Porsche, 70 anos: como acertar ao comprar um modelo usado no Brasil
Será que você consegue comprar e usar um esportivo usado? Atenção à manutenção e a ofertas sedutoras demais
Escrevo meus textos nas noites de domingo e, nestes dias, tenho o costume de andar de bicicleta com meu pai logo cedo. Algo, porém, chamou minha atenção no passeio matutino: a grande quantidade de Porsche nas ruas.
Vi alguns 911, Panamera, Macan e Cayenne. Parecia até que eles sabiam que escreveria sobre eles mais tarde
O mais chamativo foi um 911 amarelo que, ao entrar na avenida Faria Lima (famoso centro financeiro e executivo de São Paulo), deixou a traseira escapar, algo corriqueiro em um carro que leva o motor "pendurado" depois do eixo traseiro. Felizmente, o motorista soube corrigir a escapada e seguiu sem maiores problemas.
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Precisa ter disposição e dinheiro
Essa cena me inspirou ainda mais a escrever sobre essa icônica fabricante de automóveis esportivos alemães que, há exatos 70 anos, apresentava seu primeiro carro, o belíssimo 356.
De lá para cá, dezenas de outros modelos foram lançados com o mesmo DNA, algo difícil de manter por longas sete décadas.
Nas vezes que arriscaram pensar fora da caixa, os fãs mais fervorosos torceram o nariz. Isso significa que eles até podem lançar SUVs para manter a saúde financeira da empresa, só não podem mexer nos faróis redondos e nos motores boxers dos esportivos.
Se você acha que a melhor maneira de comemorar esse aniversário de 70 anos é colocando um desses esportivos na sua garagem, está na hora de entender se você terá mesmo disposição para encarar um "Porschão".
É fácil achar Porsche pelas ruas dos países ditos do "Primeiro Mundo". Não que os modelos novos sejam acessíveis para a maioria, mas não é preciso muito esforço para um trabalhador de classe média comprar um modelo usado, graças a grande desvalorização que qualquer carro sofre nesses países.
A desvalorização também é bem alta aqui no Brasil, mas não na mesma proporção. Eles chegam a um ponto que, mesmo com o decorrer dos anos, os preços ficam estáveis. Alguns modelos mais desejáveis e colecionáveis conseguem a proeza de serem valorizados ao longo dos anos. Sendo assim, Porsche no Brasil é só para quem tem grana mesmo.
Se você acha que estou errado, adianto que carros com preços mais baixos são cilada. Nada é mais caro que um Porsche barato -- e isso vale para qualquer modelo de marca premium.
Olho na manutenção
Porsche tem carros refinados e projetados para suportarem altas velocidades com o máximo de segurança. Todo esse refinamento tem seu preço na hora da manutenção: fluidos, pneus, freios, peças de suspensão e motor são especialmente caros quando comparados com carros mais "comuns".
Portanto, pode ter certeza que um Porsche barato não teve a devida manutenção -- e reverter esse cenário pode ser inviável.
A predisposição que temos para carros usados com baixa quilometragem fica ainda mais evidente em um esportivo como um Porsche. Acumular quilometragem neles torna-se um ato de culpa, pois o medo de não conseguir revendê-lo no futuro é grande. Ou seja, esse brinquedinho caro vai ficar a maior parte do tempo na sua garagem, talvez coberto com uma capa personalizada para não ficar empoeirado.
E quando bater aquela vontade de passear com a máquina, surgem aqueles problemas chatos de carros que ficam parados: bateria arriada, mangueiras e borrachas ressecadas, combustível velho no tanque e por aí vai.
Difícil de usar na rua
Talvez você não se importe com a revenda e queira mais é usar seu Porsche diariamente. Saiba que, logo, aquela paixão inicial se tornará um grande incômodo.
Com exceção dos SUVs, qualquer Porsche é extremamente duro, pensado para ser pilotados em estradas e pistas com asfalto de primeira -- o que, infelizmente, está longe de ser nossa realidade. A distância em relação ao solo é inimiga de rampas de prédios, valetas e lombadas.
Além disso, em um país onde o terror é propagado com frequência, alguns só aceitam ter um carro caro e chamativo se ele for blindado. Quer blindar um Cayenne ou o Macan? Tudo bem. Mas blindar um 911 ou um Cayman? Aí não!
Qual o sentido de possuir um esportivo que passou por anos de desenvolvimento para ficar perfeito e ter toda sua dinâmica jogada no lixo por conta da blindagem? Se você tem a real necessidade de um veículo blindado, deixe os esportivos de lado e seja feliz em um carro mais adequado para isso.
Se você passou por todo esse banho de água fria e ainda está disposto a encarar um "Porschão", separei cinco modelos para você entrar no maravilhoso mundo dos carros esportivos.
Porsche 928
Esse foi o melhor Porsche durante 18 anos. Com um grande V8 posicionado na dianteira, tinha tudo para aposentar o 911, mas a tradição do motor 6-cilindros boxer traseiro falou mais alto.
Quem não liga para isso levará para casa um clássico altamente colecionável que não deve perder mais valor. E, se a ideia não for deixá-lo em uma redoma de vidro, terá o privilégio de guiar um dos melhores esportivos de seu tempo.
Porsche 911 (de 1994 a 1997)
Esses foram os últimos anos do 911 com o clássico motor refrigerado a ar. Ou seja, é a melhor e mais avançada versão do motor que consagrou os carros projetados por Ferdinand Porsche.
Na minha opinião, temos o design tão bem acertado que é quase o mesmo do atual, mais de 20 anos depois. Opte pelos que possuam câmbio manual e tenha a certeza que seu carro será cada vez mais valorizado com o passar dos anos.
Porsche 911 (de 2005 a 2012)
Em sua segunda geração com o motor refrigerado a água, o 911 voltou com os faróis redondos e corrigiu falhas crônicas da geração anterior.
Por esse modelo ser relativamente novo, os preços estão na descendente. Entretanto, acredito que será um futuro clássico colecionável, graças ao belo desenho e ao acerto primoroso que deixou o carro mais dócil.
Porsche Cayman (de 2006 a 2012)
O Cayman surgiu em 2006 como o esportivo de entrada da marca alemã. Enquanto o Boxster é um conversível, o Cayman é sua versão coupé e isso o torna mais barato, mas não menos desejável.
Por ser o esportivo de entrada da marca alemã, alguns maldosos criticam o desempenho do carro. Não caia nessa: é um legítimo esportivo de dois lugares com motor 6-cilindros em posição central para melhor distribuição de peso. A dinâmica é das melhores e seu comportamento é até mais previsível que o 911.
Não espere valorização ao longo dos anos, mas vá atrás daqueles com rico histórico de manutenção, mantenha essa manutenção em dia e curta o carro até seus filhos nascerem e você precisar de um veículo maior.
Chamonix
Calma, eu não enlouqueci. O leitor há de concordar que as réplicas feitas pela brasileira Chamonix são de brilhar os olhos. Com preços atraentes e mecânica de VW, são brinquedos acessíveis para quem deseja apenas se divertir. Em bom estado, nunca perderam valor de mercado.
Se você estava esperado algum SUV ou sedã nessa minha lista, sinto muito. Claro que eu os admiro, afinal são carros incríveis, mas quando falo em Porsche, o que vem a minha mente é um pequeno esportivo de duas portas com motor barulhento. Escolha o seu e aproveite a vida.
* Felipe Carvalho é administrador de empresas, consultor e primeiro "caçador de carros" profissional do país. Seu canal no YouTube dedicado a avaliações de achados automotivos tem mais de 100 mil inscritos.
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