Brasil ainda tem 2 milhões de carros circulando com airbags defeituosos
De acordo com levantamento da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), obtido com exclusividade por UOL Carros, menos da metade dos quase 3,5 milhões de veículos com airbags defeituosos fabricados pela Takata no Brasil, em cálculo referente ao ano completo de 2018, foram reparados (44%). Na prática, significa que quase 2 milhões automóveis permanecem circulando pelo país equipados com um ou mais airbags "fatais" -- as peças defeituosas, em vez de salvar vidas em caso de acidentes, podem ferir gravemente e até matar os ocupantes do veículo.
De 2013, quando se iniciaram no Brasil as convocações para reparo de carros com as peças defeituosas da Takata, até o fim de dezembro passado, foram feitas 60 campanhas preventivas em veículos de 13 montadoras, todas clientes da Takata. Somente em 2018, foram mais de 318 mil automóveis chamados.
Nestes cinco anos de ações, ainda segundo dados da Senacon, ligada ao Ministério da Justiça, foram registradas pelo menos 12 pessoas feridas no Brasil por conta da falha no equipamento de segurança -- que pode explodir e liberar estilhaços por toda a cabine -- não há informações sobre mortes no Brasil. Conforme UOL Carros mostrou no último ano, apenas nove processos foram abertos contra fabricantes -- saiba como proceder no caso de uma ação judicial por conta dos airbags defeituosos.
Parêntese necessário: esse é um caso que ainda em 2019 segue não apenas em aberto, como com "novidades". Na última semana, um novo "mega-recall" envolveu outras 379.689 unidades de modelos da Toyota -- Corolla, Fielder, Hilux e SW4 foram afetados. Com esse novo caso, que ainda não é computado pelas estatísticas oficiais do governo, o total histórico de modelos afetados no país salta de 3,5 milhões para quase 3,9 milhões de veículos -- quando este novo recall for computado pelo Senacon, o total de carros não corrigidos deverá passar de 2,2 milhões.
No muno todo, estima-se que 23 pessoas tenham morrido por conta de ferimentos sofridos em explosões dos airbags da Takata, com mais 300 feridos. Somente nos Estados Unidos, segundo a NHTSA (agência de segurança viária daquele país), são mais de 37 milhões de veículos afetados.
Marcas mais afetadas
A marca com mais unidades afetadas é a Toyota, pelo cálculos oficiais. São mais de 1,76 milhão de veículos em 12 campanhas apontadas pelo Senacon. A conta da Toyota, porém, é diferente: lista "apenas" 1.051.734 veículos da empresa com o defeito de airbags.
A Honda tem 1,44 milhão de unidades convocadas e um detalhe: todas as 12 vítimas listadas oficialmente como vítimas dos airbags "fatais" no Brasil estavam em carros da marca. A Toyota teve um caso confirmado de explosão de airbag, mas sem deixar vítimas.
A terceira colocada também é japonesa: a Nissan soma até agora pouco mais de 330 mil automóveis afetados.
Fiat-Chrysler, Mitsubishi, BMW, Subaru, Honda Motos, Audi, Chevrolet, Ferrari, Ford, Mercedes-Benz, Renault e Volkswagen também possuem modelos afetados pelos airbags explosivos.
Considerando apenas os chamamentos atendidos de 2013 a 2018, a Toyota diz ter reparado quase metade dos carros que assume como afetados (499.016 unidades).
Já a Honda soma 704.262 reparos ou 48,6%. Por sua vez, o percentual geral de comparecimento da Nissan não pôde ser calculado, pois a montadora não informou à Senacon até a publicação desta reportagem o total de veículos atendidos em duas das sete campanhas preventivas que já iniciou no Brasil.
"Conscientes da gravidade do recall de insufladores de airbag da Takata, a Honda está liderando uma série de iniciativas pioneiras para elevar o índice de atendimento da campanha. Além do que exige a legislação vigente, foram realizadas veiculação nacional de vídeo exclusivo em TV aberta para alerta aos clientes, convênios com os Detrans de São Paulo e Paraná, campanhas em mídias digitais, call center ativo, entrega de folhetos em pedágios, parceria com seguradoras e empresas de cobrança automática de pedágio, ações presenciais em grandes metrópoles, divulgação de peças de comunicação em caminhões-baú, entre outras", afirmou a Honda do Brasil, em resposta a UOL Carros.
A Toyota lista medidas semelhantes, frisando a formação de mais de 50 analistas de call center ativos em contato direto com proprietários, promotores em eventos com grande presença de donos de carros da marca nas maiores cidades e até processos contra o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e o Serpro (Sistema de Processamento de Dados, órgão ligado ao governo federal e à Receita Federal).
Por que é difícil resolver esse tipo de problema?
Por lei, as fabricantes são obrigadas a avisar por carta o proprietário de cada veículo a respeito do início do recall e dar as informações necessárias para providenciar o reparo, bem como divulgar a campanha preventiva em anúncios publicados em grandes veículos de comunicação. É praxe para qualquer tipo de convocação.
Acontece que o brasileiro tem dado cada vez menos importância a campanhas de recall, um comportamento perigoso, conforme UOL Carros apontou: em 2018, donos de carros responderam a menos de 15% do total de convocações feitas. Historicamente, a média é de 30%.
Porém, no caso dos airbags "fatais", a extensão do defeito em unidades e em tempo de produção complica ainda mais esse cálculo. Embora as campanhas tenham se iniciado em 2013, muitos veículos convocados têm mais de 15 anos de fabricação, já mudaram de dono mais de uma vez e as empresas têm dificuldade de localizar o atual proprietário.
"Vale notar que, no Brasil, a troca de veículos se dá, em média, a cada três anos. Portanto, é comum que com o passar do tempo os carros mudem de donos, que nem sempre retornam às concessionárias para realizar as revisões e eventuais reparos periódicos, dificultando a atualização dos dados do proprietário", aponta a Honda em comunicado enviado a UOL Carros.
Há um complicador burocrático também: há dez anos circula um projeto que obriga que informações sobre o recall constem da documentação do veículo, até hoje não implementado. Pelo projeto, haveria um sistema de compartilhamento e atualização dos dados dos clientes, de acesso público, além do bloqueio da transferência em caso de não-comparecimento às convocações.
Sem esse tipo de medida, achar o dono de carros mais antigos é depender da sorte... ou da comprovação de acidentes.
A Toyota exemplifica com o caso do único carro de sua empresa a ter explosão de airbags, um Corolla 2002 que circulava na região Norte do país:
"Como o proprietário do veículo em questão não era o original e não havia feito nenhuma manutenção ou reparo na rede de concessionárias Toyota, a empresa não tinha conseguido contatá-lo, mesmo depois de ter realizado todas as comunicações descritas", apontou a empresa.
A comunicação havia sido tentada por carta ao dono original, anúncios em TV, rádio e jornais de circulação nacional -- "de acordo com a legislação brasileira" -- informou a fabricante. Tudo em vão. O veículo só foi localizado após acidente e explosão do airbag, como dissemos, num caso sem vítimas, felizmente.
$escape.getH()uolbr_geraModulos('embed-foto','https://webmasters.uol.com.br/v3/gera-modulos/export/preview/photo-embed/2019/airbags-takata-eua-1549330558786.htm')
Problema tende a piorar
A baixa adesão aos recalls da Takata é ainda, em si, um agravante: quanto mais tempo se passa, e em caso de exposição prolongada do veículo a variações elevadas de temperatura e umidade, o componente defeituoso dos airbags frontais de motorista e passageiro, chamado deflagrador, pode se deteriorar ainda mais.
Quando a bolsa é acionada, numa batida mais forte, ela não se infla. O deflagrador falho projeta fragmentos metálicos contra os ocupantes, como se fossem balas de revólver.
Em setembro do ano passado, o DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor), vinculado à secretaria, convocou a Honda a dar esclarecimentos sobre acidentes envolvendo veículos da marca inseridos em campanhas de recall de airbags, que tiveram vítimas com ferimento. O caso só ocorreu por conta dos acidentes com feridos envolvendo os carros da marca.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.