"Não vejo mais essa figura do carro nacional", diz presidente da Anfavea
Resumo da notícia
- No Dia do Automóvel, veja entrevista com Luiz Carlos Morais
- "Nesse mercado você tem de ter escala", sobre possível marca brasileira
- Mesmo grandes montadoras não serão capazes de investir sozinhas, diz executivo
- Morais prevê mais fusões, alianças e parcerias
Hoje, 13 de maio, é comemorado o Dia do Automóvel, data instituída lá em 1934, pelo governo Getúlio Vargas. A intenção original era homenagear a primeira rodovia totalmente pavimentada do Brasil, interligando as cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis.
A indústria automotiva daqui nasceu com a Ford há cem anos, inicialmente restrita à montagem de peças importadas, e sempre teve companhias estrangeiras nos seus alicerces. Isso não impediu o início da produção verdadeiramente nacional, a partir da década de 50, e a criação de marcas brasileiras como Gurgel, Puma, Miura e Trolller -- embora com fabricação em menor escala.
Sem mencionar carros projetados sob medida ao nosso mercado, eventualmente exportados a outros países e que até viraram modelos globais -- vide o exemplo do Ford EcoSport, criado aqui e vendido também na Europa e nos Estados Unidos. Aliás, em um mundo cada vez mais globalizado, existe hoje viabilidade para um carro genuinamente brasileiro?
Para Luiz Carlos Moraes, o novo presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a resposta é não. "Eu não vejo mais essa figura do carro nacional", crava.
O executivo avalia que, em tempos de conectividade e internet, a necessidade crescente de escala e altos investimentos inviabiliza a aparição de uma nova Gurgel. Também pressiona as grandes montadoras, destaca. Confira a entrevista, realizada durante a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP).
UOL Carros - O que vem à mente quando se fala em carro brasileiro?
Luiz Carlos Moraes - Eu não vejo mais essa figura do carro nacional. Eu vejo um carro moderno, tecnologicamente atualizado e produzido no Brasil. Já não vejo mais isso há muito tempo. O nosso consumidor está muito conectado, está muito ligado e querendo coisas diferentes. Hoje, com a internet, não tem mais essa distância daqui com o que tem sido lançado lá fora. As coisas estão muito atualizadas.
UOL Carros - No que você acha que a indústria brasileira se notabiliza em relação a outros mercados?
Luiz Carlos Moraes - Acho que os carros aqui estão caminhando na questão da segurança, tecnologia, e agora, com o Rota 2030, ainda mais. O que a gente tem de ruim é uma frota muito antiga, que não se renova e continua trazendo consequências para a segurança veicular, meio ambiente. Esse é o problema do Brasil. A gente não consegue tirar os veículos antigos. Mas os veículos novos estão muito atualizados.
UOL Carros - Por que o Brasil não consegue desenvolver uma marca própria hoje?
Luiz Carlos Moraes - Eu acredito que nesse mercado você tem de ter escala. Mesmo as grandes montadoras lá fora estão se reinventando. No novo cenário da conectividade, da mobilidade, mesmo as grandes montadoras no exterior não serão capazes de realizar os novos investimentos em tecnologia sozinhas. Alianças, fusões e parcerias vão ser muito maiores do que a gente teve no passado. Até alianças entre empresas competidoras. Já estamos vendo no Brasil, com Volkswagen e Ford, que já estão conversando. Daimler e BMW também.
Não tem mais espaço mais para a empresa fazer tudo sozinha, querer fazer tudo, porque o investimento é muito alto.
*Viagem a convite da Anfavea
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