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Tudo sobre Carlos Ghosn, ex-CEO de Renault e Nissan que fugiu do Japão

Ghosn era ídolo no Japão, onde ficou famoso por salvar a Nissan da falência - Haruyoshi Yamaguchi/Reuters
Ghosn era ídolo no Japão, onde ficou famoso por salvar a Nissan da falência
Imagem: Haruyoshi Yamaguchi/Reuters

Do UOL, em São Paulo (SP)

02/01/2020 11h56

Resumo da notícia

  • Nascido no Brasil, Ghosn fez carreira na França antes de assumir aliança
  • Executivo salvou Nissan da falência e virou herói nacional no Japão
  • Ghosn estava detido em Tóquio desde novembro de 2018

Carlos Ghosn voltou aos noticiários do mundo inteiro nos últimos dias de 2019. Tudo porque o ex-CEO da aliança Renault-Nissan decidiu fugir da prisão domiciliar sem o consentimento das autoridades japonesas.

Atualmente ele estaria no Líbano, onde teria sido até recebido pelo presidente libanês ao chegar de um voo vindo da Turquia. Todos os países envolvidos na trama surreal realizam investigações. Autoridades libanesas negam ter recebido Ghosn, enquanto sete pessoas foram detidas na Turquia por terem ajudado no plano de fuga de Ghosn. Os japoneses, por sua vez, ainda analisam se alguém facilitou a fuga do executivo, que estava proibido de deixar o país.

Em meio a tudo isso, a Interpol determinou a prisão de Ghosn.

Quem é Carlos Ghosn?

Nascido no Brasil (mais precisamente em Guajará-Mirim, cidade localizada em Rondônia), Ghosn é filho de pais libaneses e passou a maior parte de sua infância e adolescência no Líbano.

Realizou seus estudos na França, onde fez uma sólida carreira na indústria automotiva. Entrou na fabricante de pneus Michelin como trainee e saiu de lá quando era diretor-executivo da empresa nos Estados Unidos.

Foi para a Renault em 1996 e, três anos depois, recebeu a missão de comandar a Nissan, com quem os franceses haviam acabado de firmar uma aliança.

No Japão, Ghosn quebrou paradigmas e chocou os japoneses ao adotar medidas extremas para tentar impedir a falência da marca japonesa, que acumulava prejuízos há oito anos consecutivos. Demitiu 20 mil funcionários, fechou quatro fábricas e adotou o inglês como idioma oficial. Prometeu dobrar a margem de lucro da empresa em três anos e atingiu a meta antes disso. Ao salvar a Nissan da falência, Ghosn virou ídolo dos funcionários da empresa, herói nacional e, pasme, até personagem de quadrinhos.

O executivo também assumiu o comando da Renault em 2005, e vislumbrou um futuro de carros elétricos para a aliança a partir de 2010, quando lançou o Nissan Leaf - hoje o carro elétrico mais vendido do mundo. Na Europa, a Renault é uma das marcas mais engajadas com veículos elétricos, e não a toa fabrica o Zoe, o mais vendido deles no continente.

Em 2012, a Renault-Nissan concluiu a aquisição da Autovaz, detentora da marca russa Lada. Mais recentemente, em 2016, Ghosn ampliou ainda mais seus poderes ao assumir o controle da combalida Mitsubishi.

O executivo já preparava sua aposentadoria e se afastou do comando da Nissan em 2017, mas ainda comandava as operações da aliança.

A prisão no Japão

A vida de Ghosn virou de cabeça para baixo há pouco mais de um ano. O executivo foi detido em novembro de 2018, sob acusações de omitir parte de seus rendimentos e usar indevidamente verbas das montadoras que comandava.

Pouco depois da prisão, a Nissan confirmou que, com base em um relatório de denunciantes, estava investigando possíveis práticas impróprias de Ghosn e do diretor-representante Greg Kelly (que também foi demitido da empresa e preso logo depois) por vários meses. O caso foi parar no Ministério Público do Japão, que determinou a prisão do executivo que liderava a companhia.

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Ghosn teria feito até festa de casamento com recursos da Renault
Imagem: Divulgação

Segundo a agência japonesa "Jiji", Ghosn notificava à Receita Federal japonesa ganhos de 10 bilhões de ienes (quase R$ 334 milhões) para ocultar o uso pessoal de outros 5 bilhões de ienes (R$ 167 milhões). Este montante seria de dinheiro da companhia usado em benefício próprio por ele e por Kelly - este último, inclusive, deixou a prisão há pouco mais de um ano.

"A investigação mostrou que ao longo de muitos anos Ghosn e Kelly relataram valores de compensação no relatório de valores mobiliários da Tokyo Stock Exchange que eram menores do que a quantia real, a fim de reduzir a quantia divulgada da compensação de Carlos Ghosn", disse a Nissan em um comunicado na ocasião.

Preso pela primeira vez em 19 de novembro, Ghosn deixou a cadeia após pagar fiança em 6 de março. O executivo, que nasceu no Brasil e tem cidadanias libanesa e francesa, voltou a ser detido no começo de abril e foi solto alguns dias depois, em 25 de abril. Desde então, o ex-CEO cumpria pena de prisão domiciliar.

Ghosn preso 1 - Kyodo/via REUTERS  - Kyodo/via REUTERS
Ghosn deixa escritório de advogados um dia antes da segunda detenção
Imagem: Kyodo/via REUTERS

Ghosn foi libertado pela segunda vez apenas mediante algumas condições estabelecidas pela justiça japonesa, como a proibição de sua saída do Japão e o veto a possíveis tentativas de manipulação de provas contra ele.

Durante todo o período em que foi detido, o executivo acusou a Nissan de fazer um complô contra ele para tirá-lo do poder.

Fora das empresas

O executivo foi demitido do comando da Nissan ainda em novembro de 2018, mas permaneceu mais alguns dias como membro do conselho administrativo da companhia. Em janeiro deste ano, Ghosn concordou em renunciar aos cargos de presidente-executivo e presidente do conselho da Renault, onde foi substituído por Jean-Dominique Senard.

Na empresa japonesa, Carlos foi substituído por Hiroto Saikawa, que renunciou ao cargo de CEO em setembro de 2019 após admitir o recebimento de quantias ilegais. Saikawa foi substituído por Makoto Uchida, que ocupa o comando da Nissan de forma interina.