Aumento de 4% nos preços dos carros ainda é pouco, diz presidente da GM
As montadoras não têm o costume de divulgar reajuste de preços de veículos, mas foi o que a General Motors fez na semana passada.
Por meio de comunicado enviado à imprensa, a empresa informou ter promovido aumento de 4% em toda a sua linha de veículos.
Nessa mesma nota, Carlos Zarlenga, o presidente da GM na América do Sul, aponta justificativas como dólar alto, fábricas e concessionárias fechadas devido à pandemia e endividamento das fabricantes.
"Não temos espaço para perder dinheiro porque a dívida já é enorme e vai duplicar. O que vamos ver é que mesmo em uma indústria pequena, haverá aumento de preços. Recentemente, já houve aumento que não víamos há muito tempo e veremos mais ainda", pontuou o executivo.
Mais do que informar um mero reajuste, o comunicado serviu para trazer à pauta demandas da GM e das montadoras em geral, endereçadas ao governo, face à queda de 99% na produção e de 76% nas vendas de veículos novos em abril.
Em entrevista a UOL Carros, Zarlenga diz que a dívida das montadoras vai chegar a quase R$ 100 bilhões após a crise, voltou a dizer que a indústria local opera no prejuízo e reforçou que o aumento de 4% para os automóveis da Chevrolet não será suficiente para compensar as perdas.
"Claramente, 4% não são suficientes. Este percentual depende de muitos fatores, entre eles a variação do dólar, o nível de localização de cada modelo e sua margem de contribuição", afirma o presidente.
'É necessário aumentar preços'
O executivo pontua que, no caso da General Motors, o aumento será feito de forma "gradual".
"As montadoras não são rentáveis no Brasil há algum tempo. Adicione a isso uma desvalorização de 48% do real desde meados de 2019, com uma localização média de 60%. Não se trata de aumentar os lucros. É necessário aumentar o preço para manter as operações viáveis".
Carlos Zarlenga nega que, mesmo com a recessão e apesar dos efeitos negativos do coronavírus, a GM cogite encerrar as atividades fabris no Brasil, como ameaçou fazer no ano passado, alegando prejuízos na operação brasileira.
"A GM está comprometida com o mercado brasileiro e faremos investimentos para manter nossa forte posição nesse mercado".
Porém, não se sabe quando esses investimentos serão retomados.
Socorro do governo
Zarlenga pontua que a manutenção das atividades da General Motors e de outras montadoras no País passa por medidas como o já mencionado aumento nos preços e incentivos fiscais para alavancar as vendas - quando a produção retornar e as concessionárias reabrirem.
"Todas as alternativas no sentido de reativar a economia e as vendas da indústria estão sendo discutidas. Não descartamos nenhuma iniciativa que venha a contribuir para superarmos esta crise e podermos retomar os investimentos. Nesse ponto, acredito que haverá a necessidade de colocar incentivos fiscais para estimular a demanda", aponta.
No passado, o governo federal já suspendeu a cobrança do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de veículos.
Segundo a coluna "Autodata", a Anfavea, a associação das montadoras, solicitou ao Ministério da Economia que R$ 25 bilhões referentes a créditos de PIS e Cofins retidos nos cofres do governo sirvam como garantia para os bancos privados concederem empréstimos às montadoras.
Zarlenga também destaca que os mencionados cortes de investimentos vão afetar os aportes necessários para cumprir as metas de eficiência energética e de emissões estabelecidos pelo Rota 2030 - o plano governamental de desenvolvimento do setor automotivo.
"Não é realista para o governo brasileiro não revisar as mudanças regulatórias associadas ao Rota 2030. Os prazos terão de ser adiados. A indústria consolidada tinha uma dívida acima de R$ 50 bilhões de reais antes da crise e isso quase dobrará durante esse período. Essas dívidas devem ser pagas e isso reduzirá a capacidade de investir".
"Nenhuma empresa em condições normais tem mais do que um ou dois meses de caixa para suportar uma parada tão brusca de vendas como a que estamos vivendo".
Carga tributária
O chefe local da GM também cita a necessidade de rever a carga tributária, praticamente um mantra da indústria automotiva brasileira. Ele destaca que, no Brasil, cerca de 40% do preço final dos automóveis é correspondente a impostos, contra 7% de outros países.
Segundo Zarlenga, o Chevrolet Cruze seria 35% mais barato aqui do que nos Estados Unidos, não fossem os impostos.
A desvalorização expressiva do real frente ao dólar também seria uma oportunidade para alavancar as exportações, quando voltar a produção, mas novamente o executivo vê a carga tributária como um entrave.
Com a enorme carga tributária que o Brasil tem, não acho que exista uma real possibilidade de exportação no curto prazo. A reforma tributária no Brasil não pode se concentrar na simplificação de impostos, temos que focar na carga que, em muitos casos, é insustentável".
Confira abaixo entrevista de Zarlenga a UOL Carros publicada em dezembro do ano passado, portanto, antes da pandemia.
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