Como Monza português custou 3 vezes mais para virar peça única no Brasil
O engenheiro Evandro Fraga, morador de Campinas (SP), é um apaixonado pelo Chevrolet Monza desde a infância. Já adulto, ele iniciou uma coleção do modelo, que fez sucesso na década de 1980 e chegou a ser o carro mais vendido do Brasil durante três anos consecutivos.
Fraga decidiu que sua coleção teria todas as variações de carroceria e as versões mais relevantes durante os 14 anos de produção no País. Dos sete exemplares que reuniu, um deles é o mais raro e não traz emblema da Chevrolet.
Trata-se de um Opel Ascona GL 1985 com carroceria hatch e quatro portas - configuração que nunca foi comercializada aqui. Para quem não sabe, o Monza brasileiro é um Ascona, rebatizado para nosso mercado.
Evandro Fraga conta que adquiriu o veículo europeu há cerca de três anos na cidade de Arouca, em Portugal, com o auxílio de um amigo que mora na Alemanha e tem cidadania portuguesa. Ao fechar a compra com a família do antigo proprietário, já falecido, ele não imaginava que o processo seria tão complicado, demorado e caro.
O seu carro, afirma, é o único existente no território brasileiro.
"Considerando toda a burocracia, tanto da parte de autoridades portuguesas quanto do governo brasileiro, foram 14 meses da compra até eu conseguir regularizar o veículo aqui", conta o colecionador.
Vale destacar que a importação só foi possível porque o Opel já tinha mais de 30 anos de fabricação quando chegou ao País.
Segundo Fraga, foram oito meses até a liberação para embarque de Portugal ao Brasil. Após a chegada do contêiner, em novembro de 2017, ele teve de encarar mais seis meses até que todos os trâmites fossem concluídos - o que incluiu desembaraço aduaneiro e cadastro do Ascona no Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Antes de o veículo sair de Portugal, Evandro teve de solicitar autorização do Ibama (Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), habilitar-se como importador pessoa física na Receita Federal e ingressar com pedido de licença de importação.
"Comecei todo o processo no Brasil, enquanto meu amigo tratou de encaminhar os trâmites necessários em Portugal. Foi um aprendizado, pois nunca tínhamos feito isso anteriormente".
Evandro Fraga não revela valores, mas diz que o Ascona foi barato para comprar. Por outro lado, o gasto com a importação, incluindo frete, correspondeu ao triplo do dinheiro investido apenas no veículo.
"Cerca de dois terços de tudo o que gastei, incluindo a aquisição do carro, foram de taxas e impostos", pontua.
Ruídos de comunicação
Os perrengues em solo português também não foram poucos.
Fraga conta que a ideia inicial era trazer o Opel da Alemanha, onde foi fabricado. Porém, por causa do idioma e do fato de seu amigo ser brasileiro com cidadania portuguesa, os dois optaram por comprar e trazer o hatch do país lusitano.
"Não aconteceu exatamente como eu esperava. Apesar de compartilharem o mesmo idioma, brasileiros e portugueses têm culturas muito diversas. Portugal também conta com muita burocracia, como aqui, mas o que mais atrasou o processo foram os ruídos de comunicação. Você dizia uma coisa e entendiam algo diferente".
Dentre as agruras no país europeu o engenheiro cita duas.
"Queria trazer algumas peças juntamente com o veículo. Além disso, após instalar rodas de liga leve e novos pneus, meu amigo deixou o conjunto original no porta-malas. Só que permitem exportar apenas o carro e os respectivos estepe e macaco. Esse detalhe travou o Ascona na aduana e o processo atrasou mais 15 dias".
Fraga lembra que teve de contratar mecânico para remover todos os fluidos do automóvel antes do embarque, além da bateria, por exigência das autoridades portuguesas. Isso incluiu combustível, todos os óleos lubrificantes e o líquido do sistema de arrefecimento.
Como é o Opel Ascona
Depois de finalmente colocar o veículo em condições legais de rodagem, Evandro conta que não realizou nenhum tipo de reforma.
O Ascona recebeu apenas a manutenção básica, com troca de correios, filtros e óleo, além de ganhar polimento na pintura.
Fraga também trocou os faróis de neblina por unidades amarelas, originais da Opel, e substituiu os piscas dianteiros por exemplares da Bosch, vendidos na Alemanha. As rodas de liga leve, instaladas ainda em Portugal, foram "emprestadas" de um Opel Manta.
Tirando esses detalhes, o proprietário relata que seu "Monza hatch 1985 de quatro portas português", hoje com pouco mais de 60 mil km rodados, é original.
Traz embaixo do capô motor 1.8 equipado com injeção eletrônica de combustível multiponto - que estrearia em carros da General Motors no Brasil apenas em 1990, com o Monza 500 EF.
Dotado de maior taxa de compressão se comparado ao 1.8 então utilizado pela GM no Brasil, o propulsor do Ascona rende 116 cv e é gerenciado pela transmissão manual de cinco marchas.
Evandro relata que o seu Ascona é da versão de entrada, mas traz interior mais refinado na comparação com o Monza SL e de nível semelhante ao da configuração SL/E, intermediária.
"O meu tem até teto solar. O acabamento é infinitamente superior ao do Monza, trazendo materiais de maior qualidade, incluindo o tecido dos bancos. Além disso, traz cintos de três pontos nos assentos traseiros e carpete no porta-malas. A suspensão é mais dura", diz.
O engenheiro também é dono de seis Monza: SL/E 1983 e S/R 1989, ambos com carroceria hatch; e os sedãs Classic 1987, SL/E 1988, 500 EF 1990 e Classic 1993, este já com o visual "tubarão" que marcou o fim da trajetória do modelo em nosso mercado.
"Vi um Monza pela primeira vez em 1984 e fiquei encantado com o visual que combina esportividade com um toque mais social. O Monza é um carro ainda negligenciado pelos colecionadores e seu valor de coleção é baixo. Não comprei para investimento, mas por paixão".
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