Fim do casamento? Como ficariam Nissan e Renault em caso de separação
Resumo da notícia
- Aliança firmada em 1999 é uma das mais duradouras da indústria
- Resultados ruins das duas marcas poderia colocar futuro em xeque
- Relacionamento entre as partes piorou após saída e prisão de Ghosn
A aliança Renault-Nissan-Mitsubishi é uma das mais bem sucedidas da indústria mundial. Firmada em 1999 entre Nissan e Renault, ela trouxe bons resultados para os dois lados. A empresa se fortaleceu em 2016 quando a Nissan adquiriu 34% das ações da combalida Mitsubishi.
Porém, o relacionamento entre japoneses e franceses anda conturbado desde a prisão de Carlos Ghosn. O ex-CEO era peça fundamental no entendimento entre as partes, que ameaçam romper a aliança e seguir caminhos diferentes.
Os boatos se intensificaram após o jornal "Financial Times" noticiar que a Nissan estaria disposta a romper a aliança com a Renault. A publicação afirma que a Nissan pretende separar os departamentos de engenharia e produção e fazer mudanças no Conselho de Administração. Os planos teriam sido acelerados após a inesperada fuga de Carlos Ghosn do Japão, onde aguardava julgamento por má conduta financeira.
A própria Nissan desmentiu qualquer intenção de separação, afirmando que a aliança é "a fonte de competitividade" da empresa. A Renault, entretanto, não se pronunciou sobre os boatos. De toda maneira, como ficariam as fabricantes caso a aliança fosse dissolvida?
Nissan: situação ruim
Não é de hoje que a Nissan amarga resultados ruins pelo mundo. Dados da consultoria Jato Dynamics indicam queda de quase 50% nos números globais de 2014 para cá. O ano de 2019 foi um dos piores para a empresa, que chegou a ter queda de 94,5% no lucro líquido no primeiro trimestre de 2019 - um dos piores resultados trimestrais da década.
A montadora demitiu 12.500 funcionários pelo mundo, mais do que o dobro do que havia estimado. Com isso, a capacidade produtiva da fabricante despencou 10%.
Se a situação está crítica em alguns mercados (como nos Estados Unidos, onde amargou queda de 9,9%), pelo menos no Brasil a Nissan vai bem. O Kicks fechou o ano passado como 3º SUV compacto mais vendido do país com 56.062 unidades, contribuindo de forma significativa para atingir os 3,6% de participação de mercado obtidos em 2019.
Porém, assim como em vários mercados no exterior, a Nissan sofre com o excesso de produtos desatualizados. March, Versa e Sentra estão um degrau abaixo de concorrentes mais modernos em seus respectivos segmentos.
Pelo menos esse problema será parcialmente resolvido no mercado brasileiro em breve: o novo Versa está confirmado para este ano, enquanto a nova geração do Sentra também deve desembarcar nos próximos anos. Apenas o March é que vai demorar um pouco mais para ser renovado, embora a marca já tenha realizado testes de durabilidade com unidades europeias na região Nordeste do Brasil.
Renault: dias turbulentos
A Renault também não vive uma situação tão positiva. A empresa precisou rever suas projeções para 2019 por conta das vendas abaixo do esperado. Assim, a nova previsão era de queda de 4% nos lucros - a empresa ainda não divulgou os resultados globais do ano passado.
A empresa também demitiu seu CEO em 2019. Thierry Bolloré foi mandado embora menos de um ano após assumir o comando da marca francesa, onde substituiu Carlos Ghosn.
Além disso, a fracassada proposta de fusão com a FCA também abalou as estruturas da Renault. O acordo só não teria saído porque o governo francês (um dos principais acionistas da Renault) vetou a transação. Recentemente, Ghosn confirmou que a fusão esteve muito próxima de acontecer quando o brasileiro ainda estava no comando da montadora.
Se serve de consolo, a marca teve desempenho satisfatório em alguns mercados. Na França, o grupo registrou seu melhor resultado desde 2010. Foram 698.690 veículos vendidos, somando automóveis de passeio e comerciais leves.
O Clio foi o modelo mais vendido nos quatro últimos meses do ano passado e a linha Clio (somando quarta e quinta gerações) foi campeã de vendas do país pelo 10º ano consecutivo. Outros dois modelos surgem no top 10: o Captur foi o 4º mais vendido, enquanto o Twingo conquistou a 9ª posição.
O Zoe (que também é vendido no Brasil) permaneceu na liderança entre os carros elétricos em seu país natal. Foram 18.817 emplacamentos em 2019, respondendo por 44% do mercado de veículos movidos a eletricidade.
Outro país onde a Renault foi bem em 2019 foi o Brasil. Segundo números divulgados pela Fenabrave, a marca emplacou 239.227 unidades e conquistou 9% do mercado nacional de automóveis de passeio e comerciais leves, superando com uma margem bem apertada os 8,2% da Ford.
Sandero e Kwid tiveram bons resultados. No ano passado, o Kwid emplacou 85.117 unidades e assumiu a liderança do segmento de hatches de entrada no ranking da Fenabrave. Reestilizado em 2019, o Sandero manteve os bons números de seu antecessor. Foram 50.303 unidades emplacadas de janeiro a dezembro, sendo que 5.608 delas foram licenciadas no último mês de 2019.
O futuro pós-divórcio
Considerando o retrospecto de cada marca nos últimos anos, um eventual fim da aliança Renault-Nissan seria muito mais prejudicial à marca japonesa. Keiko Ihara, membro do conselho da Nissan, já admitiu que "seria difícil para nós fazer qualquer progresso sem a aliança".
Jean-Dominique Senard, presidente da Renault, adota um discurso otimista quanto ao futuro.
"A aliança Renault-Nissan não está morta. Vamos provar isso em breve", declarou, em entrevista ao jornal diário belga "L'Echo". Senard também afirmou que os boatos de separação "não tem conexão com a realidade atual".
Só que a situação não parece tão simples assim. Fontes ligadas à empresa afirmaram ao jornal "The New York Times" que mais de 10 projetos realizados em conjunto estão congelados desde a saída de Ghosn.
Além disso, um eventual divórcio resultaria em uma grande mudança na estrutura das duas montadoras pelo mundo. Fora as fábricas (como a de São José dos Pinhais, no Paraná), Renault e Nissan compartilham depósitos de peças e rede de concessionárias. A Nissan, por sua vez, aproveita a robusta rede de distribuição da Mitsubishi na Ásia.
Caso a aliança realmente seja rompida, Nissan e Renault precisariam ir ao mercado para buscar novos parceiros. A Mitsubishi, por sua vez, ficaria em uma situação indefinida, embora a tendência é que a marca ficasse com a Nissan.
Nem todo mundo dentro da Nissan é favorável à continuidade do "casamento", mas o atual CEO da Nissan, Makoto Uchida, é um dos defensores da aliança. E isso pode garantir o futuro da aliança, pelo menos por mais alguns anos.
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