Resumo da notícia
- Gosto não se discute, mas identidade visual ajuda a definir "personalidade" das marcas
- Hyundai, Kia e Renault possuem bons exemplos de linguagens de design
- Audi e Mercedes-Benz já sofreram com tentativas desastrosas no passado
Talvez você já tenha ouvido alguém menos familiarizado com automóveis dizer que os carros de hoje parecem todos iguais. Parece um comentário de leigo, mas há um bom fundo de razão nisso. E o motivo acontece por causa da identidade visual.
É fácil entender o que isso significa. Antigamente, uma mesma montadora vendia diversos modelos de várias categorias. Tinha hatch, sedã, picape e SUV, mas cada um tinha uma aparência diferente. Alguns dizem que eram tempos em que os carros tinham linhas bem mais criativas do que hoje - e é difícil contestar isso diante de uma obra de arte como um Citroën DS ou um Cadillac Eldorado.
Em contrapartida, os carros de uma mesma montadora não eram facilmente reconhecidos nas ruas. Aí entra a tal da "identidade visual", ou "family face", como é o termo utilizado na indústria automotiva. Por trás de designs muito parecidos entre si está o desejo de que os carros de uma mesma marca sejam rapidamente identificada. Quer um exemplo? É fácil notar um Audi nas ruas: basta olhar o desenho dos LEDs nos faróis e a grade hexagonal. Assim como muita gente sabe como é um Mercedes-Benz, um BMW e por aí vai.
Tudo tem limite
O problema é que às vezes as coisas fogem um pouco do limite e aí temos carros de uma mesma marca muito parecidos entre si. Quem não se lembra dos modelos da Audi em meados da década de 2010? Salvo detalhes como os mostradores de dentro dos faróis, os sedãs da marca eram difíceis de serem distinguidos de longe.
A geração atual do Classe C tinha estilo quando foi lançada em 2014. O problema é que o Classe E parecia uma versão ampliada do C e o Classe S, por sua vez, lembrava muito o Classe E com proporções exageradas. As semelhanças ficavam ainda mais evidentes olhando todos os sedãs de traseira. Até os formatos das lanternas pareciam copiados.
Para completar a trinca de vacilos das marcas de luxo alemãs, a BMW virou alvo de piadas por conta de seus modelos mais recentes. A grade gigantesca do Série 7 dividiu opiniões, que se transformaram em críticas após a estreia do X7. E parece que não será só isso: aparentemente os futuros M3 e M4 terão grades ainda maiores, que vão até a parte inferior do para-choque dianteiro.
A Volkswagen também já sofreu com duras críticas por conta do estilo inaugurado por aqui com a primeira reestilização profunda do Fox, realizada em 2009.
O facelift trouxe faróis mais retangulares e uma grade frontal mais simples marcada por traços horizontais, que foi replicada à exaustão. Da mesma forma que os carros da Mercedes-Benz pareciam versões de um mesmo carro em tamanhos distintos, os sedãs da VW eram muito parecidos - algo que ainda acontece atualmente com Gol e Polo ou Virtus e Jetta.
Bons exemplos
Não há apenas casos mal sucedidos. Pelo contrário: quem não se lembra do trabalho competente de Peter Schreyer à frente da Kia Motors? O designer alemão até começou meio cambaleante, mas conseguiu implantar uma nova identidade visual nos modelos da marca sul-coreana.
Foi dele a invenção da grade frontal "nariz de tigre", que foi evoluída e ainda marca presença em todos os carros da Kia, mas seguindo características que deixam cada modelo com uma personalidade distinta sem fugir do padrão estético da empresa.
Da Coreia do Sul também vem outro bom exemplo. A Hyundai inaugurou por volta de 2009 o conceito de "escultura fluída", que fez bastante sucesso pelo mundo em modelos como Sonata e ix35. Conhecida por linhas ousadas e marcantes, a identidade seduziu uma legião de clientes que nunca haviam considerado comprar um carro da marca.
De tão bem sucedida, ela chegou até a modelos mais populares como a primeira geração do HB20, que tinha o design como um dos principais motivos de compra. Ironicamente, o mesmo HB20 trouxe ao Brasil a nova linguagem de estilo da Hyundai, conhecida como "Esportividade Sensual".
Desta vez, porém, o estilo ousado não foi tão bem recebido pelo público e imprensa especializada, principalmente por conta das linhas pouco harmoniosas, que incluem uma grade frontal com tamanho desproporcional e lanternas que para muitos parecem estar na posição "errada".
Indo para a França, o holandês Laurens van den Acker chegou à Renault em 2009 e é responsável pela atual linguagem de estilo da marca. Fez um bom trabalho ao criar uma "marca registrada" presente em modelos dos mais variados da empresa, desde o Twizy até o Mégane, passando até pelo Clio europeu. Em comum, todos são facilmente identificados como um Renault.
Até a Volvo, que antes era motivo de piada pelos carros que mais pareciam caixotes, revolucionou o estilo escandinavo com linhas elegantes e esportivas. Uma das marcas registradas dos modelos atuais é o "martelo de Thor", nome dado às luzes de LED presentes em toda a linha de veículos em todas as categorias nas quais a empresa atua.
Acostume-se
Goste ou não, a identidade visual é um caminhos sem volta no design automotivo. Alguns optam pela sobriedade e assim vão modernizando seus produtos, como fazem os alemães.
Nem sempre as tentativas são bem sucedidas, mas as chances de erro são menores quando se ousa menos. Em compensação, quem arrisca mais pode dar um tiro certeiro ou prejudicar rapidamente uma reputação construída com muito esforço. Faz parte do jogo.
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