Você teria braço para manter um "muscle car" manual sob controle?
Poucos de nós, motoristas de carros urbanos e automáticos, conseguiriam realizar esta façanha atualmente
Uma das cenas mais emblemáticas envolvendo carro e cinema traz o cultuado ator Steve McQueen e um intempestivo e saltitante Ford Mustang pelas ruas de São Francisco, em uma verdadeira caçada a dois sujeitos que estão em um Dodge Charge.
Diz a história que as cenas foram todas reais, sem dublês ou manipulação das imagens. Durante a perseguição, só se ouve os pneus cantando no asfalto e o motor V8 urrando feito um felino enraivecido. Nada de diálogos, nem trilha sonora.
Há momentos em que o espectador passa a fazer parte da cena, sentindo-se dentro do carro. Exagero? Confira você mesmo a cena que tem mais de 10 minutos.
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Controle nas mãos
Com todo o respeito ao mito McQueen, "mero" coadjuvante, os atores principais do filme foram um Ford Mustang GT 390 e um Dodge Charger RT 440. A rigor, foram utilizados dois exemplares de cada modelo, porque as filmagens fizeram os personagens suarem feito maratonistas em prova de país tropical. Diz a lenda (que interessa mais que os fatos, admitamos) que os carros chegaram a atingir 200 km/h naquela disputa típica de "Tom e Jerry".
Algum de nós, que estamos aqui no trânsito esperando calmamente a boa vontade de uma transmissão automática avançar e recuar as marchas, consegue se imaginar domando aqueles carros no braço? Difícil, hein?
Ainda mais com o animal motorizado saltando como se tivesse molas em vez de pneus, invertendo o sentido da direção repentinamente como se feito de borracha, peito, digo, capô inflado, pedindo mais. Tem momento em que é preciso ter sangue nas veias para tomar a decisão, guiada no calor das horas pelo instinto, e não pela razão. E para isso nada melhor do que ter total domínio da alavanca de câmbio com as próprias mãos.
Não por acaso, na edição comemorativa aos 50 anos do filme "Bullitt", a Ford relançou série limitada do Mustang (agora o de nova geração), denominada Bullitt, equipada com uma insuspeita transmissão manual. E, comprovando que a deferência ao modelo que inspirou é no conceito e na estética também, a manopla do câmbio ganhou uma bola branca, no mesmo estilo daquela que Steve McQueen domou impiedosamente pelas charmosas ruas de São Francisco.
* Chico Barbosa, autor do blog "Car & Fun", é jornalista e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, editor da "CBNEWS Books" (especializada em livros sobre cultura automotiva) e editor contribuinte de Motor da revista "VIP"
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