Da ameaça de deixar país ao investimento: "Fiz o certo", diz chefão da GM
Resumo da notícia
- Presidente da GM deu entrevista a revista "Istoé Dinheiro"
- Executivo criticou alta carga de imposto e falta de reformas
- Para Zarlenga, governo federal deveria incentivar indústrias
- Fraqueza na exportação e câmbio complicado são principais dificuldades
- Zarlenga diz que seria mais fácil e barato sair, mas que com reformas quadro seria outro
O argentino Carlos Zarlenga, presidente da General Motors América do Sul e também chefão das operações da empresa no Brasil, concedeu longa entrevista aos repórteres Celso Masson e Klester Cavalcanti para a revista "Istoé Dinheiro" ("Sem exportação, a indústria automotiva no Brasil não tem futuro"), na qual tratou das operações da Chevrolet no Brasil, falou sobre as dificuldades do mercado automotivo nacional e afirmou que muitos analistas não acreditaram que a GM pudesse mesmo fechar as portas no Brasil. Zarlenga disse, na conversa, que de fato não era blefe: sairia mais barato deixar o Brasil, mas que a empresa decidiu gastar três vezes mais para "fazer o certo".
No final de dezembro, Zarlenga ameaçou fechar as fábricas da GM e abandonar o Brasil, afirmando que a marca tem prejuízos recorrentes, mesmo sendo líder de mercado desde 2015 e acumulando também a ponta com o carro mais vendido do país, bem como a liderança de mercado na América Latina. Três meses depois, fechou acordo com o governo de São Paulo para receber isenções fiscais após prometer investimento de R$ 10 bilhões.
Na entrevista, após responder a questões sobre como a GM pretende investir os R$ 10 bilhões anunciados, como o câmbio desfavorável prejudica a indústria, Zarlenga falou sobre como foi equacionar o anúncio de investimento após considerar riscos de fechar ou não fábricas no país e ser criticado por isso, afirmando que preferiu meu mentir, ser transparente e enfrentar as dificuldades do país.
À pergunta dos repórteres da revista "como o senhor recebeu as críticas ao anúncio de que a GM poderia fechar as fábricas no Brasil?", Zarlenga esclareceu o cenário global, afirmando que até parecia mais simples encerrar operações locais, mas não necessariamente a melhor escolha.
"Alguns não acreditaram. Achavam que era apenas uma ameaça. Quem pensou isso estava seriamente mal informado. O Brasil representa apenas 2,5% da indústria automotiva global. É uma fatia importante, mas ainda pequena. Os EUA ocupam 20% do mercado. (...) Quero lembrar que nós fechamos nossas fábricas na Europa, na Rússia, na Índia, na Austrália, na África do Sul. E foi a melhor coisa que já fizemos. (...) Sabe qual é o custo para a GM sair do Brasil? US$ 1 bilhão. O que é melhor? Gastar US$ 1 bilhão para fechar tudo ou colocar mais US$ 3 bilhões para seguir trabalhando e tentando fazer o negócio dar certo?", afirmou Zarlenga à "Istoé Dinheiro".
Na íntegra da entrevista, com data da sexta-feira (17) e que pode ser lida no site a publicação econômica, o presidente da GM América do Sul afirmou ainda que poderia ter decidido fechar apenas as fábricas paulistas, que hoje fabricam Cobalt, Montana, Spin, S10 e TrailBlazer, ficando apenas com a unidade de Gravataí (RS), que produz o líder Onix (além do sedã derivado Prisma). Ele, porém, afirmou não poder cravar que tal medida daria certo em termos de lucratividade.
Imposto, questões trabalhistas e exportação
Sem citar uma única vez nominalmente o presidente Jair Bolsonaro, o executivo criticou a dificuldade do governo federal em negociar, bem como a inabilidade em, até o momento, promover as reformas tributária e da Previdência, bem como em não dar pistas de como ajudará a indústria local a ser competitiva para conseguir crescer internamente, mas também exportar -- para o executivo, passo fundamental para ter um negócio saudável.
"Há riscos [de queda ampla nas vendas] nos Estados Unidos e na China, as duas maiores potências do mundo. O problema é global. No Brasil, é ainda pior, por causa da tributação altíssima. Os impostos que pagamos aqui são tão exorbitantes que fica mais barato fabricar um carro na Coreia do Sul e vender em São Paulo do que fazer esse mesmo carro em São Paulo e vender no próprio estado. Outro grave problema é a questão cambial. Ninguém sabe para onde vai o real", afirmou Zarlenga.
Afirmando que os produtos automotivos brasileiros sofrem com carga de 53% de impostos, Zarlenga diz que o Brasil precisa de um ajuste fiscal, mas também de política nacional de incentivo à indústria -- como fazem, segundo o executivo, Alemanha, EUA, Japão e Coreia do Sul --, para que empresas se tornem competitivas e consigam exportar não apenas a países vizinhos, mas ao restante do mundo.
"Vamos tomar como exemplo o Chevrolet Cruze. No Brasil, esse carro é vendido na casa dos US$ 30 mil. Nos EUA, ele custa US$ 25 mil. Se tirarmos os impostos, ele custaria US$ 16 mil (46% a menos) no Brasil e US$ 18 mil (redução de 28%) nos EUA. O grande problema é o imposto. Sem o ajuste fiscal, nada funciona".
Por outro lado, citou o governo estadual paulista mais de uma vez e pelo menos uma vez o nome do governador João Doria. Para o executivo, o político do PSDB "entendeu [a situação delicada da indústria]" ao propor acordo de abatimento de imposto, afimando que a medida vai beneficiar "todos os interessados: a GM, o Brasil, os trabalhadores e os consumidores".
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