Acidente de Rubinho nos ensinou muito, dizem apresentadores de Acelerados
O "Acelerados" é o maior canal de carros do YouTube no Brasil. Liderado por Rubens Barrichello, Cassio Cortes e Gerson Campos, o programa acumula mais de 1,3 milhão de inscritos e é transmitido na televisão aberta pelo SBT desde 2015, um ano após a estreia na plataforma virtual.
Nos últimos dias, porém, a atração virou o centro das atenções no universo dos entusiastas de automóveis por conta do acidente com a Lamborghini Gallardo Super Trofeo. A batida aconteceu durante uma gravação em fevereiro deste ano, e logo vazaram imagens do veículo danificado e áudios atribuídos ao dono do superesportivo.
A resposta do "Acelerados" começou a ser dada na última segunda-feira, na forma de um "reality show" que já mostrou os bastidores do fatídico dia e ainda promete revelar as próximas etapas do conserto de um veículo tão raro (e caro). O primeiro vídeo desta nova série na oficina, inclusive, já está no ar. Mas por que a demora em mostrar um acidente ocorrido quase sete meses atrás?
"Desde o primeiro instante assumimos a responsabilidade de arcar com os custos - que, por azar, envolvem uma Lamborghini de R$ 1 milhão. Então não poderíamos pagar o conserto sem tentar transformar essa infelicidade em conteúdo para nós. Além disso, existe um prazo de pelo menos 120 dias contando a partir do momento em que os reparos foram definidos até a chegada ao Brasil. Ou seja, não há nada de anormal em veicular agora o conteúdo de uma batida ocorrida em fevereiro", explica Cassio Cortes, um dos apresentadores da atração.
Gerson Campos, que também faz parte do time desde o primeiro episódio, diz que o episódio trouxe lições valiosas para a equipe - que ainda conta com os produtores (e eventuais apresentadores) Rodrigo Machado, Marcelo Moura e João Pedro Del Arco, além de vários outros profissionais.
"O acidente ensinou muito para nós, até porque era algo que nunca pensávamos que fosse acontecer. Se alguém perguntasse quais seriam as chances de Rubens Barrichello sofrer um acidente com um carro de rua em uma pista fechada só para nós, a gente diria que ele poderia no máximo passar do limite e rodar, como já aconteceu. É claro que o piloto pode errar, mas foi uma falha mecânica. Se você observar as imagens com atenção dá para notar que ele (Barrichello) até freou antes do ponto. Isso pode acontecer novamente, mas tomamos medidas para evitar que isso não se repita".
Corrida de kart deu origem à atração
Quem vê a dupla de apresentadores na tela do computador ou na televisão não imagina as trajetórias diferentes percorridas por cada um deles até se juntarem no "Acelerados".
"Sempre quis fazer jornalismo para trabalhar com automobilismo e fui para os Estados Unidos em busca disso após me formar. Fiz entrevistas em várias editoras, mas a falta do visto de trabalho me impediu de conseguir emprego. Durante meu mestrado conheci o dono de um site minúsculo que não me pagava nada para escrever, mas me dava acesso às corridas. E aí comprei uma van por US$ 800 para percorrer o país inteiro cobrindo as provas. Eu tinha US$ 3.000 contados e jantava quase todo dia no McDonald's antes de dormir dentro da van em postos de gasolina e estacionamentos de supermercados", conta Cassio.
Já Gerson nunca trabalhou fora do país, mas entrou cedo no jornalismo automotivo e construiu uma carreira sólida na área.
"Fiz faculdade para trabalhar com jornalismo, mas não necessariamente falando sobre carros. Sempre curti o tema, mas me imaginava trabalhando em televisão, como correspondente internacional da Folha de São Paulo, algo que eu achava muito bacana. Quando eu ainda estava na faculdade procurei um professor meu chamado Celso Unzelte (hoje na ESPN) porque em uma das aulas ele mencionou a revista Racing, que eu lia e gostava muito. Pedi para que ele me avisasse caso soubesse de alguma oportunidade lá, e isso aconteceu meses depois, só que para trabalhar na revista "Carro". Eu trabalhava na Record e topei mesmo ganhando bem menos e gastando mais tempo e dinheiro para chegar na redação".
Os caminhos de Gerson e Cassio se cruzaram graças a um campeonato de kart realizado pelo jornalista Rodrigo França, no qual ambos participavam.
"É engraçado como as coincidências surgem quando algo deve acontecer", afirma Cassio. "Eu já tinha essa vontade de fazer um 'Top Gear brasileiro' (em referência ao maior programa de carros do mundo, produzido pela BBC inglesa), e a Network Brasil (atual acionista majoritária do "Acelerados" e que conta com investidores responsáveis pelo "Porta dos Fundos"), procurou o Rubinho para fazer um canal de YouTube sobre carros. Essa proposta veio até mim em 2014 e logo topei participar do projeto. E aí chamei o Gerson por conta da experiência dele com a Bufalos, que hoje é uma produtora de conteúdo, mas nasceu como um canal sobre carros", afirma.
Colega e ídolo
A dupla se diz fã de Rubens Barrichello (que mora fora do país e só encontra Gerson e Cassio durante as gravações) muito antes de virarem colegas de trabalho, e afirmam que a admiração só aumentou desde então.
"Temos um relacionamento muito bom com o Rubinho. Ele é um cara que coloca o coração em tudo que faz. Claro que tem momentos em que discordamos, mas nunca tivemos um momento muito estressante. Acompanhá-lo em uma gravação é muito impressionante para quem gosta de carro e de automobilismo, especialmente pela capacidade que ele tem de falar sobre um carro que ele acabou de pilotar. Até hoje me impressiono com isso", diz Gerson.
"O Rubinho foi morar nos EUA para focar na carreira do Dudu (Eduardo Barrichello, filho do ex-piloto da Ferrari), então a gente tem um contato muito frequente por Whatsapp e nos vemos nas corridas de Stock Car. Ele é um grande professor para nós, e não apenas em termos de pilotagem. Nunca conheci um cara tão apaixonado pelo que faz, e isso é muito inspirador", completa Cassio.
"Programa sobre a paixão por carros"
Até a data da publicação desta matéria mais de 1.260 vídeos já haviam sido publicados no YouTube. Alguns momentos, inclusive, foram muito especiais para os jornalistas, como o dia em que Gerson pilotou um carro de Fórmula 1.
"Foi fácil porque fiquei muito longe do limite do carro. O Valentino Rossi tem uma definição muito precisa na qual ele diz que 'o carro é mais rápido do que seu raciocínio'. Ter acesso a toda essa tecnologia foi uma das coisas mais especiais que fiz na minha vida. Ser campeão da Sprint Race foi muito legal e gravar pautas legais na pista também é gratificante, mas pilotar um Fórmula 1 foi algo quase inacessível para nós. Acho que nunca vai se repetir, embora torço muito para que isso aconteça um dia (risos)".
Cassio, por sua vez, guarda com carinho a surpresa que preparou para seu pai ao restaurar um Volkswagen Passat TS idêntico ao que ele dirigia antigamente. "Paguei tudo com o dinheiro de um Honda Civic que herdei da minha mãe quando ela faleceu. Tem gente que fala que ele nem ficou tão emocionado, mas aquele mínimo de emoção é uma das maiores demonstrações que já vi dele na vida. E o que mais gosto é que uma das primeiras coisas que ele fala foi que 'tua mãe teria adorado' ver o carro".
Os apresentadores concordam ao dizer que são momentos como estes que o canal busca retratar, tentando achar um equilíbrio entre a paixão pelo automóvel e histórias sentimentais.
"Sempre pensei por que nunca existiu um programa nos moldes do Top Gear no Brasil. As maiores mídias especializadas do Brasil fazem trabalhos excepcionais, mas são voltadas para quem compra automóvel. Não somos apenas um programa sobre carros, e sim um programa sobre a paixão por carros, motos e as histórias por trás de cada caso", conclui Cassio.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.