Limpeza dos bicos injetores: serviço vale a pena ou é 'empurrômetro'?
É comum, a cada revisão periódica do veículo, o cliente receber a oferta de limpeza dos bicos injetores, seja em concessionárias ou em oficinas independentes.
Para justificar o gasto, mecânicos argumentam que a remoção de sujeira acumulada pela queima do combustível evita obstruções no bico - capazes de causar funcionamento irregular do motor.
No entanto, esse serviço "adicional" na maioria das vezes é desnecessário, de acordo com engenheiro Erwin Franieck, mentor de tecnologia e inovação da SAE Brasil.
"Hoje não está prevista a limpeza de bicos injetores no plano de manutenção, ao menos nos manuais que eu já consultei. Desconheço montadoras que recomendam a prática ao atingir determinada quilometragem", afirma o especialista.
Franieck, que é dono de um carro com 130 mil km rodados, diz que nunca solicitou o serviço e até hoje nenhum dos veículos que já teve requereu a limpeza.
"Essa cultura da limpeza vem do tempo do tempo do carburador, quando era preciso remover o depósito de resíduos que se formava. Com a melhora na qualidade do combustível, o surgimento da injeção eletrônica e a evolução dessa tecnologia, a limpeza em intervalos regulares já não é obrigatória ", pontua.
Adeus, carburador
Erwin Franieck destaca que a chegada da injeção multiponto contribuiu para isso.
"No fim dos anos 1980, os primeiros carros equipados com injeção eletrônica tinham apenas um bico e apresentavam mais problemas de obstrução. Em 1997, quando a frota inteira de automóveis nacionais abandonou o carburador, adotando um injetor para cada cilindro, o sistema eletrônico ficou muito mais preciso", aponta.
Além disso, por volta dessa época a formulação do combustível nas refinarias foi padronizada e subiu de padrão, reduzindo a formação de resíduos resultantes da queima.
A adição de etanol à gasolina, que hoje é de 27%, e a popularização dos carros flex também ajudaram, esclarece - o álcool ajuda a dissolver eventuais sujeiras depositadas. Isso sem contar os aditivos presentes nos combustíveis, que também trabalham para manter os bicos e outros itens limpos.
Para o especialista, limpeza é recomendada apenas quando o motor apresenta falha de funcionamento comprovadamente causada por bico entupido.
"Tem de avaliar caso a caso. O sensor de oxigênio, a popular sonda lambda, pode identificar redução na vazão em um ou mais bicos injetores. Porém, o problema pode estar relacionado a outros componentes, como filtro obstruído e falha na bomba de combustível", explica.
Ele esclarece que fatores como combustível velho ou adulterado podem ser responsáveis pelo entupimento.
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