Após fechar fábrica, Ford demite metade dos funcionários de campo de provas
Resumo da notícia
- Ford demitiu há algumas semanas 110 empregados do campo de testes em Tatuí (SP)
- Sindicato diz que total de dispensas corresponde à metade do efetivo contratado
- Entidade sindical teme fechamento ou terceirização total da unidade no interior paulista
- Fechamento da fábrica de São Bernardo resultou em outras 1,8 mil dispensas
- Ford condiciona novos investimentos em Camaçari (BA) a mais 'competitividade'
A Ford está promovendo uma série de cortes de custos no Brasil para melhorar a "competitividade" e trazer novo ciclo de investimentos ao País.
Uma parte importante dessa reestruturação envolve demissões de funcionários, como os cerca de 1,8 mil trabalhadores dispensados com o fim das atividades da fábrica de São Bernardo do Campo, no fim de outubro.
Nos últimos meses, a montadora realizou PDVs (planos de demissões voluntárias) nas fábricas de São Bernardo e Taubaté, em São Paulo, e Camaçari (BA) - hoje a única unidade da empresa a produzir veículos no Brasil.
Os cortes também afetaram o campo de provas da Ford em Tatuí, no interior paulista, onde 110 funcionários, horistas na totalidade, foram dispensados a partir de meados de novembro. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí, o total de dispensas corresponde a metade de todo o efetivo até então empregado.
"Restaram 105 trabalhadores contratados, quase todos mensalistas. A tendência é que estes sejam desligados durante o ano que vem, substituídos por trabalhadores de prestadoras de serviço. Já são cerca de 50 terceirizados e a quantidade tem crescido mês a mês", diz Ronaldo José da Mota, presidente do sindicato.
Greve, acordo e terceirizações
Empresas como Global Automotive e MSX estariam concentrando o fornecimento de trabalhadores terceirizados. Em setembro, a Global disse desconhecer a possibilidade de assumir a gestão das operações em Tatuí, conforme sugere o sindicato.
De acordo com Mota, as contratações de terceiros se intensificaram após a greve de nove dias realizada entre o fim de setembro e o mês de outubro.
"As demissões seriam efetuadas apenas com pagamento das verbas rescisórias legais, sem outros benefícios, como os oferecidos nos PDVs das demais unidades. Por isso, realizamos a paralisação".
Após a greve, sindicato e direção da Ford protocolaram um acordo no Tribunal Regional do Trabalho da 15a Região, por meio do qual, além da rescisão padrão, cada ex-empregado terá direito a bônus fixo de R$ 13.350, referente ao plano de saúde, mais 3,5 a 5,5 salários, dependendo do tempo de casa de cada funcionário.
"Também serão compensados os dias de greve que tinham sido descontados pela Ford. Cerca de 90 trabalhadores já homologaram sua demissão nos termos acertados. Além disso, os que restaram terão direito aos mesmos benefícios caso sejam demitidos no período de um ano".
Conforme noticiado por UOL Carros no início de setembro, na época a Ford já tinha iniciado os desligamentos e cobriu os logotipos da empresa em placas instaladas no campo de provas, que serve para desenvolver e testar novos produtos e é um dos maiores da América Latina.
Após a publicação da reportagem, diz o presidente do sindicato, a companhia retirou até as placas, sinalizando, na sua avaliação, a intenção de vender a unidade, terceirizar totalmente o quadro de funcionários ou então de abrir as instalações para uso de outras montadoras.
Procurada, a Ford informou que "neste momento" não vai de manifestar sobre o tema.
Novos investimentos?
No começo de dezembro, Lyle Watters, presidente da Ford para a América do Sul, reuniu-se com aproximadamente 500 empregados da fábrica de Camaçari, hoje responsável por montar os modelos EcoSport, Ka e Ka Sedan, para comunicar "a necessidade urgente da melhoria do nível de competitividade da unidade".
De acordo com nota da montadora enviada à reportagem, "esta questão [maior competitividade] é fundamental para viabilizar um novo ciclo de investimentos" na fábrica baiana e "exige uma ação conjunta em várias frentes incluindo logística, manufatura, engenharia e mão de obra".
Segundo reportagem do jornal "O Estado de S.Paulo" noticiou na semana passada, os novos aportes são condicionados aos cortes de custos e ao cumprimento de metas de todas as partes envolvidas no processo de produção, logística e vendas, em moldes parecidos com os praticados recentemente pela General Motors.
O jornal informou também que, se forem atendidas as condições de competitividade desejadas, o investimento previsto é de R$ 1,4 bilhão e será destinado à fabricação de novos SUVs na unidade baiana.
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