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Os perrengues que a equipe de apoio do Rally dos Sertões já encarou

Ambulância é uma espécie de UTI móvel - Paulo Amaral
Ambulância é uma espécie de UTI móvel Imagem: Paulo Amaral

Paulo Amaral

Colaboração para o UOL, de Costa Rica (MS)*

26/08/2019 14h09

Quem vê os pilotos que fazem o Rally dos Sertões cortando as estradas de terra em alta velocidade não imagina que há uma equipe de apoio passando por perrengues para evitar - ou ao menos minimizar - que graves acidentes aconteçam.

Pelo menos foi isso o que explicaram à reportagem de UOL Carros os médicos Francisco Barros e Jorge Vigorito, da Vigor, empresa de Logística em Saúde que acompanha os pilotos da competição nas mesmas trilhas encaradas pelos profissionais da velocidade.

Há quatro anos executando tal função, Jorge Vigorito destacou a importância do trabalho da equipe formada por dez socorristas e cinco médicos.

"O mais gratificante é o reconhecimento dos competidores. Eles sabem que podem contar com bons profissionais. Poder exercer a medicina em áreas isoladas, quase remotas, é o nosso maior desafio e o reconhecimento pelo trabalho bem feito é o objetivo final."

Para que o trabalho fique "bem feito", no entanto, os obstáculos são, às vezes, muito maiores do que as trilhas de terra e lama que eles precisam encarar para acompanhar de perto os pilotos participantes do Sertões.

Francisco Barros contou que, em uma edição recente da prova, por pouco não viu se formar um verdadeiro engarrafamento, digno dos que até hoje são vistos nas principais avenidas das grandes metrópoles, em frente a uma fazenda em Goiânia.

"A organização já havia deixado tudo combinado com a dona de uma fazenda que os competidores passariam por dentro da propriedade e seguiram caminho. Acontece que, na hora, um dos capatazes que trabalhava lá resolveu fechar a porteira e não queria abrir de jeito nenhum. Foi uma canseira para convencê-lo de que estava tudo certo, mas, no final, acabou correndo tudo bem".

O imprevisto acabou acontecendo novamente já no segundo dia dos Sertões 2019, o que acabou encurtando a disputa do trecho que liga Campo Grande a Costa Rica, no Mato Grosso do Sul.

Após concordar com a passagem dos pilotos por suas terras, um fazendeiro da cidade de Cassilândia simplesmente fechou a porteira depois que alguns UTVS cruzaram o local. A inesperada decisão obrigou os competidores a alterar o caminho e percorrer 200 quilômetros por estradas de asfalto até o destino final do dia.

Para o chefe da equipe, Jorge Vigorito, o mais importante nessas horas é manter a tranquilidade e entender o outro lado. "Existe um trabalho técnico feito com meses de antecedência para evitar esse tipo de acontecimento, mas não estamos livres de que eles aconteçam. Às vezes a dona de uma propriedade está mal-humorada, outra pessoa quer passar pela estrada e não entende que logo virá um veículo a mais de 100 quilômetros por hora na direção dela. Você tem que conversar com calma e explicar, pois, no fim, tudo dá certo".

Os fatos curiosos e até mesmo engraçados - principalmente para quem participou somente como observador - também costumam acontecer. Francisco Barros explicou que, certa vez, um navegador, que trabalha como socorrista, passou por um verdadeiro apuro, e foi resgatado de cima de uma árvore para não sofrer maiores danos.

"A gente fica acompanhando o rali na trilha e passamos por dificuldades, mas estamos ali para garantir que possam fazer uma boa corrida, não enfrentem obstáculos ainda maiores. Meu navegador estava vigiando uma porteira para que ninguém viesse na contramão e, de repente, vieram uns porcos na direção dele. Ele precisou subir em uma árvore para não ser atacado. São coisas que acontecem", disse.

O médico, que está participando do time de apoio pelo terceiro ano consecutivo, disse que nem mesmo percalços como esses tiram dele a vontade de seguir integrando o time de "guarda-costas" do Rally dos Sertões.

"A aventura e a adrenalina são fantásticas. Você fica revigorado. Além disso, saber que você está ali, dando proteção aos pilotos de um rali é muito satisfatório".

“Sala vermelha” atende os casos mais graves - Paulo Amaral - Paulo Amaral
Imagem: Paulo Amaral
Estrutura de ponta e aprovada

As carretas da equipe de apoio contam com um hospital dentro delas. Segundo Francisco Barros, há todo equipamento necessário para atender as eventuais emergências, incluindo máquinas de raio-x e até de ressonância magnética.

"Estamos preparados para dar todo o atendimento necessário aos pilotos e, em casos de maior gravidade, temos os helicópteros que nos acompanham para fazer a eventual transferência para um hospital de maior porte", concluiu Francisco.

A competência da equipe e das máquinas foi posta à prova antes mesmo da largada para o Sertões 2019. O ator Caio Castro, que participaria da competição comandando um UTV, e os pilotos de motos Túlio Maltan e Bissinho Zavatti, sofreram acidentes que necessitaram de intervenção médica.

Interior da carreta impressiona pela riqueza de equipamentos - Paulo Amaral - Paulo Amaral
Imagem: Paulo Amaral
Túlio e Caio Castro se machucaram durante a disputa do Super Prime, sábado, enquanto Bissinho sofreu uma fratura no pé no décimo quilômetro da prova que teve início na manhã de domingo.

"Fiz uma bateria de exames, desde raio-x até tomografia. É uma segurança muito grande para todos os pilotos saber que há uma estrutura como essa por trás. Nós nunca pretendemos utilizar, mas é sempre bom saber que teremos essa segurança quando precisarmos", disse Maltan.

*O repórter viajou a convite da organização do Rally dos Sertões