Ferrari única no Brasil enferruja há 14 anos e não pode nem virar sucata
A única Ferrari Dino 208 GT4 1975 emplacada no Brasil está enferrujando no ABC Paulista desde 2006, quando foi apreendida pela Polícia Civil pelos crimes de importação ilegal e adulteração do chassi.
O esportivo italiano com pintura amarela apodrece a céu aberto em um pátio da Prefeitura de Santo André (SP), porém não pode ser vendido nem como sucata. Consulta dos respectivos Renavam e placa no site do Detran-SP mostra que o cupê tem restrição judicial.
A Prefeitura confirma que "até o momento" o veículo continua bloqueado, "não sendo possível a compra ou a venda do bem". Somente quando cessarem os impedimentos legais a rara Ferrari poderá ser leiloada - nem que seja apenas para aproveitar o metal remanescente.
Nas condições em que está, exibindo pintura desgastada e buracos de ferrugem por todos os lados, é difícil estimar seu valor.
Externamente, ela mantém as quatro rodas, mas já perdeu os retrovisores. UOL Carros teve acesso ao veículo para produzir as imagens que ilustram esta reportagem, porém não foi possível constatar se itens essenciais como motor e transmissão ainda permanecem no carro.
Fato é que, de acordo com a 12ª Vara Federal das Execuções Fiscais, onde o processo envolvendo a Ferrari encontra-se temporariamente suspenso, o carro já não se encontra mais em condições físicas e legais de garantir o pagamento da dívida com a Fazenda Nacional, por ter entrado no Brasil sem recolher impostos e taxas.
"Eventual prescrição não terá qualquer impacto sobre o veículo, uma vez que o bem não está mais vinculado a esse processo", esclarece o órgão.
"Não é possível ter certeza do que ocorrerá, pois esse veículo pode estar vinculado a outros processos de que não temos conhecimento", complementa a 12ª Vara Federal das Execuções Fiscais.
Segundo a Prefeitura de Santo André, estima-se que somente com diárias no pátio municipal a dívida já tenha ultrapassado os R$ 100 mil.
Para se ter ideia, uma Dino 208 GT4 vermelha em bom estado tem leilão marcado pela RM Sotheby's para o próximo dia 11, sem valor mínimo. A estimativa é de que seja vendida por um preço entre 40 mil euros e 50 mil euros (de R$ 237 mil a 296 mil no câmbio de sexta-feira).
Como a Dino foi apreendida
As circunstâncias nas quais a Ferrari foi apreendida e parou em um pátio para virar sucata não são muito claras.
Documentos recentes relativos ao processo na Justiça Federal apontam como réu o "espólio" de Ferry Lazar - indicando que ele já faleceu.
Não obtivemos acesso ao boletim de ocorrência lavrado em 2006, enquanto reportagens da época dão conta que em 2002 Lazar levou a Dino 208 GT4 azul para reparos em uma oficina. Ao retornar, o estabelecimento tinha fechado e o carro, desaparecido.
No ano seguinte, o romeno encontrou uma Ferrari idêntica à sua, porém com pintura amarela, em posse de um terceiro. Lazar apresentou denúncia à polícia e, durante as investigações, surgiu a suspeita de adulteração do veículo. Em 2006, ele foi apreendido.
Como é a Ferrari Dino 208 GT4
O nome Dino estreou nos carros de competição da marca no fim dos anos 1950, como homenagem a Alfredo, filho de Enzo Ferrari que morreu em 1956.
Em 1968, a Ferrari lançou a Dino 206 GT, primeiro carro de passeio a trazer a nomenclatura.
Era um modelo mais compacto e acessível, então o único equipado com motor 2.0 V6, instalado entre os eixos na traseira - pequeno para os padrões da marca.
O propulsor da primeira Dino, inclusive, era fabricado pela Fiat, o que levou muitos puristas a não considerá-la uma Ferrari legítima.
De fato, tratava-se do único carro da empresa de Maranello a não trazer o logotipo do cavalo empinado no capô. O panfleto publicitário da novidade, inclusive, reforçava essa imagem: "Compacta, brilhante, segura... Quase uma Ferrari".
A 208 GT4, lançada em 1975, trocou as linhas sinuosas desenhadas pela Pininfarina por um desenho mais reto, assinado pelo estúdio Bertone.
Foi concebida para o mercado italiano, portanto, é raro se se ver uma em outros países.
A 208 GT4 trazia uma versão compacta do motor V8 utilizado na Dino 308 GT4, com cilindrada reduzida de três para dois litros. Ambas foram as primeiras Ferraris com um V8 central - configuração utilizada até hoje, como na F8 Tributo, recém lançada no Brasil.
Quando nova, a Ferrari de Santo André rendia 172 cv de potência e a velocidade máxima era de 220 km/h. Sua cabine tinha quatro assentos.
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