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Carros chineses invadem de novo o Brasil, mas agora disfarçados; entenda

Lyle Watters, presidente da Ford na América do Sul, anuncia a presença do SUV-conceito Territory no Salão de São Paulo 2018 - Murilo Góes/UOL
Lyle Watters, presidente da Ford na América do Sul, anuncia a presença do SUV-conceito Territory no Salão de São Paulo 2018
Imagem: Murilo Góes/UOL

Leonardo Felix

Do UOL, em São Paulo (SP)

25/10/2018 04h00

Ford Territory e novo Chevrolet Onix são exemplos de modelos asiáticos a serem vendidos aqui por marcas ocidentais

A grande surpresa anunciada pela Ford em sua prévia do Salão de São Paulo 2018 foi o SUV compacto-médio Territory, a ser mostrado ainda em forma de conceito -- porém quase pronto para se tornar veículo de produção -- como possível (e provável) futuro rival do Jeep Compass.

UOL Carros aposta fortemente que o modelo será produzido na América do Sul entre o fim de 2019 e início de 2020, ocupando talvez o lugar do Focus na linha de General Pacheco (Argentina). Antes, já no princípio do próximo ano, será lançado na China.

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A China é a origem do Territory e a chave para o futuro da indústria automotiva brasileira. O utilitário esportivo pode até ostentar a insígnia de uma marca americana e ter visual inspirado em SUVs ingleses (no caso, a Land Rover), mas sua base é toda chinesa.

Jiangling Yusheng S330. É da costela desse modelo de nome estranho que surgiu o Territory a ser lançado no Brasil -- e que nada tem a ver com o modelo vendido entre 2004 e 2016 pela Ford na Austrália --, a partir de uma joint venture entre a Ford e a JMC, fabricante local responsável por desenvolver a plataforma de baixo custo e voltada a mercados emergentes.

Jiangling Yusheng S330, o irmão chinês do Ford Territory - Kevauto/Wikimedia - Kevauto/Wikimedia
Jiangling Yusheng S330: eis o irmão chinês do Ford Territory
Imagem: Kevauto/Wikimedia

Redução de custos e de tempo

Na primeira reportagem do especial "Como nasce um carro", publicada por UOL Carros há quase um ano e reconhecida no "Prêmio SAE de Jornalismo", já alertávamos para este fenômeno: fabricantes ocidentais estavam apelando à pujança da indústria automotiva chinesa para reduzir em alguns milhões de dólares os custos de desenvolvimento de novos e em até um ano o tempo de desenvolvimento de novos produtos.

Tal estratégia cai como uma luva para o Brasil, mercado sempre ávido por veículos de custo mais baixo, já que está sempre pressionado por fatores como carga tributária, flutuação cambial e população com poder de compra limitado. E não será regalia da Ford.

Veja, por exemplo, os novos Chevrolet Onix e Prisma. Ambos pertencem a uma nova família de produtos globais da General Motors nascidos a partir da plataforma modular GEM, construída em parceria com a SAIC, uma fabricante... Chinesa. Tanto que foi o país asiático, e não o Brasil, o primeiro a relevar imagens sem camuflagem do sedã compacto. Praticamente toda a futura fama de compactos da GM no país sairá dessa plataforma, incluindo SUV compacto, SUV compacto-médio e picape.

A PSA (Peugeot-Citroën) fará uso do mesmo subterfúgio com a matriz CMP, criada em conjunto com a Dongfeng e que num futuro breve dará origem às próximas gerações de Peugeot 208, Citroën C3 e derivados, além (talvez) de modelos da recém-adquirida Opel a serem comercializados na América Latina. Um outro modelo, aliás, já está confirmado: o SUV médio Citroën C5 Aircross já é vendido h´aum tempo na China, mas sua reestilização trará de carona a estreia na Europa e no Brasil.

Citroën C5 Aircross 2019 - Ricardo Ribeiro/UOL - Ricardo Ribeiro/UOL
Citroën C5 Aircross foi mostrado como novidade em Paris e também chegará ao Brasil... mas já existe na China
Imagem: Ricardo Ribeiro/UOL
 

Nem as fabricantes de luxo estão escapando. A Volvo, por exemplo, já compartilha toda sua expertise com a Geely, acionista majoritária da marca sueca. Sabe o descolado e tecnológico suvinho XC40? Pois ele utiliza uma base chamada CMA, a mesma de modelos da própria Geely e também da Lynk & Co (recém-criada marca premium chinesa).

Há, por fim, um caso bastante específico da indústria nacional: a Caoa Chery, empresa com capital brasileiro, mas que venderá carros criados diretamente pela chinesa Chery utilizando um nome de marca composto.

Novo Chevrolet Prisma China - Auto Home - Auto Home
Imagem da nova geração do Chevrolet Prisma "vazada" na China: modelo será vendido por lá como "Onix Sedan", e também terá um irmão remodelado a ser comercializado pela parceira SAIC
Imagem: Auto Home

Chineses nacionalizados

Portanto, se os chineses provocaram um enorme alvoroço no mercado nacional no início dos anos 2010, com a proposta de trazerem modelos de entrada baratos e "completinhos", agora passarão a invadir o país em segmentos superiores, e com muitos de seus produtos "disfarçados" sob a insígnia de montadoras de outras nacionalidades e já consolidadas por aqui.

Ou seja: é bem possível que num futuro não muito distante você compre um carro chinês e não se dê conta disso. E com a recente evolução demonstrada pelos asiáticos no assunto, é ainda mais provável que você fique bastante satisfeito com o produto que adquiriu.