Topo

Cinco anos após "invasão", carros chineses tentam ressurgir no Brasil

Sérgio Habib, representante oficial da JAC no Brasil - Eduardo Anizelli/Folhapress
Sérgio Habib, representante oficial da JAC no Brasil Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Leonardo Felix

Do UOL, em Pequim (China) e São Paulo (SP)

12/05/2016 08h00

Se a forte queda do mercado brasileiro nos últimos dois anos afetou a todos, provavelmente as marcas que mais se deram mal no processo foram as chinesas.

Cinco anos após chegada com estrondo e carros "completões", a JAC se perdeu nos próprios erros (de estratégia e gestão), ficando sem aporte oficial.

A Chery inaugurou sua fábrica com um produto do segmento mais turbulento do momento, o de hatches compactos.

Geely GC2 - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Trazida ao Brasil em 2014 por José Luiz Gandini, também representante da Kia, Geely não segurou o rojão e já foi embora
Imagem: Murilo Góes/UOL
Já a Geely, novata entre as marcas, viveu a situação mais dramática: devido aos índices pífios de vendas, deixou o país

Números interessantes, só os da Lifan: as vendas seguem estáveis graças ao X60 e ao caminhãozinho Foison, ainda que sem perspectivas de expansão a curto prazo. 

Tamanha instabilidade se reflete em números. De janeiro a abril deste ano, o volume de emplacamentos das três chinesas sobreviventes, somadas, não alcança 1% de fatia do mercado. Só a Lifan consta entre as 20 montadoras mais vendidas, ainda assim com tímida participação de 0,21% (1.313 carros).

Devido às dificuldades, a JAC já confirmou que sequer vai participar do Salão de São Paulo 2016. A Chery demorou, mas confirmou presença, enquanto a Lifan ainda não definiu se estará ou não presente. Estima-se que é preciso desembolsar pelo menos R$ 1,5 milhão para ter um estande no evento. 

Uma atrapalha a outra

Para Luiz Zanini, diretor de marketing da Lifan, a queda da JAC e o fato de a fábrica da Chery em Jacareí (SP) ainda não ter engrenado acabaram atrapalhando a evolução de sua própria marca no país, numa espécie de ciclo em que o insucesso de uma ajuda a afundar as demais.

"Apesar do clima de concorrência, para nós foi ruim ver as outras chinesas encolherem, pois isso atrapalhou nossa evolução e consolidação não apenas junto aos consumidores, mas também em relação a bancos, financeiras, redes de concessionárias e outros setores que influenciam no negócio", avaliou.

Luis Curi, vice-presidente executivo da Chery no Brasil, concordou "em boa parte" com a fala de Zanini, mas fez ponderações.

"No atual estágio o que ele diz faz sentido, porque o mercado ainda não tem muito claro quem é quem, e acaba coloca todos numa mesma cesta", disse.

"Porém, ao longo do tempo as pessoas acabam entendendo as características de cada marca e sabem em quem confiar. Esse processo já ocorreu com as marcas europeias, depois com as japonesas e as coreanas", seguiu.

Já Sérgio Habib, representante oficial da JAC no país, acredita que os carros chineses já superaram essa fase.

"Não vejo mais o estigma das marcas chinesas como se fossem classe única. O consumidor já se acostumou a diferenciar marca a marca. A JAC é percebida, hoje, como a JAC", defendeu.

Independência

Se as chinesas caíram juntas, cada uma quer se levantar com as próprias pernas, sem depender das conterrâneas. "Vamos seguir apostando na formação de uma rede sólida, com bom pós-venda e sem grandes malabarismos", antecipou Zanini, da Lifan.

Na visão de Curi, o grande trunfo da Chery está em ser a única que já possui fábrica local. "Hoje ainda não há essa dissociação entre as marcas chinesas. Nossa briga é descolar desse estigma e nos consolidarmos como uma marca brasileira", analisou.

"O planejamento das ambições de cada marca é algo absolutamente particular. É óbvio que trocamos informações, mas cada empresa atua de uma forma e tentar generalizar essa ação, mesmo em um mercado em crise, é um erro", acrescentou Habib, da JAC.