Test-Drive

Arrizo 5 com 9 marchas é exagero que obriga uso de câmbio automático

Rodrigo Mora

Colaboração para o UOL

13/03/2020 04h00

Em um passado não muito distante, imprensa especializada e consumidores se frustravam com carros com câmbio automático de quatro marchas. Os que tinham cinco se salvavam das críticas e aqueles raros impulsionados por um câmbio de seis marchas eram endeusados.

Aos poucos, câmbio mais velocidades virou padrão mesmo em segmentos inferiores - exceção feita ao Toyota Etios, que tem apenas quatro. No segmento do CAOA Chery Arrizo 5, ou se tem seis marchas, ou CVT. Lançado em 2018 com esse tipo de transmissão continuamente variável, entra na linha 2021 tendo como principal novidade um câmbio CVT que não simula mais sete, porém nove marchas.

Não se trata de jogada de marketing. Dados do fabricante relatam redução de 11% no consumo médio, o que elevou sua nota no ranking de eficiência energética do Inmetro de C para B (em sua categoria). E o torque do motor 1.5 turbo flex saltou de 19,4 para 21,4 kgfm. A potência se manteve em 147/150 cv (gasolina/etanol).

"Todo o processo de desenvolvimento, calibração e ajuste da nova transmissão ao motor foi conduzido pelos engenheiros da CAOA Chery no Brasil, diz a marca.

Outras mudanças que acompanham a linha 2021 são rodas com novo desenho, freio de estacionamento eletrônico e função "Auto Hold". Tudo embalado nas versões RS (R$ 74.590) e RTS (R$ 83.590), que substituem a RX e a RXT - cerca de R$ 1.000 mais baratas.

arrizo - Divulgação - Divulgação — Imagem: Divulgação

Como anda

Antes de experimentar como se comporta um câmbio CVT com nove marchas em um sedã compacto, é preciso encontrar uma boa posição de dirigir. O que não aconteceu, e só seria possível com um volante ajustável também em profundidade.

Resultado: alguém como eu, de 1,77 m, flexiona as pernas até o limite do confortável, mas continua com os braços mais esticados do que gostaria.

Ao menos os comandos estão bem localizados, como o controle do rádio, à mão esquerda, e o do cruise control, à direita. O banco é confortável e deu a impressão de que se manteria um bom amparo para costas e coxas mesmo em viagens mais longas do que os 130 km do test-drive.

Dada a partida, uma boa notícia é a relação entre as respostas sensíveis (mas não exageradas) do acelerador e a entrega do torque. O Arrizo 5 sai fácil da inércia e continua desenvolvendo bem. Uma fincada mais forte no acelerador o câmbio baixa (virtualmente) de oitava para quarta marcha e os demais carros ficam para trás.

Mas é preciso aceitar o tom monocórdico do motor e a estranheza de trocas efetivas de marcha. O conta-giros trava nos 5.500 rpm enquanto o sedã deslancha.

Somente no modo manual as tais simulações de nove marchas aparecem. Há um suave degrau entre elas, que tentam se aproximar das reações de um automático convencional. Mas o motorista logo abandona o comando e volta ao automático, pois reduzir da nona ou oitava para a quarta ou terceira é enfadonho e de certo modo demorado.

E se tantas marchas é um convite a ficar no modo automático, a falta de borboletas atrás do volante e o braço direito batendo no encosto de braço entre os bancos são o RSVP.

De todo modo, o Arrizo 5 apresenta um saldo positivo de virtudes: bom espaço interno, lista de equipamentos razoável, visual bem resolvido...

Há cinco anos, o Celer - seu antecessor espiritual - não tinha a menor chance contra os contemporâneos concorrentes. Em um segmento que continuará fervendo em 2020 com a chegada do Nissan Versa, o Arrizo 5 não é o tipo de carro que deve ser desconsiderado de cara.

Outra virtude é o esforço da CAOA Chery em impor constante evolução ao modelo. A próxima delas poderia ser uma central multimídia que não ficasse quase invisível durante o dia.

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