Saudosista, "Carros 3" tem personagens que contam a história da Stock Car
Ultrapassado, Relâmpago McQueen vai buscar ajuda na história da clássica corrida norte-americana em novo episódio da franquia
Relâmpago McQueen, personagem principal da franquia "Carros", da Pixar, ficou velho. E como todo mundo que envelhece, ele só se dá conta disso quando vê uma nova geração vencendo-o, literalmente, em seu próprio jogo: a pista de corrida.
Deprimido e desolado, vai buscar ajuda em seu passado. Mais precisamente, entre aqueles que o inspiraram a ser quem ele é. E nesta jornada de volta à sua história, encontra personagens que foram inspirados nas pessoas reais que fizeram a história da Stock Car nos Estados Unidos.
Nesta viagem, McQueen acha seu mentor, Doc Hudson -- dublado no filme de 2006 pelo ator Paul Newman --, que foi criado em homenagem ao legendário Hudson Hornet, fabricado de 1950 a 1957 e grande estrela das corridas em Daytona Beach, o primeiro circuito oficial da competição.
Mas a história da Stock Car começou por meio da contravenção. Na época da lei seca, os chamados "moonshiners" eram os responsáveis por transportar bebidas ilegalmente, de preferência durante a noite, às escuras, em estradas de terra esburacadas, tendo apenas o brilho da lua para os guiar -- daí o nome.
Tunados
Para que seu serviço fosse bem feito, eles levavam seus carros aos "bootleggers", que, na linguagem de hoje, "tunavam" seus Chevrolet para que resistissem ao peso da valiosa carga que levavam e, especialmente, pudessem ser mais rápidos do que os carros da polícia.
"Os carros também tinham que ser adaptados às estradas clandestinas, não asfaltadas. Mas eles, no entanto, pareciam normais pelo lado de fora", conta Ray Evernham, ex-chefe de equipe da Hendrick Motorsports, que serviu de consultor para a Pixar durante a elaboração do novo roteiro.
Como só trabalho sem diversão não deixa ninguém satisfeito, logo os motoristas que transportavam tais "produtos" começaram a perceber que eram muito habilidosos na direção. A partir daí passaram a tornar aquilo uma competição de egos que daria origem à competição esportiva.
"Quando se coloca homem e máquina juntos a competição começa. Eles começaram a se desafiar sobre quem pilotava melhor, quem era o melhor mecânico. E começou que um grupo de 'moonshiners' da Geórgia começou a desafiar um grupo da Carolina do Norte. Como não havia pistas, eles se reuniam em um campo aberto e corriam em círculos. De repente muita gente começou a se juntar para assistir, colocaram cercas e começaram a cobrar entradas. Até que um cara chamado Bill France resolveu organizar a competição e juntar todos. Isto foi, em 1948, o nascimento da Nascar [National Association for Stock Car Auto Racing]”, relata o diretor criativo da Pixar, Jay Ward.
O hoje famoso circuito de Daytona Beach, na Flórida, também nasceu no meio dessa história, já que os primeiros pilotos corriam em pista circular, com uma milha de largura medida ao amanhecer quando a maré baixava, nas areias de Daytona. Imagens originais da época foram inseridas em "Carros 3" e mostram a pista que era metade areia e metade asfalto.
Heróis póstumos
Mas quem foram as estrelas da Stock Car que deram origens aos outros personagens da animação? Por incrível que pareça, uma delas era um macaco. Jacko Flocko, no desenho, é o caminhão que carrega os carros de corrida, mas seu nome vem do "co-piloto" de Tim Flock. Ele carregava Jacko Flocko em seu carro como uma tática para vencer a corrida, já que muitos pilotos desavisados se assustavam com o macaco e acabavam abrindo espaço para o piloto.
Outro que fez história nas corridas da Nascar foi Junior Johnson. Seu pai era um "moonshiner" e ele era um "bootlegger" que acabou preso e, após sair da cadeia, se tornou um dos campeões da categoria. Como está vivo, no filme aparece fazendo a voz original de seu personagem, Junior "Midnight" Moon.
A luta contra o racismo
Nem todas histórias da Nascar, porém, são dignas de celebração, apesar do heroísmo que há por trás delas. Tomemos o caso de Wendell Scott. Nas palavras de Ray Evernham, "grande piloto e grande mecânico que fez mais que qualquer um na história da Nascar".
"Ele era afro-americano e lutou obviamente contra o racismo no sul dos EUA entre os anos 1950 e 1960. Venceu uma das corridas mais difíceis e não pode nem sequer levantar seu próprio troféu porque os organizadores não queriam um negro segurando o troféu de um branco", conta Evernham.
Apenas em 2015 ele foi eleito para o Hall da Fama da Stock. Evernham afirma que Scott nunca teve ajuda de ninguém, pois tinha que fazer seu próprio pit stop, trocar seus pneus e reabastecer sozinho. E não era só isso: ele carregava um pote de frango frito pra comer dentro do carro, durante as corridas, porque não tinha tempo de fazer isso como os outros pilotos, que tinham equipes os acompanhando.
No filme, ele se torna River Scott.
Assim como o primeiro negro, a primeira mulher a competir e vencer na Nascar também ganhou sua personagem. Louise Smith, que no filme vira Louise "Barnstormer" Nash, competiu de 1945 a 1956, vencendo 38 vezes em quatro divisões diferentes.
Sua história com a corrida renderia uma boa DR. Após dirigir da Carolina do Sul até Daytona para ver as corridas, Louise não gostou de ter que ficar atrás da cerca que separava a multidão da pista. Ela então pegou o Ford cupê do marido sem avisar e correu tanto que acabou estraçalhando o carro. Depois, pegou um ônibus, voltou para casa e inventou uma mentira para justificar o desaparecimento do veículo. No dia seguinte, a mentira foi revelada quando ela e o marido viram a foto de seu carro em pedaços nas páginas do jornal.
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