Resumo da notícia
- Governo confirmou que tentará convencer Elon Musk a investir no país
- Tesla só tem uma fábrica fora dos EUA; 2ª planta será erguida na Alemanha
- Altos custos e falta de infraestrutura serão maiores entraves na produção nacional
O governo brasileiro pretende convencer a Tesla a fazer carros no Brasil. A informação divulgada por alguns veículos de imprensa foi confirmada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que realizará uma visita à empresa nos Estados Unidos ao lado do Ministro da Economia, Paulo Guedes.
Porém, a missão não será tão fácil assim. Além de persuadir Elon Musk a investir no mercado brasileiro, a fabricante sofre com atrasos na produção e dificuldades para obter lucro nos países onde está presente de forma oficial.
Dias difíceis
A Tesla teve um ano complicado em 2019. As incertezas que rondavam a empresa fizeram as ações despencarem, mas o balanço final foi positivo graças a um bom resultado no fim do ano.
A montadora sofreu um grande baque no primeiro trimestre, quando registrou um prejuízo de US$ 702 milhões - o quarto pior resultado da história da empresa.
A queda no número de vendas em relação ao fim de 2018 foi determinante para o resultado negativo. O declínio foi atribuído aos esforços da empresa em atender a demanda pelo Model 3 em dois mercados importantes: Europa e China.
Musk, porém, demorou meses para admitir que as vendas da Tesla estavam em queda. Como resultado, o valor das ações de sua empresa despencou vertiginosamente para menos de US$ 180 por ação - seu menor valor em três anos.
Há algum tempo a montadora anda na corda bamba. Em 2018, a Tesla teve um prejuízo de US$ 1 bilhão após 12 meses. Na época, Musk admitiu até a possibilidade de a empresa fechar as portas.
A reviravolta
Porém, a vida da Tesla mudou em 2019. Foram 367.500 carros vendidos apenas no ano passado, mais do que o total de unidades comercializadas nos dois anos anteriores. Até o valor das ações subiu rapidamente para mais de US$ 400.
No último trimestre, a Tesla entregou 92.550 unidades do Model 3 e 112 mil veículos de outros modelos - mais do que o total de carros vendidos durante todo o ano de 2017.
Foi o resultado de um esforço coletivo para entregar o maior número de veículos possíveis, e até Musk apareceu de surpresa na fábrica da empresa na Califórnia no dia 30 de dezembro para "ajudar com as entregas".
"Gigafábricas"
Bom lembrar que tudo isso aconteceu antes da inauguração de sua primeira fábrica fora dos Estados Unidos. A nova "gigafactory" (nome dado às fábricas da empresa pelo mundo) na China tem tudo para turbinar as vendas da Tesla em 2020.
A montadora (que foi a primeira a obter autorização para operar no mercado chinês sem a necessidade de um parceiro local) estima produzir pelo menos 250 mil unidades por ano do Model 3 e futuramente do Model Y, o SUV apresentado por Elon Musk em 2019. Se tudo der certo, a Tesla pretende dobrar esse número no futuro.
Atualmente, a Tesla possui quatro fábricas pelo mundo. Duas delas ficam nos Estados Unidos: a maior delas está na Califórnia e a outras duas são mantidas no país para produzir componentes. A quarta fica em Xangai e uma nova planta deve ser erguida nos arredores de Berlim, na Alemanha.
Caso venha a fabricar carros no Brasil, a Tesla poderia se instalar em Criciúma (SC) - pelo menos segundo a proposta do governo brasileiro. A escolha pela cidade catarinense aconteceu porque o deputado Daniel Freitas (PSL-SC), autor de um projeto de lei para isenção de impostos a carros elétricos, é um dos articuladores do projeto.
E o Brasil?
Só que fabricar carros elétricos no Brasil não é tão fácil quanto parece - e nem a Tesla está livre de alguns entraves.
Hoje faltam fornecedores capacitados para abastecer uma montadora de carros elétricos. Não há produção nacional de baterias, item mais caro e importante em um veículo elétrico. Lógico que isso poderia mudar rapidamente, mas isso demandaria altos custos.
É verdade que a Tesla fabrica suas próprias baterias em vez de depender de fornecedores (como fazem a maioria das montadoras que apostam na tecnologia), mas, mesmo assim, a Tesla mantém apenas duas fábricas: uma nos Estados Unidos e outra na China.
A pífia infraestrutura para recarga também desencoraja potenciais compradores de carros elétricos. Atualmente, estima-se que há pouco mais de 250 pontos espalhados pelo país, sendo que a maioria deles está nas regiões Sul e Sudeste.
A construção de novos postos, inclusive, depende de iniciativas patrocinadas por montadoras e/ou empresas de energia elétrica. Mesmo em países mais desenvolvidos e familiarizados com este tipo de carro enfrentam problemas semelhantes.
Países como a China e EUA concedem incentivos a empresas interessadas em fabricar carros elétricos. Ao mesmo tempo, os motoristas também desfrutam de descontos em algumas cidades na compra de um veículo movido a eletricidade.
Enquanto isso, o Brasil ainda engatinha nos incentivos à produção de carros híbridos e elétricos, algo que as montadoras já pleitearam em algumas ocasiões.
Apenas em 2018 é que o Rota 2030 trouxe metas de eficiência energética para as fabricantes atingirem até o fim da década. Em troca, o governo promete oferecer isenções fiscais. Além disso, o imposto de importação para carros 100% elétricos foi zerado e o de híbridos foi reduzido.
Quer pagar quanto?
Por fim, os preços praticados ainda são proibitivos. O JAC iEV20 é o carro elétrico mais barato do país, e mesmo assim custa mais de R$ 120 mil. Os modelos mais caros passam facilmente dos R$ 400 mil.
Justamente por isso é que as vendas são bastante tímidas. No ano passado, menos de 12 mil carros híbridos e elétricos foram comercializados no país. O volume é irrisório perto dos mais de 2,6 milhões de veículos a combustão emplacados em 2019.
Mesmo assim, o Boston Consulting Group (BCG) estima que este cenário pode mudar dentro de alguns anos.
De acordo com o instituto, os carros elétricos vão representar 5% da frota de carros novos vendidos no Brasil - algo em torno de 180 mil unidades. Se as previsões estiverem certas, nosso país pode se tornar um mercado interessante no futuro, mas ainda está bem longe disso.
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