Avaliação: Audi A5 G-Tron é tão incrível... que não estará no Salão; veja
Testamos o modelo de luxo movido a GNV que faz mais de 600 km por abastecimento, mas não supera preconceito do público
Ele é, certamente, o carro mais interessante da Audi a rodar nas ruas brasileiras nas últimas duas temporadas. Foram mais de 10 mil quilômetros rodados aqui no Brasil, além de testes feitos juntos ao centro de desenvolvimento e pesquisa de biogás e GNV (gás natural veicular) da usina Itaipu Binacional, no Paraná. Também chamou atenção junto a engenheiros e executivos da Comgás (Companhia de Gás de São Paulo). E ainda atraiu olhares curiosos -- e até propostas de compra -- de pessoas durante nossas sessões de gravação.
Ainda assim, o Audi A5 Sportback G-Tron, que é um carro de luxo "flex" (no termo usado pela Audi para um modelo, na prática, bicombustível), movido a GNV e gasolina, não poderá ser visto pelo público no estande da Audi durante o Salão do Automóvel de São Paulo, a partir do dia 8 de novembro. Mesmo com tantos feitos, ficou difícil para o A5 G-Tron passar por um obstáculo crucial: preconceito.
Segundo o próprio presidente da Audi do Brasil, Johannes Roscheck: "Ainda teremos um trabalho pesado de convencimento do nosso público para este tipo de veículo. Por enquanto, vamos usar o espaço em nosso estande para outros modelos, cheios de tecnologia, muito luxuosos e atrativos para o público neste momento".
Roscheck deu a declaração a UOL Carros na última semana, durante a apresentação dos destaques da marca para o maior evento automotivo da América Latina: as novas gerações de RS4 Avant (perua média esportiva de 450 cavalos), A6 e A7 (sedã e cupê executivo com motorização reforçada por sistema mild-hybrid), A8 L (sedã de alto luxo que pode ter tecnologia semi-autônoma de nível 3 e ainda fazer massagens nos pés do dono) e Q8 (que será lançado como o SUV mais avançado do mundo). Nenhum deles, porém, seria tão adequado ao momento atual quanto o G-Tron. O próprio executivo, fã da tecnologia de propulsão, sabe disso.
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Feito para ir longe, com luxo original de fábrica
Tudo no A5 G-Tron é original de fábrica: no total, são 29 alterações no conjunto, 18 especificamente no trem-de-força, todas feitas em conjunto pela Audi, pelo Grupo Volkswagen e pela Bosch. O motor 2 de litros turbinado é da mesma família (EA888) do 2.0 TFSI usado no A5 convencional. No cado do G-Tron, modificações são feitas em cilindros, pistões, válvulas, controladores e bicos injetores, todos específicos para funcionar perfeitamente, de modo a usar o gás natural veicular de forma eficiente, além da gasolina.
Com as mudanças, o motor 2.0 G-Tron funciona em ciclo combinado, com taxa de compressão maior (12,1:1), produzindo 172 cavalos de potência, com 27,5 kgfm de torque a 1.600 giros, bem cedo, mas apenas com tração dianteira. Para comparar, o A5 2.0 TFSI, a gasolina, tem 190 cv, 32,6 kgfm com opção de tração integral. O câmbio é o S-tronic de sete marchas e dupla embreagem (na Europa, o manual de seis marchas vem de série).
Muda também o armazenamento de combustível, mas sem qualquer gambiarra: quatro tanques feitos de composto misto de fibra de vidro, fibra de carbono e polímeros são posicionados sob o assoalho do porta-malas e sob o banco traseiro. Há ainda um tanque de gasolina menor, de apenas 25 litros. Não há perdas no espaço para bagagem, que segue em 380 litros. Ganha-se em autonomia: os quatro tanques comportam 19 kg de GNV (que, a depender da pressão de abastecimento, correspondem de 22 a 24 m³ de gás), que somados aos 25 litros de gasolina permitem rodar pelo menos 600 quilômetros, isso nas condições brasileiras -- há quem diga que com pé mais suave, pode-se chegar a 700 km, mas não foi o nosso caso.
Prioritariamente, temos um carro a GNV: não há um botão no painel para modificar a admissão de combustível. Se houver gás nos tanques, a central de comando do motor dará prioridade a esse combustível e indicações na cor verde vão surgir no painel de instrumentos do A5: elas mostram o uso de GNV, a qualidade do teor de metano (além do GNV, é possível rodar com biogás ou com o gás sintetizado europeu -- chamado pela Audi de "e-gas"), o consumo instantâneo e médio de gás e também a autonomia, tudo de forma clara e precisa.
Quando o gás acaba, a central passa a usar a gasolina do tanque de 25 litros, sem engasgo, sem trancos, sem que o motorista note. A partir daí, restam apenas as indicações em laranja no painel, com consumo e autonomia. Tudo por conta da central única, que gerencia o motor -- é sempre bom lembrar que, nos chamados "carros convertidos" a gás, uma segunda central é adicionada em paralelo, para não se correr o risco de corromper informações da central principal e, com isso, ter uma perda total no carro. Segundo engenheiros da Comgás, com os quais também conversamos bastante, o sistema original de VW/Audi/Bosch parece ser semelhante ao que está sendo desenvolvido para a sexta geração dos "kits de conversão".
Segundo a Audi, além da autonomia generosa (e da "aula" de informação dada pelo painel), há uma redução de 25% nas emissões de poluentes.
E para quem ainda possa pensar em reclamar de que carro a gás não tem luxo, este é um Audi A5 padrão, da mesma "safra" daquele que ganhou o "Prêmio UOL Carros 2017 de Tecnologia/Inovação". Ou seja: tem sensores, radares e câmeras que o permitem rodar de forma semi-autônoma no trânsito pesado (pacote chamado de "Traffic Jam Assist"), "seguindo" os carros que estão à frente e ainda contornando curvas por conta; calça lindas rodas aro 19 (pode babar, as do modelo de teste são exclusivas do mercado alemão); tem soleiras de porta e apliques de metal do pacote de estilo S-line; projeta informações no para-brisa do veículo; e, de quebra, "conversa" com com celulares Android, ao passo em que usa caixas de som de alta-fidelidade de grife.
Como superar o preconceito?
Não apenas Johannes Roscheck, mas outros executivos da Audi, sabem que vai demorar um tanto para que consigam convencer consumidores de carros de luxo de que o GNV -- um combustível barato, de abastecimento estável e rápido, e que ainda concede ótima autonomia -- pode ser uma alternativa de propulsão.
Grande obstáculo ainda está na perda de potência para o projeto puramente a gasolina.
Mas a Audi acredita que há uma semente plantada: o A5 G-Tron se portou perfeitamente bem no Brasil. A marca também sabe que, no mercado, existem donos de Hyundai Azera, Honda Accord, Toyota Camry e similares que apelam à conversão com uso do "kit gás" e que seriam compradores ideais.
Quando, então, o G-Tron chegará? Para Roscheck, a nova geração de carros pode trazer a resposta. Futuros projetos do Grupo Volkswagen já preveem o sistema G-Tron desenvolvido por conta, com motor exclusivo, não sendo mais uma adaptação de fábrica do motor a gasolina. Com isso, afirma o presidente da Audi, a taxa de compressão pode ser ainda maior e, melhor ainda, gerando potência idêntica ou até maior que aquela dada pelo motor puramente a gasolina. A Volkswagen, aliás, trabalha também na união do motor a gás com um sistema elétrico, que poderia colocar a autonomia na faixa acima dos 1.000 km. E com custos menores na comparação com sistemas híbridos ou elétricos atuais.
Além disso, para o Brasil, o sistema G-Tron poderia ser tributado, acreditam os executivos, da mesma forma que um carro com motor 2.0 movido a etanol/gasolina, podendo ter IPI -- e portanto preço de loja -- abaixo de um similar movido só a gasolina.
São todos argumentos que poderiam acelerar o G-Tron além de qualquer preconceito de mercado. Resta esperar.
* UOL Carros agradece: Thais Villaça, Comgás
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