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Consórcio vira alternativa à crise e já atrai até donos de carros de luxo

Consórcio ganhou popularidade entre clientes mais abonados, que compram picapes e SUVs - Ze Carlos Barretta/Folhapress
Consórcio ganhou popularidade entre clientes mais abonados, que compram picapes e SUVs
Imagem: Ze Carlos Barretta/Folhapress

Alessandro Reis

Colaboração para o UOL, de São Paulo (SP)

15/06/2018 04h00

Modalidade de financiamento oferece prazos maiores e prestações mais suaves na compra

O consórcio está crescendo na preferência dos consumidores que desejam parcelar a compra de um automóvel.

De acordo com a ABAC (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios), os consórcios contratados de janeiro a abril de 2018 corresponderam a 9,5% dos novos financiamentos de veículos no mesmo período, contra 4,55% em 2011. Ou seja, a participação mais do que dobrou em sete anos.

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Não é a primeira vez (e nem será a última) que o consórcio vira recurso para driblar momentos ruins da economia. Já havíamos falado disso em 2015, quando entidades ligadas ao setor automotivo traçaram estratégias para turbinar as vendas.

Alta em 2018

Ainda segundo a ABAC, o consórcio praticamente triplicou sua presença no total de emplacamentos de veículos leves (automóveis, utilitários e camionetas) na última década, subindo de 7,8% em 2009 para 31% registrados apenas no primeiro trimestre deste ano. A entidade informa que atualmente existem pouco mais de 6 milhões de consorciados ativos no setor automotor no Brasil.

Vale destacar que os percentuais dos consórcios se referem ao potencial de participação, ou seja, correspondem a clientes que já obtiveram a carta de crédito para a compra do bem, porém não necessariamente fizeram a aquisição.

"Nos últimos anos, o consumidor passou a substituir a compra por impulso pelo planejamento financeiro para obter o bem que almeja. Como tinha outras despesas, o cliente passou a cuidar mais das finanças pessoais e fugiu do financiamento, por conta de vantagens como taxa de administração menor que os juros, a possibilidade de escolher o veículo que quiser com o crédito obtido e ausência de entrada no consórcio, que pode ser utilizada como lance para antecipar a compra", avalia Paulo Roberto Rossi, presidente da ABAC.

Rossi destaca que, nos últimos tempos, muitas administradoras ampliaram o prazo de duração do grupo, que saltou de 50 a 60 meses para até 80 meses, reduzindo o valor da parcela mensal.

Antes da crise, os financiamentos chegaram a ser oferecidos sem entrada e em até 90 meses, mas hoje exigem entrada de 30% (ou mais) e parcelamento em até 36 meses. São aspectos que justificam o aumento na preferência pelo consórcio, ainda que nessa modalidade você não leve o veículo imediatamente, como acontece na compra financiada.

Outro aspecto relevante é que, do total de automóveis adquiridos por consórcio no primeiro quadrimestre, 75,2% se referem a veículos usados, contra 49,8% em 2011. Ou seja, a cada quatro carros comprados nessa modalidade, três são de segunda mão. A relação se inverte nas motos: 10% das aquisições são de modelos usados e os 90% restantes de motocicletas zero quilômetro.

"A crise fez o consumidor perceber que veículos novos são mais caros e há disponibilidade de seminovos com baixa quilometragem, ainda dentro da garantia e mais equipados. Já as motos novas são muito mais acessíveis e, em regiões como a Grande São Paulo, são utilizadas como instrumento de trabalho. Quem compra moto nova já planeja fazer a troca dentro de alguns anos", analisa Rossi.

De acordo com o especialista, o preço médio do automóvel adquirido em consórcio atualmente é de R$ 42,2 mil, ante R$ 8,4 mil de motos.

Efeito da crise

A ABAC realizou uma pesquisa para conhecer melhor o perfil de quem procura um consórcio. O levantamento foi realizado pela Quorum Brasil com mil consorciados ativos e outros mil potenciais consorciados nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza, Salvador, Goiânia e Belém.

Os números indicam que 73% das pessoas consultadas são das classes C (39%) e D (34%), sendo que esta última tem renda mensal de dois a dez salários mínimos. Ainda de acordo com a pesquisa, 54% dos entrevistados têm mais de 40 anos, sendo que 65% são casados.

O destaque fica por conta da classe B, que corresponde a 20% do total pesquisado, enquanto o percentual registrado em 2017 foi de 12%. A classe A, por sua vez, responde por 7%, quase o dobro dos 4% do levantamento realizado no ano passado.

De olho neste interesse dos mais endinheirados é que marcas premium (como a Audi) oferecem planos de consórcio para a aquisição de carros de luxo, em parceria com a Unifisa.

Para Rossi, esse é mais um sinal que a crise também atraiu clientes de maior renda, que usam o mecanismo para planejar a troca de automóveis de maior valor.

"O consórcio propicia a compra de veículos dos mais variados preços. Existem administradoras formando grupos com crédito de R$ 200 mil e até R$ 300 mil. No Centro-Oeste, por exemplo, muitos fazendeiros compram picapes e SUVs", concluiu.