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Por que Carlos Ghosn quebrou as leis do Japão e fugiu para ir ao Líbano

Do UOL, em São Paulo (SP)

31/12/2019 04h00Atualizada em 31/12/2019 10h13

Resumo da notícia

  • Leis libanesas vetam extradição de cidadãos, e Ghosn dificilmente precisaria voltar ao Japão
  • Família diz que sistema judicial japonês é "cruel e injusto" com quem não nasceu lá
  • Executivo se queixou várias vezes do tratamento dispensado a ele desde a primeira prisão

Pouco mais de um ano depois de ser preso no Japão, Carlos Ghosn está envolvido em uma nova polêmica.

O ex-CEO da aliança Renault-Nissan deixou o país com destino ao Líbano, sem o consentimento das autoridades japonesas. Não havia confirmação oficial de seu paradeiro até que o próprio Ghosn confirmou a fuga.

"Estou agora no Líbano e não serei mais refém do manipulado sistema de justiça japonês, onde a culpa é presumida, a discriminação é desenfreada e os direitos humanos são negados, em flagrante desrespeito às obrigações legais do Japão sob o direito internacional e os tratados que deve obedecer. Eu não fugi da justiça, eu escapei da injustiça e da perseguição política. Eu posso agora finalmente me comunicar livremente com a imprensa e pretendo fazê-lo a partir da semana que vem", disse Ghosn, por meio de comunicado divulgado hoje (31).

Mas por que Ghosn decidiu infringir as leis japonesas e partir para outro país?

Críticas ao sistema judicial

Desde sua primeira detenção, Ghosn nega veementemente as acusações contra ele. Disse, inclusive, ser vítima de um complô por parte da Nissan para tirá-lo do poder.

Não foram poucas as ocasiões em que Ghosn reclamou do tratamento recebido no Japão. Recentemente, seus advogados se queixaram do vazamento de informações de seu julgamento - ele é acusado de má conduta financeira e aguardava a sentença em prisão domiciliar.

Carlos Ghosn prisão 2 - Divulgação - Divulgação
Ghosn é de família libanesa; leis do país impedem extradição de cidadãos
Imagem: Divulgação

Em novembro, os quatro filhos de Carlos, Anthony, Maya, Nadine e Caroline Ghosn, também divulgaram uma carta na qual criticam duramente o sistema judicial japonês, definido por eles como "cruel e injusto", ainda mais com quem não é nascido no Japão.

"Cada um de nós tenta entender como um país tão desenvolvido quanto o Japão pode permitir que os direitos humanos - que deveriam beneficiar nosso pai - sejam desprezados", escreveram.

Mesmo em prisão domiciliar, Ghosn foi proibido de receber visitas de sua esposa, Carole. Diante do veto, ela cogitou até pedir ajuda ao presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

Blindado no Líbano

O jornal "The Wall Street Journal" afirma que Ghosn teria deixado o Japão por acreditar que não receberia um julgamento justo, segundo uma pessoa ligada a família.

Ainda de acordo com a mesma pessoa, Ghosn estava cansado de ser tratado "como um refém político da indústria".

Carlos Ghosn 1 - Antonio Lacerda/EFE - Antonio Lacerda/EFE
Nascido no Brasil. Ghosn salvou a Nissan da falência
Imagem: Antonio Lacerda/EFE

Um dos motivos principais da viagem seria que as leis criminais do Líbano proíbem a extradição de qualquer cidadão. Assim, as chances de Ghosn ser obrigado a voltar para o Japão seriam ínfimas.

Nascido no Brasil (mais precisamente no pequeno município de Guajará-Mirim, em Rondônia), Ghosn logo se mudou para o Líbano, onde passou sua infância e adolescência até estudar em Paris.

Parte da família e amigos de Carlos residem no país. Além disso, ele também tem negócios por lá, incluindo uma vinícola.

O governo libanês sempre foi um forte apoiador de Ghosn durante sua vitoriosa carreira na indústria automotiva. O executivo que livrou a Nissan da falência teve seu rosto estampado até em uma coleção de selos em 2017.

Carlos Ghosn 2 - Divulgação - Divulgação
Ghosn teria feito até festa de casamento com recursos da Renault
Imagem: Divulgação

Todo esse suporte, porém, foi reduzido drasticamente após sua prisão, especialmente por conta de parte da opinião pública, que condenou as atitudes do executivo.

Resta saber, agora, como o governo libanês vai se portar se ele realmente permanecer no Líbano até o desfecho do caso.