C4 Cactus e Stepway: por que hatches em outros países são SUVs no Brasil
Quando os primeiros SUVs surgiram, lá no século passado, tinham características bem definidas: grande vão livre em relação ao solo, tração nas quatro rodas, caixa de marchas reduzida, cabine espaçosa e construção robusta - por padrão, do tipo carroceria sobre chassi, como picapes e caminhões.
Eram veículos capazes de encarar a lama e, ao mesmo tempo, oferecer comodidades até então disponíveis só em carros de passeio.
Com o passar dos anos, o conceito de SUV ficou bem mais abrangente: hoje pode ter só tração dianteira, dispensar a reduzida e trazer construção igual à de automóveis comuns - desde que a carroceria seja alta e as suspensões, elevadas. A maioria dos utilitários esportivos da atualidade é exatamente assim.
Como hoje os SUVs são responsáveis por mais de 25% dos emplacamentos no Brasil, as montadoras são praticamente obrigadas a ter produtos nesse segmento. Mesmo que isso signifique flexibilizar ainda mais o conceito original, adaptando um modelo de outra categoria e vendendo como utilitário esportivo.
No Brasil, essa estratégia de marketing é comum: hatches vendidos na Europa e em outros mercados são "reembalados" aqui como SUVs. O novo Renault Stepway é um exemplo: ao ganhar câmbio CVT, ficou mais alto em relação ao solo e passou a ser considerado um utilitário esportivo pela fabricante. Para reforçar a nova identidade, deixou inclusive de ser considerado uma versão do Sandero.
No caso da Renault, a empresa se baseou em critérios estabelecidos pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) para definir o que é um SUV.
Em relação especificamente a utilitários esportivos compactos, o instituto estabelece requisitos como massa em ordem de marcha de até 2.720 kg; não ter mais de nove assentos, incluindo o do motorista; altura livre do solo sob os eixos de no mínimo 180 mm; ângulo de ataque mínimo de 23 graus; ângulo de saída de pelo menos 20 graus.
Confira alguns exemplos de veículos que são vendidos como SUVs no Brasil e pertencem a categorias diferentes em outros mercados.
O hatch chegou à linha 2020 com 185 mm de vão livre em relação ao solo na versão com transmissão CVT. Com isso, passou a ser considerado um SUV no material de divulgação para a imprensa, na publicidade e até no site oficial da Renault. Na Europa, onde é vendido com a marca Dacia, o Stepway ainda é uma versão do Sandero, anunciado como um hatch que traz características de utilitário esportivo.
Aqui, a Renault dá o mesmo tratamento ao Kwid, considerado pela marca o "SUV dos compactos".
A Citroën precisava de um SUV compacto para concorrer com rivais como Jeep Renegade e Honda HR-V e lançou o C4 Cactus no Brasil no fim do ano passado. De fato, o representante da montadora no segmento tem carroceria mais alta e boa distância em relação ao solo. É vendido aqui apenas com tração dianteira, como outros utilitários esportivos "urbanos". Porém, na França a fabricante anuncia o Cactus como hatch médio.
Também vendido como SUV no País, o Aircross nada mais é que a versão aventureira de uma minivan compacta: a C3 Picasso, que já saiu de linha tanto aqui quanto no mercado europeu. Para dar cara de utilitário esportivo, a marca francesa acrescentou elementos como barras de teto, apliques de plástico nos para-choques, nas caixas de roda e na base das portas laterais - o Aircross já foi oferecido inclusive com estepe preso na tampa traseira para reforçar a aparência de SUV.
Na Europa, o SUV pequeno da Citroën é o C3 Aircross, baseado na nova geração do C3 vendido naquele mercado e que traz proporções mais condizentes com as de um utilitário esportivo.
O Honda WR-V nasceu no Brasil, onde a Honda tinha a necessidade de oferecer um SUV pequeno, posicionado abaixo do HR-V. A solução encontrada foi adaptar o hatch Fit com suspensões elevadas e aparência mais musculosa, trazendo capô, grade, faróis, lanternas traseiras e para-choques exclusivos.
Também recebeu os tradicionais apliques plásticos. Por dentro, traz cabine idêntica à do Fit e o mesmo motor 1.5 flex de 116 cv. Na Índia, onde o WR-V também é comercializado, o modelo é considerado pela Honda um MPV ou veículo de uso misto.
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