Clientes de carros PCD contam as vantagens e os problemas que enfrentam
O segmento de carros PCD, voltado a pessoas com deficiência, tem crescido substancialmente e também se tornado mais conhecido ao longo dos anos no Brasil. Além disso, houve uma "simplificação" dos processos para ter direito a adquirir um veículo com isenção de impostos - apesar de a burocracia ainda ser queixa recorrente.
Em 2018, 264 mil carros foram comercializados o País dentro do programa PCD, o que representou 13,5% de todos os veículos emplacados no período. No primeiro semestre de 2019, o número de unidades vendidas nessa modalidade cresceu 30% em relação ao mesmo período no ano passado. Os dados são da Abridef (Associação Brasileira da Indústria, Comércio e Serviços de Tecnologia Assistiva).
Os consumidores
O engenheiro Múcio Pedros, de 60 anos, faz parte desta parcela significativa de clientes PCD. Morador de Belo Horizonte (MG), ele está no quarto carro comprado com as isenções previstas por lei, o que pode resultar em descontos de até 26%, aproximadamente.
Múcio ficou paraplégico em 2006 e, no ano seguinte, comprou o seu primeiro carro que precisou de adaptação. Atualmente, ele tem um veículo automático 2018. "Assim que passei a usar carro automático, ficou muito difícil voltar ao câmbio manual adaptado", conta.
Vera Aparecida dos Santos também tem vasta experiência com veículos PCD. Moradora de São Paulo, capital, a aposentada de 55 anos comprou seu primeiro veículo com benefícios em 2003, após ser diagnosticada com câncer de mama.
Ela destaca como o mercado evoluiu em termos de ofertas e de processos para aquisição do veículo. "No começo foi difícil, demorava até seis meses para ser liberado. Entre Receita e Posto Fiscal, era muita burocracia, vários documentos e tinha que reconhecer firma. Da última vez foi muito ágil, tudo via internet, não tem mais que reconhecer firma. Em 20 dias já estava com o pedido do carro", compara.
O aposentado Nivaldo dos Santos, de 75 anos, não teve tantas facilidades burocráticas. Morador de Cabo Frio (RJ), ele levou quase um ano e meio para comprar um carro automático 2019 com desconto. Teve o contratempo de errarem seu CPF no pedido feito ao Detran-RJ. Depois, os laudos foram rejeitados duas vezes pela médica credenciada.
Portador de uma doença do coração, ele tem diversas próteses nas artérias principais do corpo, o que limita sua capacidade de esforço. Apesar da demora, Nivaldo acredita que, nas próximas compras PCD, as etapas serão mais ágeis. "O primeiro carro é mais complicado, tem de ter paciência. Depois, é fácil. Até a perícia médica de quem vai na primeira vez é diferente. Acredito que, a partir do segundo carro, as coisas fiquem mais simples", torce.
Após adquirir seu primeiro veículo automático, Santos reconhece que ainda está se adaptando. "Pode ser que venha a me acostumar, mas, no momento, existem prós e contras. Carro automático você coloca em drive e vai direto, não troca a marcha, é confortável. Mas esse carro não tem uma retomada de velocidade instantânea como no câmbio manual", exemplifica.
As vantagens
Câmbio automático também é sinônimo de praticidade para Vera dos Santos, que comemora o fato de não ter de fazer esforço para pisar na embreagem e trocar as marchas. Para ela, é um benefício proporcionado pelo sistema de venda direta PCD.
"É um tipo de compra muito vantajoso, que vale a pena. Se não fosse isso, acho que nunca teria um carro zero-quilômetro automático porque o valor é muito alto. Com o desconto, consigo comprar", acredita. "A isenção de impostos é bastante válida. A pessoa PCD já tem muitas restrições e dificuldades na vida diária e qualquer coisa que facilite a vida dela será bem-vinda", faz coro Múcio.
Congelamento
Uma crítica comum entre os clientes PCD, porém, diz respeito ao teto de R$ 70 mil para a compra de um carro novo com isenção. O valor está congelado há quase uma década e limita as opções de compra para quem quer o abatimento total de impostos - acima disso, só se tem desconto de IPI, tributo federal.
"Esse valor de R$ 70 mil de hoje está muito baixo. Vão 'depenando' o carro para mantê-lo dentro do limite. Daqui a pouco vai vir sem roda, sem motor... vai vir a carcaça e você compra o resto", diz o engenheiro civil Carlos Ney Andrade, de 69 anos, dono de um veículo 2017.
Para Múcio Pedrosa, alguns itens também são necessários para esse perfil de consumidor. "O PCD precisa de carro automático e com todos os acessórios importantes para a sua mobilidade e independência, tais como porta-malas grande, câmera de ré, piloto automático, GPS e viva-voz. As opções de compra ficam cada vez menores", critica. "Infelizmente, parece que muitas pessoas estão usando essas isenções sem realmente precisarem. Para resolver a questão, bastaria melhorar a fiscalização e não restringir o limite", completa.
Rodrigo Rosso, presidente da Abradef, diz que uma das bandeiras da entidade é justamente aumentar o combate às fraudes e elevar o teto para se obter isenção de ICMS. Segundo cálculos da associação, pela inflação, o limite hoje deveria estar atualizado em R$ 200 mil, mas ele acredita que o teto ideal deveria ser fixado entre R$ 90 mil e R$ 100 mil.
"Uma hora vai acabar sendo atualizado esse valor. A Abridef, a Anfavea e a Fenabrave trabalham juntas para apresentar ao governo uma solução para a questão das fraudes. A gente não pode tirar de quem precisa em função dos poucos que fraudam", defende.
De qualquer maneira, o próprio mercado evoluiu. Hoje, além das versões específicas, fabricantes e concessionárias dispõem de equipes de vendas especializadas em PCDs. Além disso, há empresas e despachantes especializados nesse tipo de compra.
"Em 2005 ninguém sabia como agir. Na minha primeira compra de carro PCD, tive de ensinar os processos ao vendedor. Hoje, todas as concessionárias têm um profissional exclusivo para PCD. No entanto, a burocracia ainda é tremenda", afirma Carlos Ney.
"Se você não quiser fazer o processo sozinho, já existem despachantes que fazem o processo para você. Eles cobram um valor e depois a concessionária te devolve em dinheiro ou com acessórios para o carro", dá a dica Vera dos Santos.
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