Carnaval 2020: como são feitos os carros alegóricos dos desfiles de SP e RJ
Parte mais visível de um desfile de Carnaval, tendo em vista o tamanho e as cores que ganham, os carros alegóricos são preparados para suportar pesos incríveis e dependem do bom funcionamento de pneus, do bom estado do chassis e outros componentes, como qualquer outro veículo.
O UOL Carros conversou com representantes de escolas de samba do Rio e de São Paulo para entender melhor como é realizado o trabalho de um ano nessas estruturas imensas. Há algumas diferenças entre as alegorias nos dois estados, mas o principal nos dois é garantir a segurança e a desenvoltura dessas atrações.
Jorge Freitas, carnavalesco da Mancha Verde, campeã do carnaval paulista em 2019, explicou à reportagem os detalhes, a começar pela estrutura da base, feita, em média, com três chassis de ônibus ou caminhão.
"Você monta a bandeja no chassi de um carro e truca todos eles. Quando começamos a fazer o projeto arquitetônico da alegoria, como é trucado, colocamos dois eixos atrás e começamos a fazer a distribuição para o eixo central entre esses dois atrás. A maior carga vai atrás".
Essa base da alegoria, chamada de "mesa", fica a 1,5m do chão. Acima dela, com os adereços do desfile, os carros passam a ter entre 18 m e 20 m de comprimento, 11 m de largura e 15 m de altura. Um prédio de aproximadamente cinco andares.
Em São Paulo, são obrigatórios cinco carros por escola de samba. Para tirar do lugar 10 toneladas e percorrer os mais de 500 m da avenida do samba, entre 50 e 60 pessoas empurram os veículos, que se locomovem sobre 10 pneus, de ônibus ou caminhão, e guiados por cambão. Por isso, cuidar dessas peças é fundamental.
Freitas lembra que os eixos não foram feitos para esse fim. Daí a necessidade ainda maior dos cuidados preventivos. "Quando você corta um eixo e faz uma bandeja para transformar em carro alegórico, você está destemperando o próprio eixo. Por isso, há um cuidado especial com a solda, tem que ser uma solda especial, tem que fazer uma amarração muito certinha".
Estar com as pontas de eixos bem lubrificadas, fazer manutenção nas rodas e trocar os pneus por novos todo ano são outras medidas indispensáveis, completa o sambista.
Valendo entre R$ 300 e R$ 350 mil, em média, os carros alegóricos absorvem cerca de 60% da verba total da agremiação verde e branca. Mas tanto investimento tem retorno imediato no ânimo de quem desfila pela Mancha, diz o carnavalesco. "A alegoria é uma injeção de ânimo para o componente. Ele vê a alegoria pronta e sente orgulho"
Após o desfile, o carro é desmontado e fica sobre macacos para evitar atrito e peso em cima dos eixos.
No Rio de Janeiro, as alegorias são motorizadas com mecânica dos ônibus que serviram como chassis. Geralmente, Mercedes-Benz, Volkswagen ou MWM, diz Helcio Paim, carnavalesco com mais de 30 anos de atuação na folia carioca, com passagens pela Unidos da Tijuca e Estácio de Sá.
Segundo ele, a escolha do modelo é criteriosa. "Quando montamos uma alegria, procuramos ônibus de viagens, pois são bem mais reforçados, e também pela direção hidráulica, pois ela se torna mais macia".
Alguns carros alegóricos chegam a 30 toneladas, ele conta. As dimensões variam bastante, a depender do projeto do carnavalesco, do orçamento da agremiação e do regulamento. Mas, em média, têm 8 m de largura por 15 m de comprimento, e a altura é bastante variável.
Para o caso de dar algum problema mecânico, as escolas já separam pessoas para empurrar as alegorias enquanto ela é consertada. Paim diz já ter visto carros alegóricos de mais de R$ 500 mil. Ao final de cada carnaval, há o desmonte, mas as bases são mantidas.
"Dificilmente são alteradas pois foram feitas para isso, e o carnavalesco sabe que tem que respeitar essa estrutura. O mais relevante para mim em relação ao espetáculo, pois fazemos a maior festa a céu aberta do mundo, é a alegoria. É o palco, o que chama mais a atenção do público".
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