Onix e HB20 já entregaram mais de 1 milhão e agradam até no pós-venda
Há cinco anos, dois modelos iniciaram uma mudança no mercado brasileiro de carros de passeio. As propostas eram semelhantes -- hatches compactos inéditos, com o diferencial de serem mais equipados que os existentes, depois evoluindo para uma família de modelos pequenos. As datas de chegada, também: foram apresentados na época do Salão do Automóvel de São Paulo de 2012, um sendo mostrado um pouco antes, outro no decorrer da feira (entre o final de outubro e a segunda semana de novembro), com estreia nas lojas ocorrendo na sequência. Em pouco mais de duas temporadas, com altos e baixos, Hyundai HB20 e Chevrolet Onix desbancaram os concorrentes, incluindo o então todo-poderoso Volkswagen Gol e o variado Fiat Palio. Esta semana, UOL Carros publica série lembrando essa pequena revolução.
Este terceiro texto é dos jornalistas Fernando Miragaya e Alessandro Reis, colaboradores no Rio e em São Paulo.
Veja mais
+ Parte 1: Onix e HB20 decretaram fim da "era dos pelados"
+ Parte 2: câmbio, motor e multimídia foram trunfos de Onix e HB20
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Em 2012, quando Hyundai HB20 e Chevrolet Onix surgiram, o mercado de carros era liderado por Volkswagen Gol, que fechou aquela temporada com 293.293 unidades, seguido pelos Fiat Uno (255.838) e Palio (186.384). Claro, era outro momento, com vendas na casa dos 3,6 milhões.
Ainda assim, ambos desbancaram os rivais, assumiram a ponta e ditaram nova ordem: em 2016, o Chevrolet Onix foi líder pelo segundo ano seguido com 153.363 unidades, tendo o HB20 como vice (121.627). Em 2017, de janeiro a outubro, o hatch da GM já entregou 152.538 unidades e deve assegurar mais um "campeonato", enquanto o HB20 entregou 88.242 unidades, escorregando no pódio e com risco de perder a medalha de prata para o Ford Ka.
De toda forma, apesar da retração do mercado (para pouco mais de 2 milhões de carros/ano), pode-se dizer que ambos dominaram a cena nos últimos cinco anos: foram 723.145 vendas para o Onix e 569.363 para HB20 -- quase 1,3 milhão de unidades somadas.
Como conseguiram mudar mentes e atrair de vez os compradores?
"É nítido que modelos até então dominantes perderam espaço para mais novos. Isto reflete um novo comportamento de compras. Modelos tradicionais como Palio e Gol não atraem estes novos compradores mesmo que tenham passado por facelifts, tentando maquiar plataformas antigas sem tantos atrativos tecnológicos", afirma Rafael Abe, especialista da Jato Dynamics, que analisa mercados de automóveis em todo o mundo.
Abe aponta ainda que inclusão de novas tecnologias, design mais atraente ("até então exclusivo de modelos mais caros e luxuosos") e percepção de ar "superior", características introduzidas por HB20 e Onix, "resultaram nas mudanças observadas no ranking de vendas."
Na boca do povo
Com isso, não foi difícil encontrar proprietários dispostos a falar sobre os modelos. Gente que não conteve a ansiedade de ter uma das novidades na garagem e que, curiosamente, chegou a cogitar levar o rival.
Ninguém foi mais ansioso que Rodrigo Pessotti Maia. O analista de business intelligence foi o primeirão -- isso mesmo, o primeiro -- comprador do HB20. Levou para casa uma versão Comfort Style Plus 1.0 no lançamento.
"Eu tinha ideia que de era um dos primeiros compradores, mas não o primeiro. Minha nota fiscal foi emitida à 0h18 do dia 10 de outubro de 2012, dezoito minutos após a liberação da venda do carro. Foi até uma surpresa para mim, pois não achei que seria faturado na madrugada", afirma o capixaba de 28 anos.
Maia soube que foi o primeiro comprador recentemente, através da própria Hyundai. E com bônus: a fabricante entrou em contato para lhe dar um novo carro, como reconhecimento. A ação de entrega do HB20 Comfort Style Edição Comemorativa de 5 anos está em vídeo promocional que a marca veicula atualmente.
Apesar da "pressa", Maia diz que a compra do primeiro HB20 foi o mais racional possível: "Analisei todos os quesitos que achava importantes. Conforto, espaço interno, motorização e design. O HB20 me chamou mais atenção: era, de longe, o mais completo entre os modelos na faixa de preço que estava procurando", explica.
Mas de onde tirou as informações, se o carro não existia? "Só tinhas as informações de sites de carro. Pelo que tinha lido, inclusive em UOL Carros, só ouvi falar bem. Confiei nas críticas, matérias e fotos e comprei sem olhar nem fazer test drive. Deu aquele frio na barriga, mas não me arrependo", revela.
Ricardo Bulhões dos Santos, gerente de suporte ao cliente de uma multinacional em São Paulo, esperou um pouco mais. Só um pouco: um mês após o lançamento do Onix ele já estava com a chave do compacto em mãos. Curiosamente, ficou dividido justamente entre as duas novidades da época -- o HB20 nunca deixou de ser uma opção.
"Tinha um Corsa 1.8 e queria algo mais moderno. Inicialmente, gostei bastante do HB20, apesar de achá-lo um pouco pequeno, mas toda a imprensa falava bem. Porém, fiquei na expectativa do Onix. Pesquisei bem, vi que o motor não era tão potente, porém era mais barato e os outros benefícios sobressaíram", afirma.
Santos foi seduzido principalmente pelo apelo da conectividade do Onix: "Como trabalho com tecnologia e vi aquela central multimídia MyLink, impensável em um hatch compacto na época, me apaixonei". Tanto é assim, que trocou o Onix LTZ 1.4 inicial por outro 2014/15, só que com câmbio automático.
E os contras?
Leonardo Simões, estudante de arquitetura, preteriu um Onix em suas pesquisas por conta do acabamento mais simples. Rodou durante um mês com o hatch da Chevrolet alugado por uma seguradora após sofrer um acidente com seu antigo carro. Após a experiência, optou pelo HB20 Comfort 1.0: "Tirei o Onix das opções pelo preço e interior. Ele vinha muito pelado para a faixa de preço que estava disposto a pagar. Minha mãe já tinha um HB20X e gostei bastante pelo conforto e design", explica.
Quem é dono de HB20 também reconhece pontos fracos do compacto frente à concorrência. A primeira leva recebeu muitas críticas da suspensão, principalmente da traseira, considerada muito baixa e mole, mudança que Rodrigo Pessotti já percebe no modelo "novo".
Além da suspensão, Leonardo Simões não hesita em listar outras pequenas falhas do projeto a serem corrigidas. "A regulagem do banco, por exemplo. Eu arrumaria urgente porque aquilo não funciona. Um terceiro encosto de cabeça também é aconselhável, o para-sol do passageiro não tem espelho na versão Comfort, que também não vem com chave canivete", cita.
Ajuste de altura do banco também é um ponto a ser considerado no Onix, segundo o designer gráfico Vanderson Fonseca: "Poderia ser melhor, não por estágios pré-definidos, mas como o do Volkswagen Fox, com sistema de alavanca em que o banco sobe e desce. Além disso, a versão LTZ poderia ter um acabamento mais sofisticado."
Fonseca também faz críticas quanto ao MyLink no que diz respeito à compatibilidade: "Funciona melhor no Android e eu tenho iPhone. Então, não consigo espelhar o Waze, por exemplo", lamenta. Vale dizer, porém, que a "falha" é do próprio sistema Apple Carplay, não do sistema multimídia da Chevrolet.
Pós-venda campeão
De toda forma, sobram elogios ao pós-venda de ambas marcas. Ricardo Bulhões escolheu o Onix pela tradição e também rede ampla da Chevrolet no Brasil (quase o triplo em relação à Hyundai, à época). "Tinha um carro da GM e uma das preocupações com o HB20 era justamente em relação ao suporte e infraestrutura, já que a Chevrolet já tinha uma quantidade de concessionárias estabelecida", aponta.
No caso dos adeptos do HB20, a garantia de cinco anos se tornou diferencial fundamental e ponto de valorização do carro após anos de uso -- ainda hoje, boa parte dos rivais só oferece três anos. "Aqui em casa costuma-se trocar carro de três em três anos, então, na revenda, isso é importante e foi levado em consideração", pondera Leonardo Simões.
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