente" o total de 1.253.513 pessoas que visitaram o parque de exposições do Porte de Versailles para a edição deste ano, encerrada no domingo (19).
Segundo o parceiro Carpress, a alta de público em relação ao evento de 2012 foi de apenas 1,79%. Naquele ano, o total de visitantes foi de 1.231.416. Mas alta é alta e sempre será celebrada, sobretudo no contexto atual.
Enquanto a indústria automotiva da Europa tenta ter seu primeiro ano fora do vermelho desde 2008, ainda que a alta taxa de desemprego no Continente barre planos mais ambiciosos, eventos como salões buscam se aproximar cada vez mais da demanda real do público.
Esta edição do Salão de Paris serve como exemplo preciso, a começar da iniciativa de cobrar entradas mais baratas que os 14 euros (equivalente a R$ 44) do ingresso cheio. Pessoas mais jovens (entre 10 e 25 anos) pagaram 8 euros (cerca de R$ 24) e famílias (adulto acompanhado de uma ou duas crianças) também tiveram desconto nas entradas. É uma iniciativa louvável e que poderia ser adotada também em São Paulo. Por aqui, temos o respeito à Lei da Meia-entrada e ingressos para grupo, que já se esgotaram, mas nenhum viés de atração de um público renovado ou de famílias.
Há ainda a presença na web e redes sociais: segundo os organizadores, a página oficial do salão teve mais de 8,2 milhões de page views; o perfil oficial no Facebook teve 47 mil curtidas, o que bateria o de feiras "rivais", como os salões de Frankfurt, Detroit e Genebra, ainda de acordo com a organização.
MENOS LANÇAMENTOS, MAIS INTERAÇÃO
Numa análise fria, o Salão de Paris 2014 mostrou um número menor de novidades -- lançamentos. Já que menos pessoas estão comprando, é natural que a indústria tenda a racionalizar sua linha de produtos, ainda que isso seja frustrante para quem quer ver carro inédito. Por outro lado, cada uma dos lançamentos tentou se conectar mais ao. A ideia é recuperar terreno perdido entre as novas gerações.
Assim, as montadoras centraram seus esforços no que realmente atrai o público: as marcas de luxo mostraram carros topo de gama que tendem a ter preços cada vez maiores, já que o público com conta bancária gorda não deixou de comprar, pelo contrário. Foi o caso de Bugatti, Ferrari, Lamborghini e Rolls-Royce.
A Lamborghini, por exemplo, apostou em seu primeiro modelo silencioso: o Asterion é um conceito de híbrido plug-in (as baterias podem ser recarregadas na tomada), que lembra o clássico Miúra, mas que pode alcançar até 910 cv e fazer o 0-100 km/h em apenas 3 segundos. Difícil dizer quanto custaria, mas fácil imaginar que estaria no topo da gama da marca.
Marcas generalistas decidiram apostar na diversificação, seja de plataformas (o que reduz o custo de produção), seja de ideias (o que pode servir de isca a pessoas que não pensariam, ou deixaram de pensar, em carros). É adequação ao gosto do público com dinheiro mais curto.
Pode-se tomar o exemplo do grupo Fiat-Chrysler, que apostou tudo na apresentação de dois carros que usam a mesma base e mesmas soluções técnicas, mas servem a perfis diferentes de comprador. O Fiat 500X tem pretensão totalmente urbana, chegando a ser mais feminino; o Jeep Renegade é quadradão, mais robusto e vai atrair mais homens e pessoas com ideal aventureiro.
Economizar recursos foi a lição de casa passada pelo governo francês às fabricantes do país. Peugeot, Citroën e Renault passaram com louvor, ao menos em termos conceituais. As duas primeiras, que formam a aliança PSA, apresentaram soluções que rodam com motores pequenos a gasolina unidos a cilindros de ar comprimido para ter autonomia de até 50 km/l -- o Citroën C4 Cactus Airflow Concept usa até tecnologia de avião para cumprir os termos. No caso da Renault, o híbrido combustão-elétrico Eolab propõe façanha maior: 100 km/l com tecnologia refinada de iluminação e visual, equipamentos e redução de peso.
Para recuperar o interesse do consumidor jovem, teve até quem apostasse naquilo que faz sucesso atualmente: celebridade e internet/conectividade. Volvo, Mercedes, Opel, entre outras marcas, tentaram se conectar desta forma. Outras ainda brincaram com o visitante do estande (Lexus, Volvo, Land Rover). A Volvo escalou Ibrahimovic (meia do Paris Saint-Germain e da seleção sueca); a Audi contra-atacou com o alemão Mario Götze; a Opel foi de Claudia Schiffer; a Lexus, de Will.i.am.
No fim, todas as ideias -- ainda que diferentes -- tentaram convencer um público abalado pela crise de que ter carro ainda é legal.
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