Auto Pobre: paródia de programa da Globo viraliza com gambiarras em carros
"Chega de AutoEsporte falando de carros que você nunca vai ter. Este é o Auto Pobre, que analisa os carros dos trabalhadores brasileiros".
É assim que o humorista Stevan Gaipo, de 24 anos, anuncia um dos vídeos nos quais testa carros velhos, detonados e cheios de gambiarras.
Paródias do programa AutoEsporte, da TV Globo, as publicações do Auto Pobre dão destaque aos equipamentos dos veículos que não funcionam ou foram reparados com arame e outros métodos alternativos.
Essas publicações viralizaram e são responsáveis por atrair uma parcela considerável dos mais de 2 milhões de inscritos no canal de Gaipo no Facebook.
Escort com cola epóxi no motor
Segundo o jovem, o vídeo no qual ele avalia um Volkswagen Gol com pneu careca e freio de mão quebrado, já tem quase 7 milhões de visualizações na rede social.
Na postagem relativa ao Gol, Stevan destaca que é "mais fácil falar do que tem nele que funciona do que tudo o que não funciona".
"A seta só pisca no lado direito se você segurar a alavanca. Porém, a gente sabe que em grande parte das cidades brasileiras a seta é considerada um acessório dispensável", ironiza.
Outro episódio do quadro Auto Pobre, que traz um Ford Escort 1985 sem maçanetas e com adesivo epóxi no motor, soma quase 2 milhões de espectadores na mesma plataforma, diz.
Nesse vídeo, o humorista tem de abrir a porta empurrando o vidro para baixo com as mãos.
"Eu fiz um curso com o proprietário. No Escort, a gente abre assim. Simples, rápido e seguro".
Em outro trecho, Gaipo mostra que o banco do motorista do Escort não tem regulagem. "Não precisa ter por que o carro não é meu. Então ele tem de ser regulado para quem? Para o dono e mais ninguém. Quem dirige o carro do trabalhador brasileiro é apenas aquele trabalhador brasileiro", conclui.
Stevan Gaipo relata como nasceu a ideia do Auto Pobre.
"Nunca foi de acompanhar vídeos automotivos no YouTube. Minha inspiração é mesmo o Auto Esporte. A ideia foi 'empobrecer' o formato do programa, mas sempre elogiando o carro. O brasileiro tem muito amor por seus carros", diz Stevan, humorista profissional desde os 21 anos.
'Pessoas se identificam'
O tema pobreza, aliás, é constante não apenas nos quadros do Auto Pobre, como também em outras postagens e nas esquetes que Gaipo promove nas suas apresentações de stand-up comedy - atualmente suspensas devido ao coronavírus.
Morador de Belo Horizonte (MG), o humorista conta que a inspiração para as piadas vem de experiências pessoais, pois ele mesmo sabe como é viver com grana curta.
"É uma verdade que a gente passa. Além dos carros, nas minhas postagens falo de experiências do dia a dia, pegando ônibus errado. Quando comecei a viver do humorismo, a grana era apertada".
Esse é o fator que tem atraído tanta audiência, avalia: "As pessoas se identificam. O cotidiano da vida da gente tem muitos perrengues, falta de dinheiro".
Stevan conta que bancou o início da carreira profissional com a rescisão paga por uma empresa de marketing digital da qual foi demitido.
"Deu errado no começo. Porém, desde o fim de 2018, os vídeos começaram a estourar e os shows, a encher. Hoje, meu principal rendimento vem da monetização desses vídeos, principalmente no Facebook, enquanto as apresentações estão paradas".
Ex-pobre?
Com a melhora nas condições de vida, Gaipo relata que é "fiscalizado" por seus seguidores e aproveita para fazer piada.
"Posto com videogame, TV e celular novos e já ficam dizendo que sou um 'ex-pobre'. Não existe 'ex-pobre'. Quem é forjado na pobreza pode ficar bilionário que não sai da vida da pessoa. Continua usando o chuveiro no modo verão durante o inverno para economizar com a conta de luz", brinca.
Stevan hoje é dono de um Volkswagen Fusca 1973 que não tem nada de gambiarra. Ele, que prefere andar de bicicleta ou utilizar transporte público em Belo Horizonte, usa o carro em viagens curtas, como nos deslocamentos da capital até Oliveira, sua cidade natal - onde ainda moram sua mãe e seus três irmãos.
Boa parte dos vídeos é feita em Oliveira, município com pouco mais de 40 mil habitantes localizado a cerca de 150 km da capital mineira.
"No interior, você tem mais facilidade para encontrar carro velho. São veículos de pessoas mais humildes, que usam o carro no dia a dia, para ir à roça, transportar mercadorias e animais".
Stevan diz que no início tinha de achar "na unha" os veículos do Auto Pobre, mas agora muita gente oferece seus automóveis para o quadro. Segundo Gaipo, a reação dos proprietários aos vídeos é boa, apesar do destaque dado aos defeitos e gambiarras dos veículos.
"O Tonho, dono do Escort, queria vendê-lo. Depois de participar do Auto Pobre, viu a quantidade de visualizações e passou a gostar mais do carro. Desistiu de passá-lo adiante e agora diz que pretende consertá-lo".
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