Topo

Limpeza dos bicos injetores: serviço vale a pena ou é 'empurrômetro'?

Limpeza dos bicos injetores é um serviço "adicional" comum em oficinas independentes e concessionárias, oferecido a cada revisão programada - Fabio Braga/Folhapress
Limpeza dos bicos injetores é um serviço 'adicional' comum em oficinas independentes e concessionárias, oferecido a cada revisão programada
Imagem: Fabio Braga/Folhapress

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

30/05/2020 04h00

É comum, a cada revisão periódica do veículo, o cliente receber a oferta de limpeza dos bicos injetores, seja em concessionárias ou em oficinas independentes.

Para justificar o gasto, mecânicos argumentam que a remoção de sujeira acumulada pela queima do combustível evita obstruções no bico - capazes de causar funcionamento irregular do motor.

No entanto, esse serviço "adicional" na maioria das vezes é desnecessário, de acordo com engenheiro Erwin Franieck, mentor de tecnologia e inovação da SAE Brasil.

"Hoje não está prevista a limpeza de bicos injetores no plano de manutenção, ao menos nos manuais que eu já consultei. Desconheço montadoras que recomendam a prática ao atingir determinada quilometragem", afirma o especialista.

Franieck, que é dono de um carro com 130 mil km rodados, diz que nunca solicitou o serviço e até hoje nenhum dos veículos que já teve requereu a limpeza.

"Essa cultura da limpeza vem do tempo do tempo do carburador, quando era preciso remover o depósito de resíduos que se formava. Com a melhora na qualidade do combustível, o surgimento da injeção eletrônica e a evolução dessa tecnologia, a limpeza em intervalos regulares já não é obrigatória ", pontua.

Adeus, carburador

Limpeza dos bicos injetores - Fabio Braga/Folhapress - Fabio Braga/Folhapress
Especialista informa que os planos de manutenção programada não preveem a limpeza
Imagem: Fabio Braga/Folhapress

Erwin Franieck destaca que a chegada da injeção multiponto contribuiu para isso.

"No fim dos anos 1980, os primeiros carros equipados com injeção eletrônica tinham apenas um bico e apresentavam mais problemas de obstrução. Em 1997, quando a frota inteira de automóveis nacionais abandonou o carburador, adotando um injetor para cada cilindro, o sistema eletrônico ficou muito mais preciso", aponta.

Além disso, por volta dessa época a formulação do combustível nas refinarias foi padronizada e subiu de padrão, reduzindo a formação de resíduos resultantes da queima.

A adição de etanol à gasolina, que hoje é de 27%, e a popularização dos carros flex também ajudaram, esclarece - o álcool ajuda a dissolver eventuais sujeiras depositadas. Isso sem contar os aditivos presentes nos combustíveis, que também trabalham para manter os bicos e outros itens limpos.

Para o especialista, limpeza é recomendada apenas quando o motor apresenta falha de funcionamento comprovadamente causada por bico entupido.

"Tem de avaliar caso a caso. O sensor de oxigênio, a popular sonda lambda, pode identificar redução na vazão em um ou mais bicos injetores. Porém, o problema pode estar relacionado a outros componentes, como filtro obstruído e falha na bomba de combustível", explica.

Ele esclarece que fatores como combustível velho ou adulterado podem ser responsáveis pelo entupimento.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Foi informado no sétimo parágrafo que toda a frota de automóveis fabricados no Brasil passou a adotar injeção eletrônica em 1987; o ano correto é 1997. A informação já foi corrigida.