Recall: Brasil teve 2,1 milhões de carros chamados em 2018; dados preocupam
Menos de 15% dos clientes chamados fez reparo dos carros, que podem causar acidentes graves
O número de recalls de automóveis realizados no Brasil em 2018 cresceu em relação ao ano passado. Levantamento realizado pelo Procon-SP e pela Secretária da Justiça e da Defesa da Cidadania, a pedido de UOL Carros, aponta aumento de 9,8% no número de convocações em relação a 2017.
Segundo os órgãos de defesa do consumidor, foram 2.168.123 veículos convocados para reparos entre janeiro e dezembro, contra 1.973.053 em 2017.
Em 2018, foram realizadas 137 campanhas preventivas, ante 129 em 2017. Em relação ao percentual de atendimento -- que indica quantos veículos efetivamente foram submetidos a reparo em cada recall -- há um dado prévio (que ainda pode ter alterações), mas que indica queda expressiva: apenas 13,51% em 2018, ante 33,07% em 2017.
Este dado é perigoso, porque indica que a maior parte dos brasileiros donos de carros simplesmente estão deixando de levar os veículos às revisões de reparo, rodando com carros que podem provocar acidentes com riscos graves à saúde e mesmo à vida dos ocupantes e de terceiros.
Defeitos mais comuns
Defeitos relacionados ao sistema elétrico ou eletrônico foram a principal causa dos chamados feitos pelas montadoras ao longo de 2018, com 1.013.120 unidades ou 46,73% de todos os veículos afetados -- totalizando 25 campanhas.
Em segundo lugar, aparecem falhas nos airbags, com 26,21% e 568.229 veículos convocados em 28 recalls. Defeitos nos freios ocupam a terceira posição, com 7,54% e 163.569 unidades afetadas.
Falhas de suspensão e amortecedores; de tração (câmbio, embreagem, diferencial, eixo de transmissão); de motor; de sistema de direção; de cintos de segurança; do sistema de abastecimento; e do sistema de fechamento (portas, vidros, tampas, capô) também provocam boa parte dos recalls.
Chevrolet lidera
Considerando o ranking por marcas, a Chevrolet tem o maior número de veículos convocados em recalls ao longo de 2018, com 542.760 unidades em duas campanhas preventivas. A maior parte desses veículos faz parte do megarecall anunciado pela montadora em junho, somando 541.412 unidades dos modelos Chevrolet Onix, Prisma, Spin e Cobalt fabricadas de janeiro de 2016 a maio de 2018. Esses veículos podem apresentar falha do relê da caixa de fusíveis, capaz de causar incêndio no compartimento do motor.
É um recall quase tão grande quanto o anunciado pela Toyota em 2017 (o maior do ano passado), que afetou 563 mil Corolla, Etios e Hilux/SW4 por causa dos "airbags fatais" da Takata.
A vice-liderança do ano é da Fiat com 431.869 unidades em sete campanhas. Mais da metade deste volume corresponde ao recall anunciado no fim de junho, quando 223.034 exemplares dos modelos Uno, Argo, Mobi, Toro, Grand Siena, Strada, Weekend e Toro ano/modelo 2017 a 2019 foram convocados. Esses veículos podem apresentar falha em um relé e consequente funcionamento irregular do motor, resultando até em desligamento repentino.
A Ford aparece em terceiro lugar com 225.301 unidades afetadas em nove campanhas. Dentre os recalls com mais veículos da montadora está o dos airbags da Takata instalados na Ranger. Em junho, a fabricante chamou 35.526 exemplares da picape média, ano/modelo 2005 a 2012. No mesmo mês, a Ford também convocou 32.140 Fusion 2014 a 2018 por risco de desprendimento do volante.
Entre as marcas premium, Jeep (93.086 unidades) e Mercedes-Benz (67.362) lideram.
Recall ainda é um direito, não um dever
Desde 2002 já foram realizadas mais de 1.100 campanhas no Brasil, mas muito menos da metade dos donos simplesmente não arrumaram seu carros.
Por conta disso, há especialistas que defendem que a informação do recall efetuado conste do documento do veículo e que o dono seja punido em caso de acidente ou impedido de fazer transferência ou licenciamento se não comparecer ao chamamento -- já existe projeto de identificação junto ao Renavam, é obrigatório, mas isso não é fiscalizado.
Especialistas também defendem que chamadas feitas em TV, jornais e anúncios pouco ilustrativos são ineficazes complicados. A comunicação de recall deveria ser feita por documento registrado em nome e no endereço do atual proprietário do carro. Este, se não atendesse ao chamado, também deveria ser responsabilizado em parte, no caso de acidente, desde que estivesse ciente.
Fabricantes e o próprio Denatran poderiam trocar informação sobre contato de compradores para os casos de recall. Atualmente, leis de sigilo impedem essa comunicação.
Dúvidas gerais
- Recall é bom ou ruim?
Recalls estão previstos no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90 do CDC), que diz que as empresas não podem colocar à venda no mercado produtos ou serviços que apresentem alto grau de risco à saúde ou segurança das pessoas. Para especialistas, convocações são bons mecanismos de proteção ao comprador e de maturidade do mercado. Mas o reparo precisa ser rápido e sem estresse para o comprador.
"Caso o fornecedor venha a ter conhecimento da existência de defeito após a inserção desses produtos ou serviços no mercado, é sua obrigação comunicar o fato imediatamente às autoridades e aos consumidores", declarou o Ministério da Justiça em comunicação.
- Recall só afeta carro usado?
Não, pode haver recall de carros zero-quilômetro que sequer saíram das lojas. Há um alerta feito pela Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), observando que os compradores que já compraram do veículo, mas ainda não o retiraram, exijam que a entrega só seja feita após o reparo.
- Quanto tempo dura?
A campanha de recall precisa ser mantida por tempo indeterminado, até que todas as unidades defeituosas tenham sido reparadas.
Quando o cliente busca a concessionária ou mecânico autorizado para a vistoria e reparo, porém, a recomendação é que o prazo de devolução do carro seja curto. Segundo a Proteste, os clientes não devem tolerar prazos muito longos para execução do serviço. Qualquer problema deve ser levado aos órgãos de proteção, caso da própria Proteste, do Procon e dos Juizados Especiais.
- Quanto custa o recall?
O recall não deve ter qualquer custo para o consumidor. Tanto a análise, quanto um possível reparo devem ser gratuitos, não importando o tipo de defeito ou o prazo dado para reparo.
"Caso os consumidores tenham qualquer problema para trocarem a peça, deverão entrar em contato com os órgãos de proteção ao consumidor, considerando que não são raros os casos em que o fabricante não tem a peça disponível ou ocorre uma demora muito grande para conseguirem agendar o serviço", explicou a advogada Sonia Amaro, da Proteste.
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