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OPINIÃO

Fusão FCA-PSA: o que pode mudar e o que deve ficar igual no Brasil

Novo Peugeot 2008 pode deixar de existir após fusão com FCA? Provavelmente não - Divulgação
Novo Peugeot 2008 pode deixar de existir após fusão com FCA? Provavelmente não
Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo (SP)

19/12/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Acordo não vai alterar situação das marcas nos próximos anos
  • Analista de mercado acredita que concorrência entre marcas será evitada
  • Segmentos como SUVs devem continuar povoados por todas as marcas do grupo

A fusão entre FCA e PSA foi oficializada ontem (18), quase dois meses após o primeiro anúncio feito pelas partes. Uma das prioridades da nova empresa será explorar os pontos fortes de cada marca, incluindo a maior presença em mercados como América do Norte (onde a FCA tem boa aceitação) e Europa, "território" da PSA.

Quanto ao mercado brasileiro, a tendência é que esta estratégia se repita por aqui. Pelo menos é o que acredita Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics.

"Nada muda até o momento em que as empresas começarem a compartilhar plataformas, algo que só acontecerá dentro de alguns anos. A partir daí, acredito que haverá uma definição mais precisa de posicionamento de mercado entre as marcas do grupo", afirmou.

Carlos Tavares e Mike Manley na fusão FCA-PSA - Divulgação - Divulgação
Carlos Tavares (esq.) e Mike Manley são os homens fortes da nova fusão
Imagem: Divulgação

Para Milad, a nova empresa deve concentrar esforços nas marcas que estão melhor estabelecidas no mercado - e que são consideradas referências em determinados segmentos.

"Acredito que a Jeep continuará como uma marca premium no Brasil, embora não tenha a mesma imagem fora daqui. As marcas do grupo PSA (Peugeot e Citroën) devem permanecer na faixa intermediária do mercado, assim como a Fiat pode focar nos veículos de maior volume de vendas, inclusive para frotistas".

Jeep Renegade - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Jeep virou uma das referências em SUVs - e é claro que a empresa vai aproveitar isso
Imagem: Murilo Góes/UOL

Milad crê que não haverá produtos das marcas brigando por vendas em uma mesma categoria. "Acho que a divisão do portfólio (de marcas) ficará clara. Não vejo interesse nas marcas competindo no mesmo segmento".

Proibido competir?

Porém, isso não significa que o cenário atual sofreria uma transformação drástica. Prova disso é que a segunda geração do 2008 será um dos lançamentos da Peugeot para os próximos anos, com estreia prevista para 2022. Hoje, o SUV é concorrente direto do Jeep Renegade, que apresenta números de venda muito superiores aos do rival.

Se a previsão não se aplica aos utilitários esportivos compactos, o prognóstico de Milad faz sentido quando pensamos em outros segmentos. A mesma Peugeot já confirmou a chegada de uma inédita picape média, cujo visual será revelado em março de 2020. O lançamento, porém, não acontecerá antes de 2021.

Changan Kaicene 1 - Divulgação - Divulgação
Picape Kaicene, da Changan, servirá de base para Peugeot
Imagem: Divulgação

O futuro modelo vai concorrer com Chevrolet S10, Ford Ranger e Toyota Hilux, sendo esta última a fonte de inspiração para os engenheiros franceses. Sendo assim, dificilmente a Fiat se aventuraria nesta categoria, até por falta de tradição. O mesmo vale ao pensarmos nas categorias de picapes leves e intermediárias, onde Strada e Toro nadam de braçada.

Enquanto novos produtos não chegam às ruas, Milad acredita que a fusão FCA-PSA pode investir em outros fatores para economizar custos. Um deles seria a estrutura da rede de concessionárias, aproveitando o modelo aplicado pela aliança Renault-Nissan.

"Existe a possibilidade de adotar o sistema de revendas com 'modelo em Y', no qual as concessionárias de cada marca possuem showrooms independentes, mas compartilham o espaço da oficina", sugeriu.