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Honda Fit é "inquebrável" ou "carro de quem odeia dirigir"? Donos avaliam

Karina Craveiro

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

28/06/2017 04h00

Com 15 anos de mercado, modelo segue absoluto em seu nicho... mas precisa ficar de olho no "irmão" WR-V

Os inimigos do Fit estão por todos os lados, mas nada faz esse Honda se abalar. Nem mesmo ser um hatch vendido como monovolume no Brasil: depois de três gerações e quase 15 anos de mercado nacional, ele se mostra impávido nas vendas mês a mês. Em março, abril e maio foram contabilizadas 2.432, 1.846 e 2.068 unidades, respectivamente, segundo dados da Fenabrave (associação dos concessionários).

Nem mesmo a chegada de um concorrente dentro de casa parece mudar muito seu destino. O WR-V é mais parrudo e cheio de peças cromadas, mas o Fit se mantém, ao menos por enquanto, na boca do povo e nas revendas.

"Eu nunca vi alguém falar mal do carro. Todos os modelos, desde um 2003 a um 2017, têm procura. Posso arriscar que é um dos carros com maior liquidez do mercado, todo revendedor quer ter uma unidade em sua loja para fazer negócio, porque a venda é rápida. Também é um carro que soube envelhecer bem", opina Rafael Spitaletti, consultor automotivo da Car Hunter's.

O especialista destaca ainda que o Fit é um carro para quem não quer "dor de cabeça":

Brinco que ele é um modelo para quem não gosta de dirigir. Quem o tem o encara basicamente como meio de transporte. É uma pessoa racional, que procura espaço interno e calcula o quanto o carro custa ao final do ano. Sinceramente, não conheço nenhum dono de Fit que seja apaixonado por carro. Seus proprietários não ligam para informações como tempo de retomada ou aceleração.

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Honda Fit 2005 - Divulgação - Divulgação
Honda Fit chegou a ter versão com pacote visual esportivo no Brasil: foi em 2005, quando surgiu a série S
Imagem: Divulgação

Entre donos, só elogios

Ao longo dos anos o Fit passou por várias mudanças. Ofereceu motor 1.4 a gasolina de 80 cv; 1.5 a gasolina de 105 cv; 1.4 flexível de 83/80 cv; 1.5 flexível de 116/115 cv. E câmbio automático de cinco marchas, depois CVT. Ganhou da série especial S, com pacote visual esportivo, até a pseudo-aventureira Twist.

A credibilidade da Honda impulsiona, mas fato é que o Fit sempre esteve nas ruas por ser um modelo moderninho, versátil e com vocação urbana. A geração atual, por exemplo, tem nota A-A (no geral e no segmento) em consumo no Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro. Em segurança, marcou cinco estrelas para adultos e quatro para crianças na avaliação do Latin NCAP. Em resumo: é um aluno exemplar.

Entre os proprietários, os adjetivos positivos são constantes. "Espaço e design são ótimos, e é um carro que quase não me dá trabalho", diz o advogado Pedro Bento, de São Paulo (SP), que elege a segunda geração oferecida no Brasil, a partir de 2009, como a mais bonita. "Comprei ele zero-quilômetro e não troco. Pretendo usá-lo até que se acabe", exagera.

Na família da aposentada Lenita Facury, também da capital paulista, o Fit já virou tradição -- ela está na terceira unidade:

É um carro muito versátil, confortável e com porta-malas grande. Ao mesmo tempo consegue ser prático para estacionar e tem visibilidade muito boa. É muito econômico também, então vale a pena. Não trocamos por nenhum outro."

Inquebrável? Nem tanto

Quando o assunto é mecânica, várias particularidades aparecem. A fama é de que os carros da Honda são "inquebráveis", mas Felipe Miranda Fernandes, técnico da H-Office (oficina especializada em veículos da marca), reporta alguns problemas crônicos apresentados especialmente pela primeira geração (2003 a 2009).

Buchas e bandejas de suspensão estouram mais rápido do que a média. Ignição apresenta cortes constantes, porque as bobinas ficam muito próximas ao coletor de escape e acabam esquentando demais. Há ainda relatos de "patinação" do câmbio, já que o fluido perde viscosidade e gera desgaste prematuro do componente.

O espaço para realizar a manutenção do modelo é outra reclamação. "É preciso retirar um para-choque para trocar um radiador. Também são ruins os acessos ao motor de arranque e ao alternador", aponta o profissional.

Pedro Bento e Lenita Facury, os proprietários ouvidos por UOL Carros, disseram que jamais tiveram problemas mecânicos com o Fit, mas apontaram alguns... "defeitinhos": 

"A suspensão não segura o tranco em uma cidade como São Paulo, poderia ser melhor", resume o advogado. "Como não é um modelo popular, poderia ter um apoio de braço para o motorista, não é?", sugere a aposentada.

Honda WR-V - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Nem mesmo a chegada de um concorrente dentro de casa, como o WR-V, parece mudar o destino do Fit: o "irmão aventureiro" é mais parrudo e cheio de peças cromadas, e isso mantém o Fit na boca do povo e nas revendas
Imagem: Murilo Góes/UOL

Fit contra WR-V

Nas concessionárias da Honda em São Paulo os vendedores não fogem do assunto quando a reportagem diz que está em dúvida entre Fit e WR-V. Na tabela de preços, Fit EXL (topo de linha) custa R$ 78.900, enquanto WR-V EX tem preço inicial sugerido de R$ 79.400. Ambos são equipados com motor 1.5 flex e câmbio CVT.

Claro que o mais novo membro da gama da montadora japonesa tem itens extras, como suspensões incrementadas com amortecedores de batente hidráulico e diâmetro de cilindro reforçado (olha aí, Pedro!), barra estabilizadora mais robusta para minimizar a rolagem da carroceria e altura do solo elevada em 1,8 cm. Em termos de equipamento, a mais que o Fit, WR-V tem faróis com luzes de uso diurno (DRL) e central multimídia sensível ao toque (esta apenas na versão EXL).

Bem treinados, os funcionários falam abertamente que ambos têm mesmas especificações técnicas, explicam principais diferenças entre os dois carros e confessam que muita gente chega à concessionária com a mesma questão. "A senhora tem que andar nos dois carros e decidir qual o melhor para o seu dia a dia e o seu bolso também. É o que digo para todo mundo", diz um vendedor de uma autorizada da zona sul de São Paulo, que não quis se identificar.

Proprietários do Fit se dividem sobre a chegada do WR-V. "Nunca o dirigi, mas vi o comercial de lançamento. Acho que se trata de maquiagem. Prefiro o meu velhinho", diz Pedro Bento. "Lembro que quando vi o HR-V fiquei apaixonada pelo carro, mas achei caro para mim. Esse WR-V ainda não conheço. Gostaria de conhecer. Adoro novos modelos, sempre fui curiosa quando o assunto é carro", aponta Lenita Facury.

Em comunicado oficial a Honda afirma que "a chegada do WR-V preencheu uma lacuna, oferecendo benefícios que vão ao encontro das necessidades dos consumidores, e que acredita que o WR-V atende a um público distinto do Fit, não impactando diretamente nas vendas do modelo mais barato". A marca ainda aponta que "as vendas do Fit e do HR-V continuam estáveis”.