Hora do adeus: relembre trajetória do Fiat Palio, que se aposenta em 2018
Contamos a história de um dos ícones da Fiat no Brasil em 14 tópicos
A maioria dos compactos da Fiat causa alvoroço no Brasil. O lançamento do Palio, em 1996, repetiu, de certa forma, o rejuvenescimento da marca registrado com a estreia do Uno, 12 anos antes.
De fato, o Palio trazia modernidades para o mercado de compactos: o projeto tinha itens de segurança e construção moderna, além de desenho agradável.
Lançado para brigar com o Gol, que já era líder absoluto de vendas no país, o Palio viveu sob a sombra do rival da Volkswagen por quase toda a vida. Só foi se livrar do estigma de vice em 2014, quando conseguiu fechar o ano na ponta mais alta do ranking de vendas.
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Bela história
Mas o currículo do Palio é invejável. Foram mais de 3,2 milhões de unidades produzidas e quase 3 milhões de carros vendidos no Brasil, números que corroboram o sucesso do hatch, que se perdurou por, acredite, só duas gerações e a base de muitas maquiagens, diferentes motores e versões.
UOL Carros fez uma linha do tempo do compacto, que em breve dará adeus à linha de produção. Entenda a seguir os 22 anos de seu sucesso:
1. Surgimento
Desenvolvido como Projeto 178 pelo Centro de Estilo da Fiat italiana e pelo Instituto Idea, de Turim, o Palio buscava oferecer conforto superior ao Uno, além de robustez para ser vendido em mercados emergentes. Curiosamente, o "substituto" usava a mesma plataforma do "antecessor". As principais diferenças em relação à base do Uno estavam no entre-eixos de 2,36 m (9 cm a mais) e na suspensão dianteira, que usava subchassi para dar mais firmeza ao conjunto e filtrar melhor buracos.
No Brasil, o Palio foi lançado em abril de 1996 com a missão de brigar de igual para igual com o líder Volkswagen Gol e de emprestar uma aura de modernidade à linha compacta da marca italiana -- dois anos antes o Chevrolet Corsa provocou certo frenesi no segmento. O carro brasileiro até vinha com algumas bossas de segurança para a época, como freios ABS e airbag duplo como itens opcionais, barras de proteção nas portas e corte automático de combustível em caso de colisão.
2. Motores
Quando foi lançado, usava o 1.5 Fiasa, que recebeu injeção eletrônica multiponto e rendia 76 cv, e estreava o 1.6 16V de 106 cv importado da Itália. Meses depois, passou a ter opções do 1.0 de 61 cv (também Fiasa) e 1.6 8V da família Sevel, com 82 cv.
Em 2000, a novidade foi o 1.3 16V Fire, de 80 cv. O nome -- sigla para Fully Integrated Robotized Engine -- se devia à linha de montagem do motor, totalmente automatizada. Ao mesmo tempo, o conjunto tinha taxa de compressão elevada (10,2:1), bielas em peça única e mais leves e acelerador eletrônico, chamado Drive by Wire, que dispensava os cabos tradicionais.
Fato curioso: esse motor, na verdade, deveria ser classificado como 1.25 (tinha 1.242 cm³), mas como brasileiro comprava (e ainda compra) carro pelos números ostentados na tampa do porta-malas, o marketing da Fiat não pensou duas vezes em arredondar para cima a informação.
3. Variações
Em 1997 o Palio começava a dar crias no Brasil. Primeiro veio a station wagon Weekend, com o apelo do porta-malas de 500 litros. Depois o sedã Siena, que, inicialmente, vinha da Argentina. Os dois modelos adotaram basicamente os mesmos motores do hatch, com exceção do 1.0.
Só em 1999 surgiram as versões de 1 litro dessas derivações, quando a Fiat optou por colocar o câmbio manual de seis marchas. A tentativa da engenharia em dar mais agilidade ao desempenho dos carros durou pouco: no ano seguinte, a caixa passou a ser de cinco marchas. Nesse meio tempo o Palio deu outro fruto: a picape Strada, que deu o ar da graça no mercado em 1999, com a (até então) inédita opção de cabine estendida.
Foi em 1999, inclusive, que uma derivação do Palio se mostrou pioneira. A Weekend Adventure trazia o conceito de aventureiro urbano, 4 cm mais alta, com pneus de uso misto, suspensão reforçada e com curso maior, além dos diversos apliques estéticos com estilo off-road, como molduras de plástico, estribos e até mata-cachorro. A receita é usada a exaustão até hoje por outros compactos com apelo fora-de-estrada.
4. Primeira plástica
Como é praxe no segmento de entrada do mercado brasileiro, o Palio iria se perpetuar nas lojas à base de reestilizações. O primeiro banho de loja foi assinado pela ItalDesign, de Giorgetto Giugiaro -- o renomado projetista italiano esteve até presente no lançamento do carro no Brasil, em setembro de 2000. O hatch adotou elementos mais retangulares e traços mais definidos, como nos faróis estreitos e horizontalizados, que receberam parábola dupla.
Vincos foram adotados no capô e na tampa do porta-malas -- essa, por uma queixa dos consumidores em clínicas de pesquisa, já que a porta traseira bojudinha da versão anterior amassava em qualquer batida na hora da manobra. Lanternas ainda foram arredondadas e ganharam novas lentes.
Como se tornaria praxe também, uma versão com a cara antiga do modelo se manteve em linha para ser o modelo mais barato. No caso, essa função pouco nobre coube ao chamado Palio Young.
5. Expansão
Mais econômicos e leves, os propulsores da gama Fire se propagaram na carona da remodelação para além do 1.3 16V. Com 55 cv, o 1.0 era menos potente que o Fiasa (que continuou no Palio Young), mas trabalhava melhor em baixos giros: o torque máximo de 8,5 kgfm surgia a 2.500 rpm.
Palio Weekend, Siena e Strada adotaram as mudanças visuais em 2001. A versão aventureira da perua, por sinal, passou a se chamar apenas Palio Adventure, enquanto a Strada estreava sua roupagem lameira na mesma lógica da irmã, com muitos apliques de plástico, suspensão elevada e pneus de uso misto.
Só em 2008 o 1.6 16V cedeu lugar ao 1.8 8V, da família Powertrain e fabricado pela General Motors. Com 108 cv, era o mesmo usado em versões dos Chevrolet Corsa e Astra no mercado brasileiro.
6. Mais um tapa no visual
Coube novamente a Giugiaro assinar a segunda maquiagem do Palio, em 2003 -- já como linha 2004. Faróis com desenho irregular e margens mais arredondadas passaram a invadir os para-choques e as laterais, e a grade com vários furinhos foram as principais mudanças na frente. Na traseira, lanternas mais verticais.
Em equipamentos, ele passou a oferecer itens opcionais diferenciados para o segmento, como airbags laterais, computador de bordo, som com CD player e MP3, regulagem elétrica do banco do motorista e sensores de chuva e luminosidade, entre outros. O painel também recebeu uma bela guaribada.
7. Bebe todas
A reestilização foi replicada no Siena, Weekend e Strada no ano seguinte, mas essa leva da família Palio trazia como grande novidade o motor 1.3 8V Fire que agora bebia gasolina, etanol ou a mistura dos dois. Tratava-se do primeiro flex da linha Fiat.
A potência subiu de 67 cv para 71 cv com álcool -- dois anos depois, em 2006, o 1.3 virava 1.4, com 81 cv e mais torque em baixas rotações. A inevitável onda bicombustível iniciou uma correria entre as fabricantes. Ainda em 2003, o 1.8 também passou a ser flexível, com 110 cv de potência.
O motor mais potente da linha caiu como uma luva para a Fiat ressuscitar, no Palio, a versão R que marcou presença no Uno. O Palio 1.8R tinha tudo que os aficionados por esportivos gostam: faróis com lentes escurecidas, rodas de liga-leve aro 14, bancos mais envolventes, saias e escape em tons mais escuros e vermelho nos cintos de segurança e em detalhes do cluster.
Na mecânica, a pegada esportiva ficava a cargo da suspensão 1,2 cm rebaixada e com molas mais rígidas. Amortecedores recalibrados e barra estabilizadora dianteira mais espessa, além dos pneus 185/60 R14, faziam a festa dos "playboys" dos anos 2000.
8. Vida que segue
A Fiat não se intimidou em fazer a terceira reestilização no Palio, em 2007. Dessa vez, porém, o compacto ficou com cara de carro japonês, só que dos anos 1990. Os faróis mais arredondados e a grade diminuta remetiam a sedãs médios orientais da década anterior, enquanto as lanternas traseiras mais baixas lembravam as do Daihatsu Charade. Tudo para agradar ao mercado chinês, onde esse renovado Palio foi vendido.
Os motores 1.0, 1.4 e 1.8 foram mantidos, sem alterações. O sedã Siena, apresentado no mesmo ano, não foi fiel às alterações na dianteira: adotou grade maior. Já as lanternas mais fininhas da traseira pareciam inspiradas em modelos da Alfa Romeo -- que, pelo menos, faz parte do mesmo grupo. A Weekend foi na mesma linha em 2008, assim como a Strada -- que ganhava a variante cabine dupla.
Não satisfeita em só maquiar o seu principal modelo no país, a Fiat lançou mão mais uma vez da versão Fire. Com a cara antiga e apenas um bigode cromado na dianteira para disfarçar, usava os faróis de 2003 e interior do modelo 2000... Na estreia surgiu o Palio Economy com econômetro no quadro de instrumentos para indicar a hora ideal de passar marchas e economizar combustível.
9. E.torQ
Sempre criticada por usar motores obsoletos, a Fiat deu uma resposta em 2010. Após comprar a fábrica de motores da Tritec em Campo Largo (PR) -- que fornecia para a BMW --, a marca italiana estreou a linha de propulsores E.torQ em 2010 no Punto, para logo depois aplicá-la no Palio.
A versão topo de linha Essence passava, então, a usar o 1.6 16V, com 115/117 cv -- mais potência, portanto, que o 1.8 8V da GM. A notícia ruim foi o que a configuração esportiva 1.8R saiu de cena, apesar de a gama de motores ter um 1.8 16V.
10. Enfim a nova geração
O lançamento do novo Uno, em 2010, foi uma "bênção". Finalmente o Palio ganhava sua segunda geração de fato, em outubro de 2011. Com base na plataforma do irmão menor, ganhou desenho moderno, carroceria mais rígida e arquitetura mais segura. Além disso, como era de se esperar, cresceu, principalmente no entre-eixos, que passou de 2,37 m para 2,42 m.
As opções de motores continuaram as mesmas, mas o 1.0 e o 1.4 Fire receberam aprimoramentos e ganharam o sobrenome Evo. Novos componentes, mais leves e de menor atrito, melhoraram a eficiência do conjunto e o consumo de combustível.
Esta segunda geração marcou a independência do Siena do Palio. O três volumes passou a ter desenho próprio, entre-eixos de 2,51 m e porta-malas generoso para brigar com os sedãs compactos com tamanho de médio (Renault Logan, Nissan Versa, Chevrolet Cobalt etc.). Tanto que até mudou o nome para Grand Siena.
11. Herói da resistência
Como nem tudo é perfeito na vida, o velho Palio perdurou. A versão mais barata do hatch passou a se chamar EL, com a plataforma de 1996, motores 1.0 e 1.4. O friso cromado na grade frontal e o para-choque traseiro que remetia ao Grand Siena tentaram dar uma disfarçada na antiguidade.
Já o Palio Fire perdeu a alcunha Economy em 2014 e, com o fim de produção do Mille, coube a ele a função de ser o modelo mais barato da marca no país. Ganhou até versão Way, com suspensão elevada...
Weekend e Strada ficaram na geração antiga também. Tanto a perua quanto a picape só receberam mudanças pontuais na grade e nos para-choques. A Strada ainda ostentaria terceira porta em sua configuração cabine dupla, em 2013. Curiosamente, foi nessa leva que o Palio conseguiu desbancar a liderança de 27 anos do Volkswagen Gol, em 2014. Foram 183.745 unidades emplacadas naquele ano.
12. Ajustes
Nos últimos anos, a gama compacta recebeu discretas mudanças. A linha 2016 passou a ostentar coloração cinza no painel. Já na linha 2017, o tablier passou a ter um padrão para cada versão do Palio, enquanto o quadro de instrumentos recebeu novos grafismos e as forrações passaram a adotar novos tecidos e tons mais escuros.
13. Bossas mecânicas
Alguns equipamentos pontuaram a trajetória da família Palio nessas mais de duas décadas, além do câmbio de seis marchas e do acelerador eletrônico Drive by Wire. Nem todos, porém, agradaram.
A primeira tentativa de trazer conforto de forma "barata" para o trânsito urbano foi o Citymatic, em 1999. O dispositivo de embreagem automatizada dispensava o pedal de embreagem -- um sensor na manopla do câmbio acionava o mecanismo e o motorista fazia as mudanças nas cinco marchas à frente normalmente, sem precisar do esforço do pé esquerdo.
O Palio Citymatic, contudo, durou pouco mais de um ano: as queixas de trancos nas arrancadas e falta de pedal para dosar aceleração para subir lombadas a partir da inércia eram frequentes.
Passaram-se 10 anos para a Fiat tentar vender conforto sem precisar gastar muito em uma caixa automática convencional. Em 2009, a linha recebeu opção de câmbio automatizado Dualogic, que dispensava o pedal de embreagem e seguia a tendência de outras marcas rivais (Easytronic, da GM; e i-Motion, da Volks), que passaram a oferecer esse item. Com sistema de embreagem simples, a caixa desagradava pelo excesso de trancos e imprecisões, e recebeu apelidos pouco nobres, como "Burralogic".
Em 2008 a Palio Adventure lançou um equipamento, de fato, condizente com qualquer aspiração fora-de-estrada. O sistema Locker, de bloqueio do diferencial dianteiro, prometia tirar o veículo de situações de patinação das rodas, tudo por meio de um botão no painel. Depois, o item passou a ser disponibilizado em toda linha Adventure da Fiat (Strada, Doblò e Idea).
14. Batismo
Palio é uma homenagem à tradicional corrida homônima de cavalos disputada por camponeses na Itália no século 17. Significa "páreo", em italiano, e era realizada na cidade de Siena, nome adotado pelo sedã derivado do hatch.
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