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Ford e Caoa ainda não fecharam acordo e "chão de fábrica" vive incerteza

Funcionários da unidade do ABC ficaram cerca de 40 dias de braços cruzados e só voltaram com notícia de suposta venda da fábrica - Rodrigo Paiva/Folhapress
Funcionários da unidade do ABC ficaram cerca de 40 dias de braços cruzados e só voltaram com notícia de suposta venda da fábrica
Imagem: Rodrigo Paiva/Folhapress

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

18/04/2019 07h00Atualizada em 18/04/2019 12h51

Resumo da notícia

  • Funcionários negam que acordo por fábrica de S. Bernardo foi fechado
  • Posição de sair do segmento de caminhões está mantida
  • Com greve e alagamento, produção do Fiesta parou 50 dias
  • Gestores tiveram de fazer home office durante paralisação

Passados dois meses após o anúncio do fechamento da fábrica em São Bernardo do Campo, em 19 de fevereiro, o clima entre os funcionários da Ford ainda é de incerteza, enquanto prosseguem negociações para eventual venda das instalações no ABC paulista. Conforme já divulgado, a unidade fabril, que ficou cerca de 40 dias em greve, iniciada no mesmo dia em que a notícia do fim das atividades veio a público, seguirá produzindo até novembro.

A sensação de insegurança quanto ao futuro afeta especialmente os chamados trabalhadores de "chão de fábrica", envolvidos diretamente na produção de veículos, e de áreas como logística, segundo fontes ligadas à marca. "Já sabíamos, algum tempo antes do anúncio, que a fábrica seria fechada por decisão da matriz, mas tivemos de manter segredo".

UOL Carros procurou Ford e Caoa: a marca norte-americana afirmou que não vai comentar as declarações. Executivos da marca brasileira ainda não retornaram os contatos feitos pela reportagem.

Nada fechado

Fontes também informam que o acordo para a Caoa assumir as operações da fábrica em São Bernardo não está fechado e que, se for de fato consumado, não deverá dar continuidade à montagem de caminhões da oval azul, sob licenciamento ou por meio de "joint-venture" -- modelo de negócio atualmente adotado na Turquia, hoje único local, além do Brasil, a fazer caminhões da marca norte-americana. "A Ford está saindo definitivamente do segmento de caminhões".

Segundo a "Agência Estado", a Caoa pretende manter a produção de caminhões leves da Ford e também de utilitários pesados da Hyundai, marca sul-coreana que a empresa brasileira representa no Brasil.

A linha do ABC hoje é responsável por fabricar caminhões Cargo, as linhas F-350 e F-4000 e o Fiesta, único carro de passeio produzido no local e que já teve o fim de linha decretado para 2019 -- juntamente com Focus e Focus Sedan, estes fabricados em Pacheco, na Argentina, até maio.

Apesar das incertezas e de outros reflexos da reestruturação local da Ford, como o plano de demissão voluntária que está em andamento em Camaçari (BA), ouvimos que "o pior já passou".

A linha de produção baiana será a única fábrica de automóveis da Ford no país, hoje responsável por fazer Ka e EcoSport, seus produtos mais rentáveis e que mais vendem em termos de volume.

Home office

Também ouvimos que, durante a greve dos trabalhadores, iniciada em 19 de fevereiro e encerrada no último 2 de abril, a área administrativa e de gestão ficou trabalhando em casa, fazendo "home office", para evitar eventual confronto com os grevistas, que mantiveram assembleias quase diárias em frente aos portões da fábrica, mobilizados na esperança de manterem os empregos. Cerca de 3.000 empregados diretos, mais outros 1.500 indiretos, atuam na fábrica paulista.

O sindicato local chegou a se reunir com dirigentes da Ford nos Estados Unidos para reverter a decisão, sem sucesso.

Coincidência ou não, a paralisação foi encerrada no mesmo dia em que circulou a informação do suposto acordo para a Caoa assumir as operações.

Produção do Fiesta 50 dias parada

Segundo relatos, além dos 40 dias de greve, durante os quais nenhum veículo foi fabricado em São Bernardo, a produção do Fiesta ficou parada por mais dez dias após o fim da greve, aproximadamente, por conta da forte chuva que atingiu a cidade no dia 10 de março e que alagou as instalações responsáveis pela produção do hatch. Na ocasião, a fábrica da Mercedes-Benz, que fica ao lado e produz caminhões, também teve a produção interrompida por conta da inundação.

"As duas fábricas são praticamente vizinhas de muro. No caso da Ford, a chuva atingiu apenas a linha de montagem de automóveis, que fica na parte baixa do terreno, enquanto a linha dos caminhões ficou preservada. Após o fim da greve, foram necessários mais dias sem fabricar o Fiesta para fazer a limpeza das instalações e retomar a produção", ouviu a reportagem.

Outra fonte admitiu que essa longa parada pode eventualmente ter afetado os estoques do hatch em algumas regiões do país. Ao mesmo tempo, soubemos que ainda há na rede de concessionárias algumas unidades do Fiesta Sedan, importado do México, e do Fiesta hatch com câmbio Powershift, apesar de ambos já não aparecerem mais no site comercial da montadora.

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, os funcionários irão trabalhar para produzir 1,7 mil Fiestas e 843 caminhões até o fim da operação oficial da Ford.

Vale destacar que o Fiesta já vende pouco. Segundo a Fenabrave, a federação das concessionárias, o compacto da Ford teve 1.620 unidades emplacadas de janeiro a março, figurando como o 48º carro mais vendido no período, contra 18.279 do líder Chevrolet Onix. Fonte consultada pela reportagem informou que o impacto foi pequeno, pois a Ford já previa a greve e formou estoque antes de anunciar os planos de fechamento.

Focus: último lote já chegou

Por fim, o Focus: apesar de a produção de hatch e sedã médios continuar até o mês que vem na Argentina, as unidades que ainda restam a ser montadas serão exclusivamente para abastecer o país vizinho. O último lote para o Brasil já chegou e, quando se esgotar, não haverá mais veículos aqui -- não obtivemos a informação de quando e quantas unidades compõem esse lote.