Amaciamento do motor: ainda precisa 'pegar leve' ao acelerar carro novo?
No passado, era bastante comum falar em "amaciar" o motor de um carro adquirido zero-quilômetro.
As montadoras, inclusive, recomendavam não abusar nas acelerações durante os primeiros 5.000 km, em média, com o objetivo de evitar danos a componentes internos.
Hoje, muitos proprietários de veículos novos simplesmente desconhecem a prática ou pensam que é coisa do passado.
Porém, o "amaciamento" ainda é essencial para prolongar a vida útil do motor - e também para que ele atinja o desempenho e o consumo de óleo lubrificante e combustível para o qual foi projetado.
A diferença é que, por conta da tecnologia mais avançada e precisa adotada na construção de motores, a quilometragem necessária para o "amaciamento" ficou bem menor: 1.500 km, aproximadamente.
As orientações para "amaciar" o motor, inclusive, podem ser verificadas no manual do proprietário, como antigamente.
O manual do Renault Sandero 2020, por exemplo, diz: "Até atingir os primeiros 1.000 km, não ultrapasse 130 km/h na troca de marcha mais elevada ou 3.000 a 3.500 rpm". O mesmo manual informa que somente após cerca de 3.000 km rodados o veículo vai "proporcionar todo seu desempenho".
A Volkswagen dá orientação semelhante no manual do Up 2020 e até usa o termo "amaciamento".
"Um motor novo deve ser 'amaciado' durante os primeiros 1.500 quilômetros. O atrito interno das primeiras horas de uso é maior do que o atrito posterior, quando todas as peças móveis já estiverem ajustadas umas às outras", informa o documento.
A VW recomenda, até os primeiros 1.000 km, "não acelerar ao máximo" e "não submeter o motor a uma rotação maior do que 2/3 da rotação máxima". Entre 1.000 km e 1.500 km, a montadora diz que "pode-se elevar gradualmente a velocidade e a rotação do motor".
Metal contra metal
De acordo com Erwin Franieck, mentor de tecnologia e inovação da SAE Brasil, apesar dos avanços tecnológicos, os projetos atuais de motores a combustão interna ainda levam em conta o período de "amaciamento" e nada indica que isso vá mudar em um futuro próximo.
"A superfície de componentes metálicos internos de um motor novo apresenta rugosidade, ou seja, variações no relevo que não são as ideais. Isso vale para todo o trem de força, incluindo engrenagens, eixos e mancais, que precisam de quilometragem para atingirem esse assentamento natural", explica o especialista.
Como as peças de um motor pouco rodado estão mais justas, explica, os atritos de metal contra metal são maiores nos quilômetros iniciais. Por essa razão, o consumo de óleo e combustível é maior durante o período de "amaciamento".
É também por conta dessa necessidade de "ajuste" dos componentes de atrito que existe a recomendação de não subir demais as rotações nessa fase inicial, pontua o engenheiro.
"A pior condição durante o período de 'amaciamento' é a máxima rotação do motor. O toque de metal contra metal pode ser tão violento a ponto de soltar fagulhas dentro do motor, que podem arranhar as superfícies com as quais tiverem contato", alerta.
Franieck destaca que a importância de "amaciar" já foi maior no passado, mas não deve ser ignorada nos tempos atuais.
"É melhor não 'judiar' muito do motor nos primeiros 1.000 km. Evite dar carga total no acelerador. Até atingir essa quilometragem, dá até para pegar uma estrada, porém a velocidades mais baixas, sem passar dos 120 km/h nem 'esticar' as marchas".
A recomendação vale também para a fase "fria" do motor, independentemente da quilometragem: melhor é atingir a temperatura ideal de funcionamento antes de pisar fundo.
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