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Prefeitura de SP instala 849 cruzes para alertar sobre mortes no trânsito

Segundo prefeitura, em 2018 o número de condutores de veículos que morreram superou quantidade de pedestres que perderam a vida - Divulgação
Segundo prefeitura, em 2018 o número de condutores de veículos que morreram superou quantidade de pedestres que perderam a vida
Imagem: Divulgação

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

05/12/2019 21h11

Resumo da notícia

  • Iniciativa integra campanha para conscientizar população
  • Cada cruz corresponde a uma morte no trânsito na capital em 2018
  • Cruzes serão colocadas na Avenida 23 de Maio, uma das principais vias da cidade
  • Estudo aponta que mais de 90% dos motociclistas já se acidentaram no Brasil
  • Cerca de 1/3 de todas as mortes no trânsito são de condutores de motocicletas

A Prefeitura de São Paulo vai instalar na madrugada de amanhã 849 cruzes no canteiro central da Avenida 23 de Maio, uma das principais vias expressas da cidade. De acordo com a administração municipal, a quantidade de cruzes é uma referência ao número de mortos em acidentes de trânsito na capital ao longo de 2018.

A ação faz parte da campanha Movimento pela Vida Segura no Trânsito, lançada há uma semana pela prefeitura, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância de contribuir para a redução no número de vítimas fatais na cidade.

As cruzes serão instaladas em um trecho de aproximadamente 900 metros de extensão entre o viaduto Pedroso e o Monumento dos 80 anos da Imigração Japonesa, voltadas para os dois sentidos do corredor Norte-Sul.

Além delas, serão colocados na área seis painéis com mensagens variadas, três em cada sentido da via, alertando sobre o número alarmante de mortes na maior cidade do Brasil. Além dessa ação, a campanha inclui outras ações, como a instalação de bandeiras brancas em monumentos e outros pontos da cidade, além da aplicação do símbolo da iniciativa em cerca de mil táxis.

Ainda de acordo com a prefeitura, no ano passado pela primeira vez o número de mortes de condutores de veículos ultrapassou a quantidade de pedestres mortos por atropelamento no município. A maior parte desses condutores foram motociclistas (366), contra 349 pedestres.

Neste fim de semana, a campanha irá veicular material nas TVs, nas rádios e na internet conteúdo cujo roteiro traz uma mãe lamentando a perda do filho motociclista, que perdeu a via por pilotar acima da velocidade permitida.

Em 2020, nova etapa da campanha será direcionada aos pedestres, informa a Prefeitura de São Paulo. A campanha se estende até junho de 2020.

Motociclistas correspondem a 1/3 das mortes no trânsito

De acordo com informações do Datasus, o departamento de informática do SUS (Sistema Único de Saúde), cerca de 40 mil pessoas morrem todos os anos no trânsito brasileiro, dos quais 33,4% são motociclistas. Os gastos com as vítimas de trânsito no País são estimados em aproximadamente R$ 36 bilhões por ano de 1998, quando entrou em vigor o CTB (Código de Trânsito Brasileiro), até o fim de 2017.

Pesquisa realizada no mês passado pela Fundación Mapfre sobre o perfil dos motociclistas que trafegam na cidade de São Paulo aponta dados preocupantes. De acordo com o estudo quantitativo, que ouviu 1.210 condutores de motocicleta e dez técnicos em trânsito, 93% dos entrevistados afirmaram já terem se envolvido em acidente.

A Mapre informa que 95% dos participantes são homens, 55% são casados, 59,8% se declaram pardos e 65% têm até 35 anos de idade.

O levantamento também aponta que 80% dos motociclistas relataram conhecer alguém que morreu no trânsito e 84% têm ao menos um colega com sequelas após cair da moto. Além disso, 54,2% dos entrevistados relataram ter pilotado uma moto antes dos 18 anos de idade e 68,3% disseram que já conduziram sem habilitação.

De acordo com o estudo, o desrespeito à obrigatoriedade de portar CNH válida para pilotar motocicleta é justificada pelo alto custo e pela burocracia no processo de habilitação de novos condutores.

DPVAT: motociclistas dominam indenizações

A pesquisa da Fundación Mapfre foi divulgada alguns dias após o governo federal anunciar a intenção de extinguir o DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos) a partir do início do ano que vem, por meio de medida provisória apresentada ao Congresso.

De acordo com o Ministério da Economia, a extinção do Seguro Obrigatório foi motivada pelo alto índice de fraudes e também por conta dos custos elevados para a gestão do benefício.

Os motociclistas serão os mais afetados, considerando que as indenizações por invalidez permanente pagas pelo DPVAT a motociclistas representaram 75% do total, ultrapassando de 246 mil pagamentos.

Especificamente em relação à pesquisa, 75% dos motociclistas disseram nunca ter dado entrada no pedido de indenização, contra apenas 15% que relataram já ter solicitado o benefício - outros dez não responderam.

Ao mesmo tempo, o baixo percentual de motociclistas que disseram ter acionado o Seguro Obrigatório, aponta o estudo, corresponde a menos da metade daqueles que declararam terem ficado gravemente feridos.

Dos que requisitaram o ressarcimento, 60% relataram terem recebido o pagamento.

A Fundación Mapfre concluiu que "os relatos revelam a pouquíssima informação dos motociclistas acerca do seguro DVAT e um desconhecimento muito acentuado sobre quem e em quais condições pode receber o benefício"

Dentre os que não receberam o seguro, relataram como entraves fatores como excesso de burocracia; ausência de retorno ao dar entrada no processo; e indeferimento do processo, apesar de terem recorrido mais de uma vez.

Os testemunhos confirmam falta de informação

Acidente entre carro e moto - Severino Silva/Agência o Dia/Estadão Conteúdo - Severino Silva/Agência o Dia/Estadão Conteúdo
Burocracia é uma das justificativas para não receber indenização; maioria desconhece direitos
Imagem: Severino Silva/Agência o Dia/Estadão Conteúdo

"Não [acionei] porque eu fiquei internado só cinco dias... seguinte: DPVAT é quando você fica um monte de dias, é quando quebra mesmo, eu só me esfolei, ninguém ia pagar, nada não", foi um dos relatos colhidos na pesquisa.

"Como eu estava com a moto do cliente, eu nem sabia, mas eu poderia ter feito, não é? Por que, como é de trânsito, a pessoa pode receber o DPVAT, não é? Gastei bastante com remédio e fiquei sem trabalhar dez dias!", foi outro depoimento.

"Recebi uma mixaria. Não acessei sozinho, teve aquelas mata-fomes lá do posto que fica no hospital(...). Acho que tive que dar para eles 500 reais e o que eu recebi, acho que foi mil Reais, ou mil e cem..", disse outro motociclista.

Se passar no Congresso e for realmente extinto, o DPVAT ainda seguirá pagando as indenizações nos próximos cinco anos de sinistros ocorridos antes de 1º de janeiro de 2020.

Segundo o governo federal, a partir dessa datam, as vítimas e os acidentados continuarão sendo assistidos pelo SUS e pelo BPC (Benefício de Prestação Continuada).

O BPC é um benefício de renda no valor de um salário mínimo para pessoas com deficiência de qualquer idade ou para idosos com idade de 65 anos ou mais que apresentam impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial. Para a concessão deste benefício, é exigido que a renda familiar mensal seja de até 1/4 de salário mínimo por pessoa.

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