Indústria de carros do Brasil vai morrer sem tecnologia, diz Mercedes
Resumo da notícia
- Phillipp Schiemer diz que indústria "não vai investir em quem não é competitivo"
- Executivo acredita que Brasil está "perdendo o trem para o futuro"
- Chefão da FCA endossa discurso e ainda cobra incentivos do governo
Se o Brasil não for mais competitivo e oferecer menos risco a médio prazo, especialmente em relação à volatilidade cambial, vai perder acesso a novas tecnologias automotivas e a indústria local corre o risco de morrer.
Essa é a avaliação de Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO da marca para a América Latina, durante o Fórum Estadão Think: Exportar para Gerar Riquezas e Empregos.
"O mundo global automobilístico está se transformando muito rapidamente e não estamos prestando atenção nisso. Tecnologias que estão se impondo como condução autônoma, eletrificação, conectividade e compartilhamento exigem investimento muito forte das matrizes. O dinheiro está escasso e não vão investir em quem não é competitivo", afirmou o executivo.
Para Schiemer, a indústria automotiva local "precisa" dessas novas tecnologias para ter a mencionada competitividade. E o momento de trazê-las para cá é agora. "Se não tivermos acesso, a indústria daqui vai morrer. Estamos perdendo o trem para o futuro", sentenciou.
Antonio Filosa, presidente da FCA América Latina, segue a mesma linha e destaca a necessidade de inovação para o Brasil se manter atraente para as matrizes das grandes montadoras.
"A contínua transformação do setor automotivo passa por dois pontos. O primeiro é um marco regulatório do governo, para garantir previsibilidade, e o segundo é investir em inovação, cada vez mais focada em eletrificação, hibridização e a parte digital, com inteligência artificial e mais conectividade".
Os executivos alinharam o discurso em defesa da simplificação e da desoneração tributária para alavancar as exportações, aumentar a competitividade e trazer investimentos ao país.
"A agenda de reformas do governo para incentivar a economia está correta, mas resta saber qual será a capacidade de execução do governo", disse Carlos Zarlenga, presidente da GM na América do Sul -- uma das patrocinadoras do evento.
Para ele, o Brasil tem capacidade para virar um polo exportador para ficar menos sujeito às variações cambiais e da economia local. "Ninguém investe aqui para exportar, mas temos uma capacidade instalada de cerca de 5 milhões de veículos, que está parcialmente ociosa", analisou Zarlenga.
O executivo diz que como estratégia o país deveria exportar pelo menos 1 milhão de veículos por ano. A Coreia do Sul exporta mais de 50% da sua produção e aqui exportamos apenas o que sobra. Algo está errado."
Zarlenga e os demais mencionaram também a questão da devolução de créditos do ICMS recolhido pelas montadoras locais na produção e que não é recuperado ou demora a ser devolvido pelos governos na hora de exportar. O que acaba encarecendo o produto daqui.
"Se a carga tributária do Brasil é altíssima, porque onerar o consumidor chileno? Para eles é melhor comprar da China, da Coreia com carga tributária muito melhor", concluiu.
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