De app a controle de temperatura: visitamos a retomada da produção da Fiat
Há uma semana a FCA, responsável pelas marcas Fiat e Jeep, retomou sua produção de veículos no Brasil após 48 dias de parada por causa da pandemia do novo coronavírus. Se antes a produção em Betim (MG) era de 1.500 carros ao dia, atualmente esse volume foi reduzido para cerca de mil.
A reportagem do UOL Carros pôde acompanhar a nova rotina da fábrica na cidade mineira durante a pandemia, estando presente desde o ônibus que leva os funcionários do primeiro turno, até a linha de produção, para conferir a nova realidade fabril e da mão de obra. Com exclusividade conhecemos ainda a nova empreitada da Fiat: fabricação de máscaras cirúrgicas.
Antes de entrar no transporte fretado, os empregados têm contato com uma nova figura, que a empresa batizou de "capitão/capitã da saúde", responsável por passar informações, verificar se está em condições de trabalho e indicar o uso do álcool em gel nas mãos. É preciso ainda mostrar o celular com um app sinalizando o "ok" após resposta de um questionário sobre sua saúde.
Luísa Passos, da área de saúde e segurança de trabalho, conta que o aplicativo, pensado pelas operações na América Latina e replicado nas operações globais, é uma peça fundamental para a volta ao trabalho. "É a partir desse app que a gente consegue fazer um mapa epidemiológico. Isso é fundamental na política de retorno. Pensamos nessa solução como uma forma de já ter um controle antes dele sair de casa".
Já na portaria, encontramos uma barreira sanitária que consiste em câmeras que detectam a temperatura de quem passa pela catraca e controlado por imagem e som (caso alguém esteja com febre). Caso esse sistema de termovisores avise um possível empregado febril, há ainda uma segunda checagem com termômetros. No chão, há tapetes sanitizantes que limpam as solas dos calçados. Para se ter uma ideia da movimentação no local, apenas o setor de Motores possui cerca de 2.200 empregados.
Nos restaurantes da fábrica foram instaladas identificações no chão para manter o distanciamento entre uma pessoa e outra, além de álcool à disposição e luvas para pegar os vasilhames. Às mesas foram colocadas divisórias de acrílico para que ninguém fique em contato com outras pessoas durante a alimentação.
Uma nova forma de pensar e agir
Por todas as linhas de produção é possível ver as adequações realizadas. Claudio Froes, gerente da área de Motores, conta que a preocupação principal de momento é a saúde. "É melhor produzir pouco do que nada, mas nosso foco é garantir a saúde, voltando aos poucos e aquecendo", diz ao completar, em ordem, a linha de pensamento: Saúde, Segurança, Qualidade e Produtividade.
Na linha de frente está Vanderlei de Castro que, em seu posto de trabalho, está a produção do virabrequim. "A primeira coisa que faço é a higienização de tudo em que tenho contato. Já tínhamos procedimento de limpeza, mas não no início do dia, isso é novo", conta.
Ele ressalta ainda que se sentiu seguro em voltar à ativa. "É uma situação nova, temos nossas preocupações para nos proteger e a nossa família, mas sabia que teria ações de prevenção. A pandemia ainda existe, mas aceitei bem ter que voltar a trabalhar. A gente precisa do trabalho, mas tem que ser assim, de forma segura".
Outra figura nova pelos corredores das linhas de produção é o empregado que recebeu internamente o nome de "esquadrão da saúde". Com vestimenta de proteção dos pés à cabeça, é o responsável por fiscalizar a disponibilização de álcool pelas áreas e o comportamento de seus colegas dentro da fábrica.
"Acredito que eu posso contribuir com a saúde das pessoas. Para mim, é um benefício fazer parte disso tudo, porque sei que o momento é delicado e que logo sairemos dessa", sacramenta Arnon Henrique, um dos "esquadrões da saúde".
Outro operador que está na linha de frente novamente na produção dos veículos Fiat, na área de Montagem, é Ramon Granda. Ele também diz que voltou por confiar nas ações de segurança. "O momento é crítico, sinto seguro ao fazer todas as medidas", conta.
Colega de profissão de Ramon, Kessia Oliveira também é uma capitã da saúde. Ela mora com mais três pessoas e relata que não houve muita preocupação familiar com sua volta ao trabalho.
"Todo mundo ficou tranquilo, a gente toma as medidas de segurança quando retorno para casa. Os 48 dias [de parada] foram suficientes e com todas as medidas o ambiente é seguro. Com o tempo, vamos reaprendendo de acordo com a nova realidade", acredita.
A decisão de voltar
Institucionalmente, a FCA passou por várias etapas até a decisão final de voltar com a produção em suas duas fábricas no Brasil, em Betim (MG) e Goiana (PE). Neylor Bastos, gerente responsável por toda a América Latina no grupo FCA na área de Saúde e Segurança do Trabalho, conversou com a reportagem do UOL Carros e ressaltou os parâmetros adotados.
"Temos certeza de que criamos um ambiente seguro para o empregado", pontua."Foi um trabalho de construção. Desenvolvemos um padrão conforme adotado globalmente com muito rigor. Está mais seguro dentro da planta de Betim do que fora. Isso porque tivemos uma série de medidas implantadas, têm pessoas monitorando".
Para Neylor, o momento agora é de viver e adaptar a uma nova realidade, "o novo normal" em suas palavras. "A pandemia é uma realidade nova, carece de muitas mudanças físicas, mas principalmente do comportamento da mentalidade das pessoas".
Ao falar com a reportagem do UOL Carros, Neylor também frisou que a informação de qualidade é essencial nesse processo. Para ele, é preciso evitar boatos e fake news. "Trabalhamos com informação assertiva, sustentando e dando base para que o empregado também possa levar conhecimento para seus familiares".
A adoção das medidas como criação do aplicativo, questionários feitos ao longo do dia, medição de temperatura, além das alterações nos espaços produtivos são, para o gerente, os itens que fizeram a produção dos carros voltarem.
"A definição de ações rigorosas, que são extremamente controladas, é que nos propiciara e nos dá muita certeza e segurança que estávamos no momento certo e preparados para a retomada".
Já quando se fala em ritmo de produtividade, o cenário ainda é de baixa. "Não houve pressão de mercado para a volta, porque a venda caiu, mas o ritmo da produção será de acordo com a resposta do mercado. É ele quem vai ditar nosso volume de produção", conta.
Manutenção de respiradores e fabricação de escudos
Um espaço do amplo galpão destinado à produção de Motores como a família FireFly foi destinado para a equipe que está encarregada de fazer a manutenção nos respiradores hospitalares, uma iniciativa que conta parceria com o Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
Marcos Souza, empregado da FCA e uma das pessoas responsáveis pela gestão dessa operação conta o quão desafiador é esse trabalho. "Recebemos cerca de vinte tecnologias diferentes, alguns antigos da década de 80, outros mais novos", conta. Ao todo, o local já recebeu 177 equipamentos e foram entregues 42 unidades recuperadas para os hospitais de Minas Gerais, sendo que apenas quatro foram de outro estado.
As etapas para recuperação dos respiradores consistem em recebimento, testes iniciais, análise dos defeitos, aquisição de peças e materiais se necessário, calibragem e a devolução. "Nesse momento o principal ponto de entrave é conseguir peças e componentes de reposição hospitalar. É quase uma questão de guerra para conseguir comprar e fazer com que o pedido chegue", conta Marcos. A reparação de uma unidade que não demanda muitas investidas demora cerca de três dias.
A fábrica em Betim também produz escudos de proteção facial utilizando impressoras 3D e modelagem feita internamente. "O coronavírus chegou e deu baque em todo mundo, ninguém esperava isso, então poder ajudar e participar deixa muito grato", conta Adriano Bessa, uma das pessoas que está à frente dessa produção. O volume aumentou, de acordo com Bessa, para o retorno das atividades, já que em algumas etapas o uso se tornou obrigatório.
Fiat começa a produzir máscaras cirúrgicas
A reportagem do UOL Carros foi a primeira equipe a entrar no espaço que abriga uma nova empreitada da Fiat em Betim: a produção de máscaras cirúrgicas. Com investimento de R$ 3 milhões, a empresa espera uma autonomia de 1,5 milhões de máscaras produzidas ao mês, sendo que desse total, 10% serão destinadas para doações aos poderes públicos de Minas Gerais e Pernambuco. Os trabalhos já começaram.
Samuel Diniz, supervisor de engenharia de manufatura, conta que a decisão desse investimento partiu logo no início da pandemia. "Tivemos a ideia de fazer as máscaras porque começou a faltar no mercado e por não ter certeza do futuro, além de ter estudado os impactos que teríamos em não ter a máscara disponível", conta.
O valor investido conseguiu preparar o local e comprar maquinários que foram importados da China com roteiro de importação via África. Para entrar no local é preciso fazer uma série de sanitização das mãos, colocar roupas especiais e passar por uma sala de esterilização.
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