Topo

Chrysler já flertou com a Renault antes; conheça a história

Getty Images
Imagem: Getty Images

Rodrigo Mora

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

30/05/2019 11h35

Resumo da notícia

  • Durante crise de 2008, Chrysler procurou parcerias para escapar da bancarrota
  • Um das apostas foi doi com Renault-Nissan
  • No auge da crise econômica global, Chrysler foi salva pela Fiat

Não é a primeira vez que executivos da Chrysler trocam olhares sedutores com os da Renault. Enquanto a crise de 2008 borbulhava, o então vice-presidente do conselho e presidente da Chrysler, Tom LaSorda, não tinha outra alternativa senão bater de porta em porta em busca de um parceiro/comprador para salvar a empresa da bancarrota. Apenas dinheiro não resolveria as limitações tecnológicas, estruturais e logísticas da montadora -- como funcionou para General Motors e Ford, as outras conterrâneas que também pediram ajuda ao governo norte-americano.

Uma das principais apostas de LaSorda foi na aliança Renault-Nissan. "Executivos de ambas as companhias fizeram mais de meia dúzia de reuniões cara a cara em Auburn Hills, Paris, Nova York e Tóquio. Passaram pelo ritual completo do acasalamento. Os executivos da Chrysler visitaram os centros de design da Renault-Nissan e realizaram test-drives em seus veículos. A Chrysler produziria as picapes Nissan e se juntaria à sua aliança de compras, e um carro compacto a ser construído no Japão estava em desenvolvimento. Em julho, eles chegaram ao ponto de assinar uma carta de intenções", revela a escritora Jennifer Clark em "Nos bastidores da Fiat -- a ousadia de uma tradição que se reinventou e venceu a crise" (Editora Saraiva, 2012).

Ocorre que a Fiat, já comandada por Sergio Marchionne, também buscava parceiros. E uma conversa inicial entre este e LaSorda já tinha sido iniciada em março daquele ano, informalmente, quando os dois se reuniram para anunciar que a Fiat compraria a TriTech, fabricante brasileira de transmissões que pertencia à Chrysler.

O resto é história: o memorando do acordo entre Fiat e Chrysler -- duas fabricantes pequenas que uniram forças para formar a hoje poderosa FCA -- foi assinado em 29 de dezembro de 2008; em 30 de abril de 2009, a Fiat compra 20% da Chrysler -- que passa a ser 100% da empresa italiana em janeiro de 2014. Em outubro, é formada oficialmente a Fiat Chrysler Automobiles.

Sergio Marchionne, agora ex-diretor-executivo da FCA - Piero Cruciatti/AFP - Piero Cruciatti/AFP
Sergio Marchionne e Grupo Fiat salvaram Chrysler no final de 2008
Imagem: Piero Cruciatti/AFP

JUNHO

As conversas sobre uma possível fusão entre FCA e Renault eclodiram às vésperas de junho, que promete ser um mês intenso -- especulações, dúvidas, projeções e declarações de executivos dos dois lados devem ser protagonistas do mundo automotivo nas próximas semanas.

Coincidência ou não, junho parece concentrar grandes momentos da vida da FCA. Foi em 6 de junho de 1925 que a Chrysler Corporation foi fundada.

Em 21 de junho de 1969 a Fiat comprava 50% da Ferrari.

E a talvez mais importante das decisões, que de certa maneira culmina no atual aceno entre o conglomerado ítalo-americano e a companhia francesa, foi tomada em 1 de junho de 2004, quando Sergio Marchionne fora nomeado CEO da FCA.

Nascido a 17 de junho de 1952, na Itália, e criado no Canadá, Marchionne chamou a atenção de John Elkann pelo trabalho que executara na SGS, empresa de inspeção de qualidade que pertencia à família Agnelli. Sua experiência na indústria automotiva se limitava a um posto no conselho diretor da Fiat, muito mais ligado às finanças da empresa do que às estratégias industriais ou de produto da montadora.

Quando assumiu, Marchionne (morto em julho passado) virou a Fiat do avesso e rompeu com a cultura familiar da empresa até então vigente. Parece ter dado certo: dos bilhões de prejuízo por ano no início dos anos 2000, a empresa foi para o centro de uma das maiores fusões automotivas que o mundo poderá ver.