De igreja a vacinação: o "vale tudo" dos drive-thru em tempos de pandemia
Drive-thru: o termo criado há quase 100 anos nos Estados Unidos ganhou o mundo e agora se adaptou para ajudar a conter uma pandemia global. Adotado por empórios, restaurantes, igrejas, universidades, prefeituras, arenas esportivas, esse tipo de atendimento tem ajudado empresários a manter os clientes e os serviços públicos a garantir vacinação de idosos.
Em Brasília, um restaurante de comida japonesa avisa os clientes: "Estamos fechados e atendendo pelo delivery e drive-thru (entregamos no carro). O isolamento não impede que você curta certos prazeres".
A dona do Goemon explicou que não possui uma estrutura fixa de drive-thru, mas como o estacionamento é grande, os clientes podem parar, ligar e fazer o pedido. Assim que estiver pronto, um funcionário entrega, sem que o freguês saia do veículo. Se preferir, pode ligar de casa, escolher o prato e ir buscar.
O sistema evita que mais funcionários precisem trabalhar nesses dias de pandemia. "A gente teria que disponibilizar mais uma pessoa para levar o cardápio, fica meio complicado. E a gente não tem aquele balcão como no McDonaldś pra pessoa parar e esperar", diz Sayuri Niho.
Ainda na capital federal, uma igreja na Asa Norte está oferecendo confissões por "drive-thru" aos fiéis. Segundo o padre, a adesão tem sido grande.
O Distrito Federal impôs uma série de restrições para evitar a propagação do novo coronavírus. Também por causa de um decreto, o Empório Pascoto, em Osasco (SP), precisou mudar a forma de trabalhar para atender o determinado pela prefeitura.
"Estamos atendendo com plataforma Drive-Thru onde você pode realizar seu pedido via telefone ou WhatsApp e buscar na nossa loja", diz o comunicado.
Para a direção da loja, o importante agora é garantir a clientela com segurança. "Hoje, quanto mais pudermos evitar contato entre as pessoas e a circulação delas em lugares movimentados, estaremos contribuindo para a luta contra o coronavírus. E oferecendo o serviço de entrega e drive thru, otimizamos as compras e o benefícios serão para nossos clientes e para nós, como comércio. É o que nós achamos.", disse o proprietário, Rodrigo Mendes Pascoto.
Em outros tipos de serviços, a adequação para a pessoa não precisar sair do carro visa garantir a saúde dos idosos. No campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), por exemplo, a fila gigantesca, onde as pessoas esperam quase duas horas, não desanimou quem foi até lá hoje debaixo de um forte sol.
Em parceria com secretaria de saúde da cidade, onde há oito casos confirmados, segundo o governo estadual, a universidade abriu o estacionamento da Faculdade de Educação e tem vacinado em torno de 800 idosos por dia, dentro de seus veículos. O público-alvo nessa primeira semana da campanha contra a Influenza é quem tem 80 anos de idade ou mais.
Como num drive-thru tradicional, os veículos param no ponto de vacinação para receber o "pedido", que, no caso, é a dose contra a gripe. Sem precisar sair, os idosos são imunizados.
Foi solicitado que usem roupa de fácil manuseio para os profissionais de saúde terem acesso ao braço onde será aplicada a injeção. Máscaras não são obrigatórias, mas recomendadas.
Alguns veículos tinham apenas uma pessoa para ser vacinada. Em outros estavam duas e até três. Os profissionais de saúde, todos com máscaras e luvas, se aproximam e fazem as perguntas tradicionais de uma ação como essa.
Em seguida, dão a injeção e passam orientações sobre os possíveis sintomas para que não sejam confundidos com os da Covid-19.
"São efeitos comuns a febre baixa nas próximas 48 horas, dor no local, vermelhidão. São reações esperadas da própria vacina. Nesse momento é importante a gente frisar para que as pessoas não confundam com sintomas da Covid e vá procurar um serviço de saúde sem necessidade, explicou a professora da faculdade de enfermagem da UFJF, Erika Andrade Silva, que trabalha no drive-thru contra a Influenza.
Para ela, o modelo atraiu mais os idosos. "Pelo medo de se expor, pelo que a gente está vivenciando agora, aqui eles têm menos contato porque ficam dentro do carro, e isso é um atrativo que eles têm elogiado bastante". Um comprovante é entregue ao final para ser depois colado na carteira de vacinação.
Em uma Ecosport, Lucília Fernandes Pimenta rodou 15 km, do bairro Grama, onde mora, até o campus da universidade. Preferiu não levar a sogra e uma vizinha até unidade de saúde, a 800 m de casa, porque não se sentiu segura. As três ficaram 1h40 na fila do drive-thru, e nenhuma reclamou.
"Acho que deveria fazer mais dessa forma. Do jeito que está, evita a contaminação. Tem uma fila de espera, mas nesse atual momento a gente tem que sair dessa zona de conforto. Eu vi que em algumas unidades de saúde onde não tem esse sistema, as pessoas estão ficando muito próximas na hora da vacinação. Acho que deveriam copiar esse modelo daqui. Nos dá uma segurança muito maior do que a fila indiana nos postos", disse a coordenadora de eventos.
No Sul de Minas, mil doses foram disponibilizadas para serem aplicadas no drive-thru da rodoviária de Poços de Caldas nesta terça-feira. A cidade fica perto da divisa com o estado de São Paulo e contabiliza uma pessoa diagnosticada com a Covid-19. A fila de carros foi formado no acesso principal do terminal.
"Acreditamos que estas doses serão todas aplicadas nesta terça mesmo, diante da grande procura que tivemos nesta segunda. É muito importante informar que tivemos um movimento muito além do normal nesta segunda e nosso esforço foi no sentido de não haver aglomeração, de orientar as pessoas para esta conduta que é essencial para este momento", contou Gisele Scatola, Referência Técnica de Imunização, ao site oficial da prefeitura, que pediu para o idoso estar acompanhado de apenas uma pessoa no veículo para evitar a aglomeração.
Os que estiverem já com quadro de síndrome gripal ou em quarentena indicada por médico não devem se vacinar neste momento, segundo determinação oficial da secretaria de saúde.
O sistema drive-thru contra a gripe também está funcionando em várias regiões do país, em locais dos mais variados, como na Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), no portão em frente ao conhecido Dique do Tororó. Em Santos, no litoral paulista, internautas filmaram uma fila de carros que ocupava cinco quarteirões.
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