Como Ferrari rara de príncipe saudita foi deixada para apodrecer em quintal
O youtuber britânico Scott Chivers se especializou em garimpar Ferraris de segunda mão por barganhas, para depois restaurá-las e registrar todo o processo em seu canal "Ratarossa".
Recentemente, Chivers localizou no Iraque uma F40 que pertenceu a um dos filhos de Saddam Hussein, mas desistiu da compra.
Seu mais recente achado é outro modelo raro da marca italiana, que teve apenas 42 unidades fabricadas com volante instalado no lado direito: uma 512 BBi 1983.
De acordo com o atual dono, que prefere o anonimato, originalmente esse carro pertenceu a um príncipe saudita.
Apesar de ser bastante rara e de ter pertencido a um membro da nobreza, essa Ferrari permanece há 12 anos estacionada em frente à casa do proprietário, no interior da Inglaterra, exposta ao sol e à chuva. Está literalmente apodrecendo a céu aberto.
A intenção do "Caçador de Ferraris" era negociar a compra do esportivo para depois devolvê-lo à vida, gerando conteúdo para seu canal. Porém, o proprietário não quer fechar negócio, conta o youtuber a UOL Carros.
"O dono atual tem essa Ferrari há 15 anos e ela estava perfeita quando ele a adquiriu. Porém, hoje a 512 BBi permanece estacionada, enferrujando. Durante esses anos de quase total inatividade, o esportivo rodou apenas 6,4 km", conta Chivers.
Atualmente, o hodômetro indica que o clássico foi pouco usado: a marcação aponta 10.332 km.
R$ 2 milhões?
O youtuber afirma que não sabe a razão de o veículo ter sido deixado de lado, já que não sofreu acidente grave nem danos mecânicos - exceto aqueles causados pelo longo período de inatividade, sem um teto que servisse de proteção aos efeitos do clima.
Chivers estima que, se estivesse em perfeito estado, a Ferrari branca valeria cerca de 300 mil libras (R$ 2,04 milhões no câmbio de ontem).
"Hoje, é difícil dizer o preço desse carro. Porém, da forma em que se encontra, eu estimaria algo entre 70 mil e 100 mil libras [de R$ 475 mil a R$ 680 mil]. Seria preciso gastar esse mesmo valor para fazer a restauração completa".
Apesar de tratar a Ferrari 512 BBi com tanto descaso, seu dono está resoluto em não passá-la adiante, pontua Chivers.
"Esse carro está pedindo para meu canal resgatá-lo e salvá-lo, devolvendo seu velho brilho. Tentei comprar ou trocar por uma das minhas seis Ferraris, mas sem chance. Aparentemente, essa Ferrari vai um dia se transformar em uma pilha de ferrugem, a não ser que, por um milagre, ele mude de ideia e decida fechar negócio", lamenta o youtuber.
Ferrugem, musgo e sujeira
Scott Chivers prefere não informar a localização exata da 512 BBi, alegando que, se o fizesse, "todo o mundo iria até lá para tentar comprá-la".
As fotos que ilustram este texto, cedidas pelo "caçador", são de cortar o coração de fãs da marca.
A pintura, que teria sido feita sob encomenda do príncipe, está detonada, coberta por ferrugem e por uma grossa camada de sujeira. Já motor central traseiro de 12 cilindros está coberto por folhas, musgo e até teias de aranha.
Borrachas, dutos e outros componentes teriam de ser trocados, enquanto todos os fluidos estão velhos ou já secaram. O pedal da embreagem está duro e dá para ver buracos na carroceria de aço, causados pela oxidação.
O sistema de escapamento também está todo enferrujado.
Apesar da falta de cuidados, surpreendentemente a cabine exibe boa forma, trazendo carpete e tapetes originais, enquanto os bancos esportivos de couro apresentam apenas alguns sinais de desgaste. A maioria dos botões e das alavancas do painel e do console estão operacionais, segundo o britânico conseguiu constatar.
Como é a Ferrari 512 BBi
A Ferrari 512 BB nasceu carburada em meados da década de 1970, substituindo o modelo Daytona. Somente em 1981 ganhou injeção eletrônica de combustível e foi rebatizada como BBi.
A sigla BB indica as duas principais características do esportivo italiano: o primeiro "B" é uma referência à palavra boxer, que designa a configuração do motor, que traz os cilindros contrapostos na horizontal - uma solução técnica adotada para reduzir o centro de gravidade, rara em Ferraris.
Já o segundo "B" é relativo a berlinetta, expressão italiana que significa cupê de dois lugares.
Por falar em motor, o da 512 BBi tem 12 cilindros "deitados" e 4,9 litros de capacidade cúbica. Novo e nas especificações originais de fábrica, ele é capaz de render 340 cv de potência e 46 kgfm de torque, gerenciados pelo câmbio manual de cinco marchas. A tração, como manda a tradição, é traseira.
A Ferrari informa que esse modelo acelera de zero a 100 km/h em 6,3 segundos e atinge a velocidade máxima de 280 km/h.
Em 1984, a 512 BBi saiu de linha, dando lugar a outro ícone da marca italiana: a Testarossa.
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