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Coronavírus: carro nem sempre é mais seguro do que transporte coletivo

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

20/03/2020 04h00

As restrições à circulação de pessoas impostas pelas autoridades, na tentativa de conter a disseminação do coronavírus, incluem a redução na oferta de transporte coletivo em grandes cidades do Brasil. Municípios do ABC paulista já anunciaram a suspensão gradual do serviço de ônibus. Na capital, a Prefeitura suspendeu o rodízio de veículos desde a terça-feira passada.

O transporte individual, seja utilizando carro particular, táxi ou aplicativos como Uber, 99 e Cabify, seria uma forma mais segura para fazer os deslocamentos - pois limita o contato do usuário a uma quantidade menor de pessoas durante o trajeto.

Porém, especialmente no caso de táxis e carros de aplicativo, não há uma unanimidade entre especialistas quanto à maior proteção no uso de automóveis em vez de recorrer a ônibus, trem e metrô.

A Uber, inclusive, cancelou ontem a modalidade de corrida compartilhada "Juntos" no Brasil, conforme noticiado em primeira mão por UOL Carros, dias após fazer o mesmo nos Estados Unidos e nos EUA.

"[Dizer que automóvel reduz o risco de contágio] é relativo. O problema não está no carro, no transporte por aplicativo, nos ônibus ou nos trens e sim na quantidade de pessoas juntas. Se houver quatro pessoas em um carro pequeno e uma estiver contaminada, a chance da transmissão da infecção para os outros será grande", avalia o infectologista Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

De acordo com o médico, dependendo da situação, em um ônibus o risco de contágio pode ser menor. "Em um ônibus que não esteja cheio e com as pessoas separadas por dois metros, a chance de transmissão não será grande", afirma.

Por outro lado, Jair Ferreira, professor titular de epidemiologia da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), diz que "andar em veículo de transporte individual tem menor risco do que em veículos coletivos, porque nestes há mais pessoas e, assim, a probabilidade de alguma delas estar infectada é maior".

Porém, no que se refere ao uso de ar-condicionado no automóvel, os dois médicos concordam: o equipamento, mesmo se for equipado com filtro, não ajuda a prevenir a covid-19 - principalmente se a recirculação do ar da cabine estiver ativada. O ideal é rodar com as janelas abertas, mesmo no calor.

"O ar-condicionado, principalmente quando ele somente renova o ar internamente, é pior ainda, pois ajuda ainda mais na disseminação. Não há renovação do ar que será respirado", alerta Sprinz.

"As janelas devem ser abertas, para a renovação maciça do ar e/ou para diminuir o potencial número de micro-organismos presentes naquele ambiente. Mesmo em temperaturas elevadas, infelizmente", complementa o especialista.

O colega Ferreira faz coro: "Ar-condicionado, em princípio, não filtra e não traz vírus. A janela aberta ventila mais e reduz o risco, caso o motorista esteja infectado. Reduz também o risco para o motorista, caso o passageiro esteja infectado", informa o professor. Ele salienta que, ainda assim, essas medidas não protegem 100% e apenas "reduzem o risco".

Segundo a Boshoku, fabricante de elementos filtrantes para ar-condicionado de veículos, "os elementos filtrantes utilizados no sistema de ar condicionado em automóveis produzidos no País não filtram odores nem bactérias. Somente poeira. No entanto, no Japão já existe esta tecnologia para carros de alto padrão, mas no Brasil ainda não".

A informação é de Mauricio Costa, gerente de vendas da Boshoku.

A SMT (Secretaria Municipal de Mobilidade Transportes) de São Paulo também recomenda que os motoristas andem com as janelas abertas para maior ventilação.

É o que tem feito Danilo, de 31 anos, motorista da Uber há nove meses. "Tenho andado com os vidros abertos para maior ventilação, seguindo orientações que vi na mídia e também passadas pela Uber aos motoristas", relata o profissional, que diz estar utilizando menos o ar-condicionado do seu veículo.

Ele também afirma estar cuidando mais da higienização do carro e inclusive já recorreu à Uber para obter álcool em gel - por meio de comunicado, a companhia afirma que está prestando apoio aos parceiros para a limpeza dos automóveis.

"Já peguei álcool na central, onde também disponibilizam papel higiênico e até máscara. Porém, hoje fui pegar mais, cedo pela manhã, mas naquela hora não havia o produto".

Danilo admite que a pandemia, além de reduzir seus ganhos, por conta do elevado número de pessoas que permanece em casa, traz um tanto de intranquilidade.

"Recentemente, tive de recusar uma corrida. Quanto eu me aproximava dos passageiros, vi que se tratava de uma família de chineses e todos usavam máscara. Fiquei assustado, ainda mais que não sabia se eles tinham vindo da China recentemente. Fiquei assustado e cancelei", conta. Foi no país asiático que a pandemia da covid-19 começou.

A reportagem questionou a Uber sobre a disponibilidade dos produtos de limpeza aos motoristas e aguarda uma resposta.

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