'Temos que nos educar e lutar', diz 1ª mulher vice-presidente da GM
Resumo da notícia
- Cargo de vice-presidente da GM só havia sido ocupado por homens antes de Marina
- Advogada de formação, executiva trabalhou na Mercedes-Benz antes de ir para GM
- Marina diz que papel da sociedade é lutar pela inclusão em todos os setores
A presença das mulheres na indústria automotiva ainda é muito pequena no mundo inteiro. Marina Willisch faz parte de um seleto grupo que infelizmente ainda é tratado como exceção.
Desde julho de 2019, ela é vice-presidente de Relações Governamentais e Comunicação da General Motors América do Sul.
Mais do que estar em posição de grande destaque, Marina é a primeira executiva a ocupar um posto que até então pertencia apenas a homens. Antes dela, Marcos Munhoz e José Pinheiro Neto exerceram a função.
Marina vê a decisão com naturalidade em uma empresa que é conhecida por respeitar a igualdade de gêneros e é comandada por uma mulher (Mary Barra) desde 2014.
"Além de ter uma CEO mulher, nós temos negros no comando e vários outros casos de inclusão, e não só racial, como de gênero e religião. Então sinto que na GM existe uma preocupação muito grande em relação a isso, inclusive em Detroit. Somos um 'pout-pourri', até por termos uma história de inclusão e diversidade", afirmou, em entrevista exclusiva a UOL Carros.
"Existe uma cultura dentro da GM na qual podemos falar o que pensamos e também devemos escutar. Além disso, a GM é uma empresa na qual os homens nos apoiam. Se bem que, a meu ver, a inclusão mais importante é a de pensamento, independente do nosso estereótipo. Então o mais importante é respeitar o outro".
Experiência enriquecedora
Formada em Direito Corporativo e Economia e com bacharel em Direito, a executiva ingressou na indústria automotiva em 2003, como trainee na Mercedes-Benz do Brasil. Lá ela permaneceu até 2013, quando virou diretora tributária na General Motors.
Embora admita ter entrado na indústria automotiva "por acaso", Marina diz que se encantou com a complexidade do setor.
"Uma coisa interessante é que o filho é seu. Dentro de uma montadora há pinceladas de todo o setor, dificilmente você vê só o começo, o meio ou o fim de um projeto. Então você participa de todos os processos, como a área de engenharia, que é um processo super complexo e envolve muita tecnologia. Aí chega na parte da montagem, você vê o primeiro carro sendo produzido e pode até sair dirigindo ele. Toda vez que vou descubro alguma coisa nova, então é algo enriquecedor para mim. É isso que gosto nessa indústria. Me sinto parte de um projeto importante para a sociedade".
Luta pela inclusão
Apesar de estar na área há quase duas décadas, Marina afirma que já passou por situações desconfortáveis, que ainda são comuns em uma indústria predominantemente masculina. Ela, porém, procura encarar os casos com bom humor.
"Não gosto de chamar de preconceito, acho que é um pouco de desconhecimento mesmo. Costumo levar isso numa boa e não ficar chateada. Se for algo negativo e você não sente, acredito que isso te afeta menos. Já houve situações em que eu participei de uma reunião na qual todos estavam perguntando onde estaria o 'Senhor Willisch'. Aí em um dado momento eu disse: 'ele já está aqui!'. Acho que eu mesmo devo cometer alguns preconceitos e temos que nos educar e lutar para combater isso, inclusive para incluir alguns tipos de minoria. Acredito que, se a gente fizer isso, e com muita leveza, vamos ser muito bem sucedidos", opina.
Sem prognóstico pós-Covid-19
Embora já tenha retomado as atividades nas fábricas de São Caetano do Sul (SP) e Gravataí (RS), a General Motors ainda não voltou totalmente ao trabalho presencial em várias áreas.
Marina sabe da importância de traçar o planejamento, mas afirma que ainda é cedo para realizar qualquer prognóstico.
"Participei de reuniões com empresas de outros setores e acho que todas estão pensando sobre como trabalhar depois da pandemia. A indústria (automotiva) está passando por um momento bastante difícil, somos um dos setores que mais estão sofrendo com a crise, depois do áereo e do turismo. Então vamos ter fases muito difíceis pela frente e muita apreensão em relação à retomada. No nosso caso (montadoras), acredito que não vai ser tão rápido porque vendemos um produto durável. As pessoas podem tomar a decisão de adiar a compra de um carro se estiverem sem emprego, por exemplo", conclui.
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