Não é só Razuk: youtubers ignoram leis e aceleram atrás de fãs e dinheiro
Eduardo Rezende da Silva, o Eduardo Razuk, não é o único "influenciador" a postar vídeos acelerando veículos acima do limite de velocidade em vias públicas.
Não é difícil encontrar outros "youtubers" que fazem a mesma coisa - alguns deles, a exemplo de Razuk, têm centenas de milhares de seguidores e são bem pagos com a monetização da elevada audiência do conteúdo que produzem.
Dos vários exemplos identificados por UOL Carros, as postagens permanecem no ar nas respectivas redes sociais, apesar de exibirem infrações e até crimes de trânsito. Algumas foram publicadas há mais de um ano.
Em boa parte dos casos, o perfil dos autores é semelhante: são jovens com acesso a carros possantes, cujo desempenho muitas vezes é incrementado por meio de preparação. Tentamos contato com todos os "youtubers" mencionados neste texto, porém apenas Silva respondeu até o momento.
Tesla partido ao meio em Miami
O "Razuk Backstage" já soma mais de 540 mil inscritos e tem vídeos com mais de 1 milhão de visualizações. Porém, o número de seguidores parece pequeno se comparado ao do canal de Greg Ferreira no Youtube: já tem quase 1,7 milhão de inscritos.
Ferreira, que é brasileiro e vive há em Miami, nos Estados Unidos, é dono de um Lamborghini Huracán e de outros veículos. No seu canal, ele aparece em diversos vídeos acelerando a mais de 200 km/h, não apenas nos EUA. Em uma postagem, ele atinge 276 km/h em uma rodovia do México, país vizinho.
Greg Ferreira, inclusive, destruiu em janeiro passado seu Nissan GT-R branco, ao acertar em alta velocidade um Tesla Model S - que se partiu em dois com a batida, em um cruzamento de Miami. Um Ford Mustang também foi danificado.
Ele diz em um vídeo que acelerou quando o semáforo ficou amarelo.
O "youtuber", que se aventura como funkeiro, diz, em um dos seus vídeos, que estava sóbrio no momento do acidente e não houve feridos graves.
"Cometo erros como qualquer pessoa. Moro há três anos nos Estados Unidos e nunca tinha levado multa com o GT-R. Vou agora seguir tudo dentro da lei", afirma.
'Não gravo mais o velocímetro'
Já o "Punisher Speed", da mesma rede social, soma mais de 2 milhões de visualizações, embora o número de inscritos seja consideravelmente menor: pouco mais de 18 mil seguidores.
O responsável pelo canal, que mora em Porto Alegre (RS), não revela seu nome nem mostra o rosto. Na descrição da página, ele admite que "gosta de acelerar, mas sempre faz da forma mais consciente".
"Em toda a minha vida, nunca me envolvi em acidente nenhum por velocidade", salienta, dizendo que "aprendeu técnicas de direção", embora não se considere um piloto profissional. "Modéstia à parte, dirijo muito bem, posso dizer que acima da média".
Em uma das postagens, ele dá "dicas" para evitar infrações de trânsito. Em outra, se gaba de ter ultrapassado outro veículo pela direita, em uma rodovia, em frente a um carro da Polícia Rodoviária.
Em boa parte dos vídeos, nos quais dirige um Volkswagen Jetta TSI preto, que apelidou de "Black Wolf", o velocímetro está parcialmente encoberto. Em outros, ele borra a imagem na área do painel. Ainda assim, identificamos o "youtuber" guiando em uma das postagens a 140 km/h.
"Eu faço coisa errada, faço algumas coisas que não são corretas, por isso não gravo mais o velocímetro", admite em uma postagem.
As gravações a altas velocidades não são exclusividade do Youtube: identificamos conteúdo semelhante no Instagram e no Facebook - neste último, basta digitar os termos "velocidade máxima" e "acelerando tudo" na seção de vídeos que vários resultados aparecem.
Corolla paraguaio e Onix a 220 km/h
Luan Galasso, do canal "PetrolHead", com mais de 140 mil inscritos, é outro acostumado a pisar fundo e registrar tudo em vídeo.
Em postagem feita no dia 19 de abril, ele acelera um Chevrolet Onix Turbo a 220 km/h. Galasso relata que removeu o limitador de velocidade que vem de fábrica no hatch.
Em outro vídeo, publicado na sexta-feira passada, ele põe 195 km/h em um Chevrolet Astra. Em ambos os casos, o ponteiro do velocímetro dos carros chega ao fim da escala e ele comprova a velocidade real utilizando um aparelho de GPS.
Nesse mesmo dia, o "youtuber" do "PetrolHead" teve de depor à Polícia Civil do Mato Grosso do Sul devido à compra de um Toyota Corolla XRS com placas do Paraguai, que estava na casa de Eduardo Razuk - que acabou preso em flagrante por receptação, mas foi liberado horas depois, após pagar uma fiança de R$ 20 mil. O sedã foi apreendido.
Os dois são alvo de inquérito policial por causa desse veículo. Eduardo da Silva, cuja CNH já tem mais de 40 pontos no prontuário, foi indiciado também pelos crimes de incitação ao crime, direção perigosa, desobediência ao toque de recolher e descumprimento de medida preventiva sanitária.
Investigações envolvendo Razuk incluem BMW
As acusações de "descumprimento de medida preventiva sanitária" partiram de um vídeo que Razuk postou, e depois tirou do ar, "furando" o toque de recolher em Campo Grande em 21 de março. Nesse dia, ele acelerou um Volkswagen Jetta GLI preparado com 400 cv de potência nas ruas da cidade durante a noite.
A realização de rifas de veículos no Backstage também é investigada pela polícia - Silva sorteou o Jetta por R$ 500 mil.
O inquérito inclui um vídeo que começou a circular neste fim de semana, gravado em data não identificada e postado pelo usuário "tretaautomotiva" do Instagram. A gravação exibe um BMW X3 azul sem placas, rodando a alta velocidade, supostamente na capital sul-mato-grossense.
Há poucos dias, Razuk comprou um carro com as mesmas características, ainda não emplacado, com preço em torno de R$ 600 mil. Na ocasião, ele postou que o seu BMW X3 M Competition é o único de todo o Mato Grosso do Sul e, na cor azul igual ao seu, só existe outro - emplacado no Rio Grande do Sul.
"Provavelmente [Silva] será intimado está semana para ser ouvido sobre o novo fato", afirma o delegado Ricardo Meirelles Bernardinelli, da terceira Delegacia de Polícia de Campo Grande, responsável pelo caso. Bernardinelli diz que outros "youtubers" são investigados no Estado.
Procurado pela reportagem, Silva enviou nota do seu advogado dizendo que "desde o momento no qual deixou a delegacia, Eduardo não assumiu a direção de qualquer veículo automotor, inclusive, do BMX X3 M".
A nota acrescenta que "todas as determinações feitas pela Polícia Civil estão sendo cumpridas fielmente e mais esclarecimentos sobre as acusações serão dados em momento oportuno".
Remoção de vídeos depende de denúncia
Também entramos em contato com o Google, dono do Youtube, com o qual compartilhamos alguns dos vídeos mencionados nesta reportagem e questionamos a permanência deles no ar.
A empresa respondeu que "qualquer usuário que acredite ter encontrado uma violação de nossas políticas pode fazer uma denúncia e nossa equipe fará a análise do vídeo".
"Quando não há violação à política de uso do produto, a decisão final sobre a necessidade de remoção do conteúdo cabe ao Poder Judiciário, de acordo com o que estabelece o Marco Civil da Internet", complementa a nota do Google.
Questionamos o Instagram e o Facebook, que integram a mesma companhia. A resposta foi parecida: "O Facebook conta com padrões da comunidade que detalham o que é permitido ou não na plataforma. Contamos com nossa comunidade para denunciar conteúdos que possam estar violando nossas políticas para que sejam revisados e, se for o caso, removidos".
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