"Esse carro é meu bebê": UOL Carros revela como surgiu o estilo do JAC T40
"Especial - Como nasce o carro, capítulo 4": como se negociam e se criam cara, acabamento e detalhes do carro
"Que bonito esse carro". É pensando nessa afirmativa que os projetistas de qualquer fabricante passam meses (às vezes anos) definindo quais serão os traços de um novo modelo. Engana-se, no entanto, quem acredita que a "cara" de um automóvel é definida pelo gosto livre de seu designer. O modelo precisa ser concebido de acordo com parâmetros pré-estabelecidos de dimensões e, claro, seguir uma identidade visual inerente a cada marca.
Se preço, tecnologia, prazo e ferramental disponível podem definir o desenvolvimento de um projeto, conforme já explicamos nas três primeiras reportagens do especial "Como nasce um carro", o grande temor de um desenhista é que seu trabalho seja frustrado por uma dessas variáveis. Quando ocorre, resta a frustração, como aconteceu no famoso caso do Chevrolet Agile -- que saiu do harmonioso conceito GPix para virar um carro de linhas totalmente desproporcionais e que ficou apenas quatro anos no mercado (incluindo o facelift).
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Mudança de hábito
Para explicar melhor a concepção de design na criação de um carro, UOL Carros conversou com Sérgio Habib. Ele não é designer, mas um executivo: presidente do grupo SHC, passou de dono de concessionários a importador e representante oficial da JAC no Brasil, em 2011. O projeto da marca chinesa para o país era enorme e Habib ganhou espécie de "super poderes" para tocar os rumos do braço local.
Passados seis anos, a crise econômica e a mão pesada do "super-IPI" para carros importados, obstáculos que barraram o projeto inicial de construção de uma fábrica no Brasil e, consequentemente, a expansão natural da JAC e de sua família de carros, Habib depositou boa parte de suas fichas no projeto do T40. É com este crossover que a marca quer mostrar ainda estar viva. O modelo foi totalmente pensado e encomendado por Habib para cair como uma luva ao gosto do comprador local.
"Foi um carro criado por e para brasileiros, priorizando o que o público daqui gosta: visual, porte, espaço interno, porta-malas grande, bom acabamento e conforto. Como boa parte de nossa população não tem tanto poder aquisitivo, um mesmo veículo tem que servir para todas as demandas. Essa foi a nossa proposta", afirma.
A ideia de desenvolver o T40 surgiu lá mesmo em 2011, junto à estreia, antes da crise. Mas ele nem era um crossover: o cronograma original previa que o modelo seria lançado em 2015, já com produção local em Camaçari (BA), como a segunda geração do hatch J3. COmo tudo mudou, a forma e a importância do projeto também foram transformadas.
"Eu pago, eu decido"
Habib investiu US$ 22 milhões (cerca de R$ 70 milhões) para "comprar" o design e definir todos os parâmetros dimensionais e de acabamento do antigo projeto do J3 de segunda geração -- depois transformado em T40.
"Como quem paga a conta é quem decide, e eu queria que nós e não os chineses definíssemos o que seria esse carro, então achei melhor que eu mesmo arcasse com esse custo", relata. Já o desenvolvimento mecânico -- que é a parte mais ampla e cara do projeto -- foi obviamente bancado pela própria JAC.
Durante os anos de 2012 e 2013 o presidente do grupo SHC -- acompanhado de uma pequena comitiva escolhida a dedo -- fez viagens regulares à China para acompanhar a criação e decidir como ficaria o modelo em relação a traços, materiais e equipamentos. "A ideia era criar um hatch compacto, porém largo e espaçoso. Por isso, desde o princípio a ordem era ter um entre-eixos curto, mas com boa largura e balanços [dianteiro e traseiro], para aumentar o volume do porta-malas", revela.
Peugeot 208, Ford Fiesta, Volkswagen Polo, Opel Corsa, Kia Rio e Seat Ibiza foram os modelos usados como referências para chegar ao visual final. Reparou o que todos têm em comum? São carros da escola europeia de design.
Muitas e muitas e muitas caras
Só para a parte dianteira foram gerados mais de 20 esquetes, que depois ganharam a companhia de mais algumas dezenas de laterais e outras opções de traseira. UOL Carros teve acesso exclusivo aos desenhos e mostra alguns deles no GIF abaixo. Todos são de autoria do estúdio JAC Italy, pertencente à marca chinesa e formado por ex-projetistas da Alfa Romeo.
A partir de todas essas possibilidades o empresário passou a montar o quebra-cabeças: "Escolhi os vincos de um, depois a frente de outro, depois a parte de trás de outro. Aí tive que definir faróis, grade, lanternas, rodas, bancos, revestimentos internos... tudo isso me deu um trabalho enorme", diz.
Uma passagem curiosa foi quando Habib precisou definir quais bancos o carro usaria. Para convencer os chineses a adotar peças mais confortáveis, embora mais caras, o empresário teve de fazer uma reunião com o presidente mundial da JAC, Jin An, na matriz da companhia.
"Eu sei que brasileiro liga muito para conforto dos bancos. Tive que pedir para o presidente ficar sentado cinco minutos em cada amostra para que ele concordasse que a minha escolha era a melhor. Consegui", conta aos risos.
Tudo mudou
Ainda em 2013, já enrolado pela crise nacional e pelo golpe específico aos importadores, Habib percebeu a incipiente movimentação do mercado nacional em direção aos utilitários esportivos tomou a decisão de transformar o T40 em um "SUV" para garantir seu trunfo. "Levantamos o capô, deixamos a coluna A levemente mais vertical e redesenhamos a traseira, para aumentar a robustez", detalha.
Deu certo: embora seja um tanto forçado chamá-lo de SUV, o T40 parece maior do que qualquer outro compacto de porte similar. E olha que ele só tem 2,49 metros de entre-eixos, 3 cm a menos do que um Chevrolet Onix nessa dimensão.
Habib demonstra enorme satisfação com o resultado da experiência: "Fazer o T40 foi uma aventura. Adorei o resultado final. Esse carro é o meu bebê".
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