Caçador de Ferraris: quem é o britânico que resgata carrões com pechinchas
A notícia de que um "youtuber" convocou internautas a encontrar uma Ferrari F40 perdida, que teria pertencido a um dos filhos do ex-ditador iraquiano Saddam Husseim, acabou viralizando nas redes sociais.
O britânico Scott Chivers, de 46 anos, é o homem por trás da história curiosa e tem uma relação mais do que especial com os esportivos da marca italiana. Em entrevista a UOL Carros, ele conta que hoje é dono de seis Ferraris, mas já teve mais de 30 carros da montadora de Maranello durante a vida.
No entanto, Chivers não é daqueles colecionadores tradicionais. A grande maioria dos veículos da sua frota foi adquirida usada, requerendo reparos, e por preços abaixo dos praticados no mercado.
Ele mesmo realiza as manutenções e as reformas na garagem de casa, em Londres, gastando bem menos do que em uma concessionária da Ferrari.
Os projetos são assunto de vídeos que ele posta no canal "Ratarossa", uma alusão à sua Testarossa 1987 Spider que ele construiu a partir da carroceria de um exemplar cupê que encontrou nos Estados Unidos.
Chivers transformou a "sucata de luxo" em uma versão conversível raríssima - apenas uma unidade com teto retrátil foi produzida oficialmente pela Ferrari. A "Ratarossa" hoje está totalmente funcional, mas nunca recebeu pintura. Ele revela que pretende deixá-la assim.
O termo "Rat" é a sigla para recycled automotive transport ou transporte automotivo reciclado - o que bem define o jeito com que Chivers vê as Ferraris.
'Ferrari não é intocável'
"Minha abordagem [com os carros da marca italiana] é desfazer o mito de que pessoas normais não podem ter ou mexer em Ferraris. Elas são vistas como intocáveis, que não podem receber manutenção por ninguém que não seja uma oficina certificada pela Ferrari, que cobra uma fortuna pelos serviços", explica o inglês.
"Gosto de demonstrar para minha audiência que são carros como quaisquer outros, com mecânica semelhante à de modelos de marcas como Volkswagen e BMW", complementa.
Scott Chivers, que trabalha em tempo integral como "youtuber", posta vídeos demonstrando o passo a passo de vários procedimentos, como troca de correia e ajuste do motor.
Além da "Ratarossa", ele possui hoje os modelos 360 Challenge Stradale 2003, 456 GTA 1997, 355 Spider 1999, 308 GTS QV 1983 e 308 GTSi 1982 - este último ainda não está rodando e é um dos projetos futuros de Chivers.
"Não vendo todos os projetos após terminá-los. O problema é que me afeiçoo aos carros porque gosto deles demais. A 'Ratarossa', a 360 Stradale e uma das 308 eu vou manter comigo", relata o entusiasta, que diz ser apaixonado por automóveis desde os seis anos de idade. Ele comprou sua primeira Ferrari, uma 348 Spider, quando tinha 25 anos.
Nos vídeos, Scott mostra que usa os esportivos no dia a dia e sem dó. Alguns carros exibem danos na pintura; outro está com o para-choque frontal danificado e reparado com fita adesiva; alguns têm bancos gastos.
"Gosto de dirigir minhas Ferraris cotidianamente, especialmente as mais novas, que apresentam muito mais problemas se ficam paradas. Tenho minha 360 Challenge Stradale há dez anos e já rodei aproximadamente 70 mil milhas [pouco mais de 100 mil km]. Cada milha colocou um enorme sorriso no meu rosto".
Caçando barganhas
Além de orientações sobre procedimentos mecânicos e de reparo, Scott Chivers também dá dicas nos seus vídeos de como garimpar barganhas de Ferraris e fazê-las valerem muito mais dinheiro com alguma habilidade na oficina - sem deixar a conta no vermelho para tal, considerando o poder aquisitivo médio dos britânicos, muito superior ao dos brasileiros.
"Quando vendo, em geral tenho lucro, mas em algumas oportunidades fiquei no prejuízo. Por exemplo, paguei US$ 19 mil [cerca de R$ 105 mil no câmbio de ontem] por minha 456 GTA 1997 e gastei mais US$ 300 (R$ 1,6 mil) para consertá-la e deixá-la rodando novamente", relata.
De acordo com Chivers, essa Ferrari pode ser vendida por cerca de US$ 40 mil (R$ 220,7 mil) - praticamente o dobro do dinheiro investido.
A história da 'Ratarossa'
A Ferrari sem pintura que o britânico não vende de jeito nenhum acabou dando nome ao seu canal no Youtube. Segundo ele, essa compra foi "estranha".
"Eu já tinha uma Testarossa Corsa 1990 em boas condições e, na época, procurava na internet por uma peça do motor. Vi em um fórum de kits para deixar carros genéricos com visual de Ferrari o anúncio da carroceria de uma Testarossa 1987 na Califórnia. Percebi que, na verdade, era um item genuíno e fechei negócio", lembra.
Ele diz ter gasto US$ 16 mil (R$ 88 mil), incluindo o frete, na carroceria. Quando ela chegou ao Reino Unido, Chivers constatou que o teto havia sido cortado. Foi aí que decidiu fazer a 'Ratarossa' conversível.
"Meu plano foi manter a parte externa sem pintura, como está atualmente, e deixar o motor V12 e toda a parte mecânica em perfeito estado, contrastando com a aparência bagunçada. Coloquei escapamento esportivo e o som que sai dele é impressionante", derrete-se.
F40 de Uday Hussein
Chivers revela que sua Ferrari favorita é a F40 "desde sempre". Durante suas buscas na web, ele encontrou imagens de um exemplar que teria pertencido a Uday Hussein, filho de Saddam Hussein.
"Ao contrário das outras 1.315 unidades fabricadas, a F40 seria um carro para uso diário e também para gerar conteúdo no meu canal. Foi então que pedi aos meus espectadores que me ajudassem a localizar esse carro específico, para se tornar mais um projeto".
O "youtuber" promete postar um vídeo nos próximos dias para contar mais sobre a caçada ao carro e o que descobriu até o momento.
"A F40 é um modelo muito caro atualmente e essa F40 abandonada de Uday poderia ser a oportunidade de comprá-la por um preço baixo e registrar sua restauração no Youtube. Caso essa missão não funcione, vou buscar outra alternativa. Uma ideia que estou começando é pedir doações para ajudar a adquirir o carro. Todos que doarem terão a chance de ganhar uma das minhas Ferraris".
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