Você compraria um carro de luxo a gás? É o que a Audi quer com o A5 G-Tron
Modelo já está em testes no Brasil e ideia é colocá-lo à venda em breve; na Europa, GNV pode ser alternativa a elétricos
UOL Carros já falou algumas vezes sobre como a tecnologia dos chamados "kit gás" evoluiu e do quão vantajosos eles são em termos de autonomia e economia na hora de abastecer, com vantagem de 50% na comparação com a gasolina e de até 60% para o etanol, apesar da perda de potência. Tem muita gente que ainda torce o nariz para o GNV (gás natural veicular), sobretudo quando olhamos para o segmento de carros de luxo.
Mas e se uma marca como a Audi vendesse um modelo a gás pronto de fábrica, haveria menos preconceito? Alguém interessado em carros deste segmento faria a opção pelo modelo mais "verde" com este tipo de motor, que no Brasil ainda é visto com "zero glamour"?
Na Europa, a marca vende o sedã A3 com esta tecnologia desde 2014. E, desde outubro de 2017, levou o sistema a modelos como A4 e A5 Sportback. Este último, vendido no Brasil com um pacote avançado de tecnologias semi-autônomas de direção -- que o fez ganhar o Prêmio UOL Carros 2017 na categoria "Tecnologia/Inovação" -- foi o escolhido para testes de homologação e de aceitação aqui no Brasil.
Desde a última semana, o A5 Sportback G-Tron está sendo testado e avaliado nas instalações da usina Itaipu Binacional. Além disso, a Audi do Brasil promoverá algumas aparições do modelo junto ao público, inclusive no Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro. UOL Carros já viu o modelo de perto, em março, no último Salão de Genebra, onde conversou com executivos. Vamos aos detalhes!
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Tem gente chamando de "híbrido"
Direto ao ponto: em termos de assistências ao condutor, porte e conforto, nada muda do A5 tradicional, vendido no Brasil apenas com motor a gasolina (turbo, injeção estratificada de gasolina), para o A5 G-Tron. O segredo está na motorização, claro: o motor 2 de litros turbinado (da mesma família EA888), tem modificações em cilindros e pistões, além do uso de válvulas e controladores específicos para ter um melhor ciclo de compressão do combustível, de modo a usar o gás natural veicular de forma eficiente. São 29 componentes diferentes, além de controlador eletrônico específico, desenvolvido pela Bosch.
Na prática, com as mudanças, o motor 2.0 G-Tron produz 172 cavalos de potência (contra 190 do 2.0 TFSI normal), com 27,5 kgfm de torque (ante 32,6 kgfm) a 1.600 giros, bem cedo. E enquanto o TFSI pode fornecer tração às quatro rodas graças ao sistema Quattro, no G-Tron a tração é apenas dianteira. O câmbio é o Stronic de sete marchas e dupla embreagem (na Europa, o manual de seis marchas vem de série).
Segundo a Audi, o A4 G-Tron faz o 0-100 km/h em 8,4 segundos, com velocidade máxima de 224 km/h. Mas o destaque é a autonomia, claro: são quatro tanques feitos de composto de fibra de carbono localizados estrategicamente em pontos da estrutura sob o assoalho, capazes de armazenar cerca de 20 kg de GNV a 200 bar de pressão. Na estimativa mais conservadora, são pelo menos 500 km de autonomia, mas engenheiros no estande conjunto que mostrava o A5 em Genebra afirmaram a UOL Carros que, a depender das condições e até do tipo de gás utilizado, esse número pode chegar a 800 km.
Houve até um exagero de chamar o modelo de "híbrido". De fato, como qualquer carro movido a GNV que conhecemos, temos um veiculo bicombustível (usa dois combustíveis, mas não ambos de forma automatizada e direta): com um toque no botão, é possível liberar o motor para consumir a gasolina do tanque de 25 litros para rodar outros 450 quilômetros, segundo a Audi.
Essa versatilidade é a chave para um virtual sucesso da tecnologia daqui pra frente, segundo a Audi. Sucesso, inclusive, como alternativa mais barata a carros eletrificados, híbridos ou elétricos.
Plano B global a elétricos
Não é segredo que boa parte das grandes nações da Europa preparam uma guinada para veículos eletrificados por conta de exigências ambientais de seus governos para períodos que vão dos próximos meses às próximas duas décadas. China e Índia também têm planos para ampliar muito o uso de frotas eletrificadas. Mas e os países menos avançados da Europa? E mercados como EUA, Rússia e até mesmo Brasil?
A resposta do Grupo Volkswagen, do qual a Audi faz parte como marca premium, é a aposta no GNV. Em abril, a empresa inaugurou ala industrial e centro de desenvolvimento para a tecnologia na Espanha, sob o guarda-chuva da marca local Seat. Ela será a responsável por divulgar e fazer a tecnologia avançar, ainda que as novidades venham a ser aproveitadas por todas as outras marcas do grupo. Segundo o italiano Luca de Meo, atual presidente da Seat, mas que já teve cargos importantes na Audi e até mesmo aqui na Volkswagen do Brasil, além de motores, a subsidiária vai desenvolver o gás veicular sintético, além de instalar 300 estações de recarga de GNV na Espanha, até 2020, além de ações similares em outros países.
Primeiro detalhe: além da Audi, motores da linha G-Tron serão usados até mesmo em SUVs como o Volkswagen T-Cross europeu e suas variantes das marcas Seat e Skoda. Segundo detalhe: o grupo é categórico ao afirmar que o G-Tron será alternativa ao uso de gasolina e diesel, mas até mesmo aos motores elétricos, por conta de seu custo menor de fabricação, mas também de venda ao consumidor e de manutenção.
No Brasil
É neste contexto de custo menor, com benefício maior que o Audi A5 G-Tron chega ao Brasil. Johannes Roscheck, presidente da Audi em nosso país, afirmou a UOL Carros que a aposta em veículos elétricos parece algo "fácil" em países ricos da Europa, mas que pode não ser viável para outros mercados. No Brasil, aponta o executivo, é algo que "pode não fazer sentido nos próximos 30 anos". Mesmo híbridos comuns seriam paliativo por conta dos custos.
"Um caminho [para o Brasil] poderia ser o carro híbrido com motor flex. Mas nós também vamos ver a onda de combustíveis sintéticos e do hidrogênio e, isso sim, pode mudar o jogo num futuro mais distante. Com base na tecnologia que já existe, com pequenas adaptações nos motores já existentes, podemos usar diversas matrizes, de querosene e gás natural ao biodiesel", afirmou Roscheck. "É o caso do nosso A4 e A5 que anda com gás e tem muito mais autonomia,é muito mais eficiente [do que o modelo só a gasolina]".
Além do uso de gás natural (metano), o executivo faz questão de destacar o uso de gás sintético. Para o Brasil, a tecnologia de "construir" o gás veicular a partir de fontes diferentes também existe e está em testes por diferentes empresas, uma delas a Itaipu Binacional, em parceria com Cibiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás) -- ambas chamam o gás sintetizado de "biometano". Daí os testes com o A5 G-tron por lá.
"Faremos testes de autonomia, ligados à quantidade de biometano que pode abastecer o veículo e por quantos quilômetros ele poderá rodar", disse o diretor de Desenvolvimento Tecnológico do Cibiogás, Rafael Gonzalez.
Segundo as instituições, serão feitos testes de rodagem de grandes distâncias usando apenas o gás, mas também de diferentes especificações para o gás sintetizado, com diferentes teores de metano -- o que muda a autonomia final. "Vamos produzir o gás com diferentes quantidades de metano, de 80% a 95%, e ver como o veículo responderá a cada diferente composição", afirmou Gonzalez em comunicado.
Para quem não sabe o biometano pode ser sintetizado a partir de resíduos de comida, bem como de dejetos de indústrias e mesmo de usinas de cana de açúcar, de tratamento de esgoto e de compostagem. Daí, também, o viés mais ecológico para este tipo de combustível.
Justificativas mil e tecnologia avançada, o A5 tem. Resta saber se passará no teste principal: o de aceitação por parte do consumidor do mercado de luxo.
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